11 de março, de 2008 | 00:00
Motoristas vivem pesadelo
Contran exige avaliação da qualidade do sono em alguns casos
Fotos: Wôlmer Ezequiel
Para Oswaldo, custo do exame de polissonografia é pesado para o bolso dos motoristas
IPATINGA Os candidatos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH), nas categorias C (caminhão), D (ônibus) e E (carreta), inclusive os que irão renovar suas carteiras, estão vivendo um pesadelo. Eles têm como inevitável o pagamento de cerca de R$ 650 para realizar um teste de polissonografia, que detecta distúrbios de sono. A apreensão surgiu a partir da publicação da Resolução 267, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), veiculada no último dia 25 de fevereiro no Diário Oficial da União (DOU), que determina a obrigatoriedade do exame em alguns casos.A grande dúvida dos motoristas é se todos terão de fazer o exame e quem irá arcar com o custo do mesmo. Ouvi dizer que somos obrigados a fazer o teste e pagar por ele. Isso é inadmissível. Está havendo uma revolta geral entre os motoristas. O nosso custo de vida já é alto, como vamos pagar mais uma despesa absurda?”, protesta o motorista de caminhão Márcio de Arruda, 46 anos.O custo do exame de polissonografia será totalmente pago pelo cidadão. Mas, a julgar pelas informações da assessoria de imprensa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o exame será exigido apenas dos candidatos que apresentarem algum distúrbio do sono após avaliação médica pericial. A avaliação do distúrbio do sono será realizada juntamente como os demais testes de aptidão física e mental. A critério do médico perito, o candidato poderá ser aprovado temporariamente ou encaminhado para avaliação médica específica, realizando o exame de polissonografia”, esclarece a assessoria.Parâmetros Ainda segundo o Denatran, os candidatos às categorias C, D e E da CNH deverão ser avaliados em relação à Síndrome de Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS). Assim, serão verificados parâmetros objetivos como, por exemplo, hipertensão arterial sistêmica e classificação de Malampatti. E ainda parâmetros subjetivos que revelam a sonolência excessiva, medidos de acordo com a Escala de Sonolência de Epworth.Segundo o médico Sandro do Carmo de Carvalho, especialista em medicina do sono, que atende no Instituto de Medicina do Sono, no bairro Horto, em Ipatinga, o exame de polissonografia é realizado sempre à noite, com o paciente dormindo, com vários eletrodos ligados ao seu corpo. Se necessário, na seqüência, é realizada a polissonografia diurna, responsável por detectar se um paciente sofre ou não de sonolência excessiva. No geral, o exame detecta se a pessoa sofre de ronco, apnéia do sono, síndrome da perna inquieta, bruxismo (ranger dos dentes), insônia, entre outros”, explica o médico.Custo altoNo Brasil, atualmente, mais de 8 milhões de condutores possuem CNH categorias C, D ou E. Embora nem todos os candidatos a essas categorias, ou quem irá renová-las, tenham que passar pela polissonografia, o motorista de caminhão Oswaldo Batista Reis, 29 anos, que já renovou sua CNH, lamenta pelos colegas que terão de se submeter ao exame. Isso é mais uma invenção do governo para ganhar dinheiro nas nossas costas. Outra coisa, se o motorista estiver desempregado, como ele vai pagar esse exame de distúrbio de sono? Ele vai ficar sem carteira? Dei muita sorte de ter renovado a minha habilitação recentemente. Este valor de R$ 650 está fora da realidade de todos”, reclama o motorista.PrazoConforme o delegado João Xingó, coordenador da banca de exames de rua de Ipatinga, o Detran-MG ainda não deu orientações sobre a Resolução 267. Ele esclarece que há um prazo de 90 dias, a contar da sua publicação, para que a medida comece a vigorar na prática. Determinadas leis têm o chamado vacatio legis (lapso temporal entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor) e estipulam o período para serem aplicadas. É o caso da Resolução 267. Além disso, ela tem que ser amplamente divulgada, inclusive pela mídia, antes de começar a valer”, afirma o delegado.
Sandro do Carmo: sono traz direção perigosa
Má qualidade do sono é causa de acidentesSubmeter motoristas a exames de avaliação do sono é essencial para conter acidentes de trânsito. É o que defende o médico Sandro do Carmo de Carvalho, especialista em medicina do sono, que aprova a Resolução 267, que torna obrigatória a avaliação da qualidade do sono dos candidatos a motoristas das categorias C, D e E da CNH, medida extensiva às pessoas em busca da renovação do documento. Segundo o médico, estudos apontam que quem sofre de apnéia obstrutiva do sono (parada da respiração por mais de dez segundos, seguida de breve despertar), por exemplo, está propenso sete vezes mais a acidentes do que pessoas que não possuem esse distúrbio. Além disso, quem sofre esse tipo de apnéia tem 2,7 vezes a mais de chance de morrer de infarto”, informa Sandro do Carmo.Na opinião do médico, o governo é negligente ao divulgar apenas que a direção perigosa e o uso de álcool são as principais causas de acidentes. O governo omite a realidade de que os distúrbios do sono também são responsáveis por mortes no trânsito”, finaliza Sandro do Carmo.
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