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05 de março, de 2008 | 00:00

MG-760: buracos, costelas e animais

Patrol parada há um mês revolta usuários de estrada “asfaltada”

Fotos: Alex Ferreira


Máquina parada há um mês na MG-760 deixa motoristas indignados
MARLIÉRIA – O período de chuva intercalado com estiagem deixa em situação ainda mais precária a MG-760. Cortar os cerca de 50 quilômetros entre Timóteo e São José do Goiabal exige paciência, cuidado ao volante e ainda reservar um bom dinheiro para reparar os inevitáveis estragos no carro. Quem mora ao longo da estrada, no entanto, não tem outra saída senão enfrentar os transtornos da rodovia que, em alguns mapas, consta como “asfaltada” desde os anos 80. Na beira da MG-760 a reportagem encontrou uma população descrente, reflexo das inúmeras promessas em vão, e revoltada pelo abandono da rodovia, de responsabilidade estadual.O operador de ponte rolante aposentado, Sebastião Coelho de Moraes, 64 anos, nasceu em Santo Antônio da Mata. Proprietário de um estabelecimento comercial às margens da rodovia, passa os dias a contar os prejuízos com a estrada em frangalhos. “A gente vê o sofrimento no dia-a-dia, com ônibus quebrados, carros danificados, caminhoneiros com carretas atoladas na época chuvosa e estudantes que perdem a aula por não haver estrada. Entra ano, sai ano, é só promessa”, reclama. No momento em que se aproxima novo período eleitoral, o aposentado se diz desconfiado das promessas de pavimentação da estrada. Mas, enquanto não chega o asfalto, Tião Coelho defende que se faça pelo menos o conserto dos trechos mais críticos. “Uma patrol do DER ficou parada na porta de minha casa aqui em Santo Antônio durante um mês, sem explicações”, diz. Ainda no povoado, dois representantes comerciais de uma distribuidora de bebidas reclamavam dos riscos que enfrentam ao trafegar pela MG-760 uma vez por semana. Mauro Lúcio Magalhães afirma que, apesar dos cuidados que adota, já levou dois tombos na moto que usa para trabalhar, acrescentando que, a cada ano, piora a situação da estrada. “Esse asfalto da MG-760 é igual ao Lombardi, você só ouve falar, nas nunca o vê na realidade”, ironiza. Outro representante, Tely Rangel Fernandes Silva, conta que, no seu trabalho, circula há dois anos pela MG-760. “A gente sofre com as costelas, buracos, caminhões pesados, poeira. Perdemos com o atraso na viagem e nas mercadorias que estragam ao serem transportadas”, reclama.

Sebastião Coelho: máquina ficou parada mais de um mês em sua propriedade
Árvores atestam abandonoAo longo da MG-760, não bastassem os buracos e as ondulações (costelas) que transformam a viagem em uma experiência pra lá de desconfortável, os animais na pista são vistos com freqüência. Na prática, representam um risco a mais, porque frear de forma brusca sobre o cascalho em uma curva é uma manobra bastante arriscada.Um pouco mais à frente, logo após a encruzilhada para o Córrego dos Antunes, encontramos a patrol que, segundo Tião Coelho, ficou parada por mais de um mês em Santo Antônio da Mata. Estacionada ao lado da casa de José André de Castro há quase um mês, a máquina empoeira na mesma proporção em que aumentam os buracos. O comerciante José André não sabe explicar por que a Patrol do Departamento de Estradas se encontra parada na frente da sua casa. “O operador vem de vez em quando, funciona os motores sem sair do lugar e vai embora”, relata.Cansado de ouvir as reclamações dos motoristas por causa da precariedade da estrada, José André afirma que há esperança de que saia a pavimentação da MG-760. “Tem 22 anos que estamos esperando, né? Nos anos 80, durante o governo Newton Cardoso, foi feita a terraplenagem”. Enquanto fazia o relato, o comerciante apontava para o outro lado da rua, onde há uma carreira de árvores. “Foram plantadas quando fizeram a terraplenagem. Cresceram, deram flores e frutos, enquanto a estrada só rendeu buracos e prejuízos. Na época se falava em muito dinheiro para a obra, mas ficou só nisso”, resume, desapontado.DER à espera da estiagemEnquanto a reportagem permanecia na casa do Zé André, apareceu o proprietário rural em São José do Goiabal, Felipe Moraes Roque. Estava de passagem, vindo de Timóteo, e fez questão de parar para falar que a estrada é um pesadelo. “Sofrimento, prejuízo, mas precisamos trabalhar e para isso dependemos da estrada. É uma vergonha ver essa máquina parada aqui no Zé André, enquanto a estrada encontra-se nesse estado que vocês estão vendo. Pagamos imposto e, infelizmente, o resultado está aí”, protesta. Por coincidência, Felipe Moraes plantou uma das árvores em frente à casa do amigo José André. “Plantei essa árvore há 22 anos, quando a obra começou. Ela cresceu, mas nesse tempo faltou esforço para que o asfalto virasse realidade na MG-760”, observa. Em relação à reclamação dos moradores pela pavimentação, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Obras Públicas e Transportes, em Belo Horizonte, confirma que, até o momento, não há qualquer confirmação de recursos para o asfaltamento da MG-760.No Departamento de Estradas de Rodagens em Coronel Fabriciano, o coordenador regional, Nívio Pinto de Lima, disse ontem à tarde que, enquanto estiver chovendo, não há como passar a máquina na estrada. “Em estrada de terra só piora a situação. Nos resta esperar a estiagem”, completa. Enquanto isso, explica o engenheiro, os técnicos do DER fazem o acompanhamento diário da previsão do tempo, para iniciar serviços dentro de uma margem de segurança. “Precisamos de dois dias de sol e da certeza de que não vai chover depois do serviço”, explica. Quanto ao protesto pela patrol do DER, parada às margens da MG-760, o coordenador regional do Departamento nega que esteja abandonada. “Está guardada em frente a uma casa. Todo habitante de margem de rodovia é considerado nosso vizinho e é pedido que ajude a olhar o equipamento, que pode ser colocado em atividade a qualquer momento, quando o tempo permitir”, esclarece Nívio Pinto de Lima. Alex Ferreira
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