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10 de janeiro, de 2008 | 00:00

Espera até debaixo de chuva

Pais e estudantes se revezam na fila para conseguir vaga na João XXIII

Alex Ferreira


Acampados em barracas ou sobre colchões, pais e alunos esperam vaga em escola do bairro Iguaçu
IPATINGA – A cena é a mesma verificada nos anos anteriores. Pais e alunos sentados, em pé, a ler uma revista, jogar cartas ou a ouvir música em um fone de ouvido, matam o tempo enquanto aguardam a data da matrícula na Escola Estadual João XXIII, no bairro Iguaçu, uma das mais procuradas para o ensino médio em Ipatinga. Ontem, terceiro dia da fila, os pais que tomaram chuva na noite anterior protestavam contra o sistema de matrícula que vigora há muitos anos. Para conseguir vaga na escola João XXIII, é preciso pegar fila, esperar e sofrer muito. A vendedora Rita de Cássia conta que deixou o serviço para ficar na fila à espera de uma vaga para a filha, que vai fazer o primeiro ano do ensino médio. Recém-chegada ao bairro Iguaçu, tem esperança de conseguir a vaga nesta quinta-feira, data da matrícula. Já a estudante Aline Marques está mais tranqüila, porque a disputa é menor para o segundo ano, que ela pretende cursar na João XXIII. “Mas se eu sair da fila, perco o direito. Então, preciso ficar aqui dia e noite”, diz. Na mesma situação, Poliana do Carmo Jacob, 17 anos, também espera conseguir uma vaga no segundo ano. Morador do bairro Vila Ipanema, Wagner Campagnani luta por uma vaga para sua filha no primeiro ano do ensino médio e já sabe que, na abertura da matrícula, prevista para as 8h da manhã desta quinta-feira, não será fácil conseguir isso, mesmo após ficar na fila por três dias. “A chuva da noite de terça para quarta castigou a gente aqui. Meu colchão molhou todo, mas resistimos”, pontua.
Bruno Jackson


Geraldo: lista e distribuição de senhas para manter a ordem
ProtestoAs estudantes Larissa de Castro Rodrigues e Karina Gonçalves Chaves Lima observavam, atentas, do outro lado da rua, a movimentação na fila que elas enfrentam desde segunda-feira. Durante o dia coube a elas “vigiar” o lugar. À noite, os pais é que vão para a fila. “Menor de 18 anos não pode ficar na fila à noite”, explica Larissa. A sua colega, Karina, afirma que deveria haver outro esquema de matrícula para evitar o tumulto que se forma todos os anos na porta da escola. “É um esforço por uma boa causa, mas a fila é desumana”, resume a estudante. Mãe de aluno, Sônia Maria do Carmo, do Veneza I, afirma que a fila para matrícula é uma falta de respeito humano. “Veja como estão os colchões de quem estava na fila e tomou chuva. A escola, embora seja um patrimônio público, ficou fechada e as pessoas sofreram aqui fora. Esse sistema precisa ser mudado”. O protesto da mãe é acompanhado por Irani Rosa Rodrigues Souza: “É um desrespeito, falta de humanidade com o povo que precisa da escola pública”.Hoje, às 8h, os portões da escola João XXIII serão abertos para a matrícula, mas nem quem estava na fila ontem à tarde tinha certeza de que vai conseguir a esperada vaga.
Alex Ferreira


Karina Gonçalves Chaves e Larissa esperam vaga, enquanto a amiga dá apoio
OrganizaçãoMorador do bairro Veneza II, Geraldo Paulo de Melo está em busca de uma vaga no primeiro ano para seu filho. De posse de uma prancheta, tenta organizar a fila de espera sem tumultos. “Resolvemos organizar essa fila porque se esperássemos o dia 10, data da matrícula, não conseguiríamos as vagas. De seis em seis horas é distribuída uma senha. Quem não fica na fila, perde o direito”, explica.Geraldo conta que o tempo todo mais pessoas aparecem em busca de informações sobre a matrícula, e é preciso repetir que são apenas 60 vagas para o primeiro ano do ensino médio. A estimativa, por meio da lista que tinha em mãos, era que, de um total de 120 senhas distribuídas até ontem à tarde, pelo menos 90 pessoas estavam em busca de vaga para o primeiro ano. “Eu também estou em busca de vaga e apenas contribuo com o processo. A maioria das pessoas entende, e outras não”, reclama. Discordância é o que não falta. O pai de aluna Welington Fonseca Santos, por exemplo, disse que não foi informado pela diretoria da escola sobre a distribuição de senhas. “Telefonei para a escola na segunda-feira passada e não me informaram sobre isso. Agora vejo essa fila enorme e essa história de senhas. Temo que não consiga a vaga para minha filha”, diz Welington. Alex Ferreira
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