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24 de janeiro, de 2008 | 00:00

Aposentado contesta explicação ambiental

Casal atribui à poluição a desvalorização de imóvel no Quitandinha

Alex Ferreira


Estevão: chaminés tiram o sossego de aposentado
TIMÓTEO – Há 35 anos, quando se mudou para o número 34 da avenida Senador Milton Campos, no bairro Quitandinha, o agora aposentado Estevão Vianna não imaginava que teria de passar parte da vida a brigar contra uma inimiga que ele conhecia de perto, mas que ficava um pouco mais distante de sua casa. A poluição com a qual Estevão convive desde os anos 70 era bem menor, quando comprou o imóvel em que mora hoje. Há dez anos, aproximadamente, Estevão decidiu iniciar a jornada de reclamações de providências para eliminar a causa do seu sofrimento: a poluição que sai da área da Acesita, atual ArcelorMittal Inox Brasil, mas até agora não conseguiu resultados. “Nos anos 70, quando transferiu para essa área da cidade a laminação de silício e de inox, a empresa chegou a pagar aluguel para mim durante um ano e meio em outro bairro, tamanha era a poluição, mas voltei para cá e aqui estou até hoje. Tenho 70 anos, prestei serviços por três décadas à empresa e há 14 anos estou aposentado”, conta Estevão. Após anos de reclamações, em 16 de abril de 2007 o aposentado encaminhou mais uma correspondência ao presidente da siderúrgica, o francês Jean-Philippe Demaël, em que cobrava respostas de contatos anteriores. Na carta, Estevão afirmava ao executivo que conhece a França e que, naquele país, o povo não aceita imposições, muito menos processos poluentes como ocorre com a Acesita em Timóteo.
Alex Ferreira


Pó metálico se acumula por toda a casa do aposentado e desvaloriza imóvel
“Dentro de nossa insignificância, em nascer e viver em um país de terceiro mundo onde o povo fica feliz em receber migalhas do governo, exemplo típico do Bolsa Família, nós entendemos que os seres humanos, sem distinção, merecem muito mais que isso. Queremos a solução definitiva para os problemas citados, que não prejudicam só a nós, reclamantes, mas a toda a comunidade próxima à usina”, afirma o aposentado. Na conclusão da carta enviada em abril de 2007, Estevão ressalta que aguardava a compreensão e boa vontade da empresa na busca da solução da poluição.Sua decisão de denunciar o caso à imprensa, conta Estevão, foi tomada ainda no fim do ano passado. E foi motivada pela resposta em que a Superintendência de Meio Ambiente afirmava que todo o processo produtivo da ArcelorMittal Inox segue rígidos padrões de controle ambiental, regidos pela certificação ISO 14001. “Que órgão é esse que certifica uma empresa que polui desse jeito?”, questiona o aposentado. Denúncia na FeamEstevão e sua esposa, Maria Teodolina Fontes Vianna, têm uma lista de incômodos oriundos da área da siderúrgica. “A poluição sonora vem de ventiladores, sopradores, corte de chapas, apitos de locomotivas, sirenes, pontes e guindastes. São ruídos de alta intensidade, constantes 24 horas por dia, durante 365 dias por ano, sem trégua”, pontua.Além dos ruídos, outro transtorno para o casal Vianna é uma camada de pó preto, metálico e pesado, que cobre todas as dependências da casa. “Polui a piscina, os quartos, a cozinha e a garagem. Coletamos diversas amostras e até hoje não obtivemos respostas”, reclama Estevão. Na segunda-feira, quando recebeu a reportagem em sua casa para a entrevista, o aposentado mostrou, usando panos, o acúmulo de pó sobre móveis e os carros na garagem. Após 30 anos de investimentos, o casal também reclama da desvalorização do imóvel de 1.100 metros quadrados, incluindo casa, apartamento, piscina, sauna, garagem e horta, resultado de investimentos feitos desde 1973, quando chegou ao local. “Pelo que pesquisamos no mercado, um imóvel desse porte não valeria menos do que R$ 600 mil. Para evitar mais aborrecimentos, decidimos colocá-lo à venda, mas até agora só apareceram ofertas irrisórias, justamente por causa da poluição que chega até aqui”, explica o aposentado, que não descarta a idéia de voltar para sua terra natal, São Domingos do Prata, ou ainda para Ervália, terra de Teodolina.    Estevão afirma que já esteve nos Estados Unidos e em vários países da Europa, onde diz ter visto mais rigor na fiscalização ambiental e menos impactos ambientais produzidos pelas empresas. “As cidades que sediam empresas como a Acesita são bem menos poluídas do que Timóteo, tenha certeza”, afirma. O aposentado também já formalizou denúncia junto à Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), órgão do governo mineiro responsável pela liberação de licenças ambientais. Sua denúncia tramita desde 4 de setembro de 2007, sem conclusão até agora, segundo informação do próprio órgão.  Outro lado Ainda na segunda-feira, ao sair da casa do aposentado Estevão Viana, a reportagem procurou a Gerência de Comunicação da siderúrgica em Timóteo, para que a sua versão no caso fosse apresentada, por meio de entrevista ou nota. A resposta foi enviada ontem por meio de correio eletrônico. A nota diz o seguinte: “A ArcelorMittal Inox Brasil (ex-Acesita) manifesta formalmente que, nos projetos implantados, utiliza as mais modernas tecnologias ambientais e desenvolve monitoramento e controles ambientais períodicos, procedimentos estes que asseguram que a Empresa atue em total observância às normas ambientais. Por estes procedimentos e resultados ambientais, a Empresa é certificada na norma ambiental internacional ISO 14001, desde 2001”.Alex Ferreira
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