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08 de março, de 2008 | 00:00

Encantamento pela dança

No Dia Internacional da Mulher, Zélia Olguin fala de seu pioneirismo na região

Wôlmer Ezequiel


Aos 84 anos, Zélia Olguin orgulha-se dos frutos
IPATINGA – Ela desbravou os caminhos da dança e, conseqüentemente, do crescimento dessa arte no Vale do Aço. Ao olhar para o passado, a professora de balé Zélia Olguin se orgulha dos frutos que está colhendo, entre eles a sucessão na carreira dentro da própria família. Aos 84 anos de idade, ela esbanja vitalidade e seus olhos brilham ao falar do ofício. Foi com muita emoção e alegria que Zélia Olguin recebeu a reportagem do DIÁRIO DO AÇO em sua casa, no bairro Horto, na manhã de ontem. Em uma conversa regada a lágrimas, recordações e sorrisos, ela falou de sua trajetória, de arte e da importância de prestar homenagens às mulheres. Paixão Quando assistiu pela primeira vez a um espetáculo de dança, Zélia Olguin tomou uma decisão: “Vou ser bailarina”. Segundo ela, as circunstâncias a levaram pelo caminho de lecionar balé. Ao tentar conter as insistentes lágrimas de emoção, Zélia Olguin fez uma apaixonada definição de dança. “A minha paixão pela dança começou com a vida... Tudo é dança. É só perceber ao nosso redor que tudo é dança. Acho que o homem já nasce com a dança. É só uma questão de desenvolver. Acho que se todas as pessoas dançassem, o mundo seria melhor. Teria menos brigas e desentendimentos. A dança para mim é perfeição, é sentimento, é tudo!”, declarou.Pioneira Foi em 14 de agosto de 1964 que Zélia Olguin inaugurou a dança na região. “Dizem que agosto é um mês de desgosto, mas para mim é um mês em que sempre acontecem coisas boas. Aqui encontrei um material maravilhoso, um grande manancial. A cidade é um celeiro de artistas, de talentos, e isso foi me entusiasmando cada vez mais. Parei de dar aula há quatro anos, mas estou sempre de olho vivo. E, se precisar, ainda dou aula, pelo menos para as minhas netas”, disse.Inicialmente, as aulas eram ministradas em clubes de Coronel Fabriciano e Timóteo. Em seguida, a Usiminas cedeu um prédio, localizado no bairro Santa Mônica, para criar a Academia Olguin, que funciona até hoje sob o comando da filha de Zélia, Salette Olguin. “Uma das pessoas mais importantes na minha carreira foi meu falecido marido. Ele me apoiava em tudo. Ainda bem que ele não era machão. Era uma pessoa maravilhosa”, recordou. Teatro Em agradecimento a tudo que a professora de balé fez pela arte na região, em 1994 o nome de Zélia Olguin passou a denominar o primeiro teatro da cidade. Ela conta que foi uma surpresa. “Foi a maior emoção da minha vida. Eu não sabia. Lá era uma igreja onde até já me apresentei. Soube que a Usiminas ia transformar aquilo em teatro, mas nunca sonhei que fosse com o meu nome. Acho isso estranho, mas fico orgulhosa e agradecida. Me convidaram para a inauguração e quando o Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas, mostrou o nome do teatro, só não caí de emoção porque estava sentada. Depois que o espaço foi criado, os artistas aumentaram a produção por terem lugar onde mostrar seu trabalho. Acho o teatro pequenininho e aconchegante”, relatou. Templo Ao falar da magia e imponência de um teatro, Zélia Olguin definiu o espaço como um templo. “Ir ao teatro é uma coisa maravilhosa, o teatro é um templo. As pessoas vão à igreja para rezar. No teatro, quando a coisa é boa, a pessoa deve ter respeito. Acho que não é certo gritar e esbravejar no teatro, por exemplo. Acredito que quanto mais teatro, mais o povo se educa. Acho que deveria ter um teatro em cada bairro, para as pessoas sentirem as coisas boas”, comentou.Evolução Zélia Olguin acompanhou a evolução das produções artísticas na cidade, e acredita que as coisas cresceram de maneira impressionante. “A evolução foi muito grande, principalmente depois da criação do Teatro do Usicultura. A produção artística virou uma coisa impressionante. Além disso, a região tem uma platéia maravilhosa”, avaliou. Para a pioneira, as coisas melhoraram muito para os artistas no que tange ao incentivo, mas ainda há muito que melhorar. “Hoje as coisas estão mais fáceis. Mas acho que os bailarinos deviam ter mais apoio, pois ganham muito pouco. O trabalho deles é um sacrifício porque o corpo inteiro trabalha até não poder mais”, afirmou. Inclusão artística Mesmo fora da sala de aula, Zélia Olguin disse que fica antenada em tudo que está acontecendo no mundo da dança. Um dos trabalhos dos quais ela mais se orgulha é o projeto que atende a cerca de 200 crianças com aulas gratuitas de balé, ministradas por sua filha Salette Olguin. “Acredito que ajudamos as crianças a se encontrarem, vale a pena incluir qualquer classe social. O que atrapalha o mundo é a exclusão, é isso que gera revolta”, defendeu.Salette, que segue os passos da mãe, vive uma rotina intensa de aulas e apresentações, mas a herança da paixão pela dança fala mais alto. “Quando tinha 11 anos, minha mãe teve problema de saúde e tive que assumir a academia de balé, Dali em diante não parei mais de dar aulas. A vida é muito corrida, mas não trocaria o balé por nada nesse mundo”, declarou.    Homenagem merecidaSobre a comemoração do Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, Zélia Olguin considera a data uma homenagem merecida. “A mulher merece homenagens todos os dias, todas as horas, porque não é fácil ser mulher. A responsabilidade é muito grande, seja em qual classe for”, disse. A mudança de comportamento da mulher com o passar dos tempos é vista por Zélia como uma necessidade. “A evolução é uma necessidade. A vida está tão louca, os homens estão completamente desatinados. Hoje em dia a sociedade só pensa em competição, em ganhar dinheiro. Um homem sozinho não pode sustentar uma casa. É muito bom. O pior é que às vezes a gente esquece dos filhos, de dar aconchego, o que é muito necessário”, opinou.Quando o assunto é idade, Zélia Olguin se diz orgulhosa de sua maturidade, mas admite que o tempo diminui a resistência. “Com o passar da idade, muda o estilo de vida. Por mais que a gente queira, a gente não se conforma porque nossa resistência e potencial mudam muito. Hoje as pessoas estão muito voltadas para o culto à beleza. Antigamente o pessoal nascia e morria. Hoje as pessoas querem ser mais do que Deus. Eu tenho orgulho de ter envelhecido”, ressaltou.Polliane Torres
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