24 de outubro, de 2007 | 00:00

“Ditadura da ignorância”

Unificação da língua portuguesa é um atraso, diz professor Pasquale

Roberto Bertozi


“Nossa língua tem relação com o português falado em Portugal na época do descobrimento”, diz Pasquale
IPATINGA - Terceira língua mais falada no continente americano (atrás do inglês e do espanhol) e um dos idiomas mais populares no planeta, o português vive uma crise de identidade. “O Brasil é um país doente, enfermo, onde a ignorância tem lugar e os falsos libertários aparecem criticando aquilo que eles chamam de sistema”, diz o professor, consultor e articulista Pasquale Cipro Neto. Ele esteve na manhã de ontem na Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), em Ipatinga, onde proferiu palestra sobre adequações gramaticais e normas de português para alunos de escolas visitantes da Mostra e da universidade.O apresentador do programa “Nossa Língua Portuguesa”, levado ao ar pela TV Cultura, diz que no Brasil, infelizmente, impera a ditadura da ignorância, ‘do nada’. As pessoas cultas e que falam bem a língua portuguesa são vistas como exibidos e presunçosos. “Essas pessoas, esses lingüistas, que entendem nada sobre a vida, acreditam que os bons falantes são falsos. Isso é devido a uma cultura subdesenvolvida que ainda existe no Brasil e que inviabiliza qualquer crescimento”, critica Pasquale.A unificação da língua (Brasil, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique falam português) não conta com a aprovação de Pasquale Cipro Neto. O professor entende que o idioma está ligado a questões culturais. “A unificação gráfica pode acontecer, mas da forma de falar é impossível. Mesmo assim não sou a favor, porque acho difícil fazer uma reforma de uma língua que já está aí há tanto tempo. A grafia é algo que faz parte da nossa vida”, ressalta.Em relação ao fato de a língua portuguesa ter duas grafias e isso atrapalhar que estrangeiros aprendam o idioma com mais facilidade, o professor acredita que, nesse caso, uma mudança de grafia seria benéfica. No entanto, em relação aos países de língua oficial portuguesa, tal modificação só acarretaria prejuízos. “Por um lado, haveria ganho por parte das editoras de gramática. Não vejo nada de interessante nessa possível unificação”, reforça. Atualmente são apontadas mais de 40 alterações na gramática portuguesa como, por exemplo, erva e úmido e não herva e húmido, como escrito em Portugal. Desaparecem da língua escrita, em Portugal, o “c” e o “p” nas palavras onde não são pronunciados. Exemplos: acção, acto, adopção, baptismo, óptimo, facto. No Brasil, caem os circunflexos das paroxítonas terminadas em “o”, como abençôo e enjôo. Desaparece também o trema.DiferençasProfessor desde 1975, filho de imigrantes italianos, Pasquale diz que existe uma boa relação entre os gramáticos portugueses e brasileiros. “Vou sempre a Portugal e sempre verifico esse respeito mútuo”, revela. No que diz respeito às diferentes formas de se pronunciar o idioma, principalmente entre o português falado no Brasil em relação aos outros países, o consultor acredita que as diferenças ocorrem por uma série de fatores.“Nossas influências são várias e a dos portugueses, por exemplo, também o são. As diferentes etnias que colonizaram terras brasileiras modificaram a estrutura de nossa língua, por isso a diferença de sotaque e entonação. Portugal, como defendem alguns gramáticos, sofreu grande influência dos franceses. Tudo isso, ao longo dos anos, modifica a forma de se falar”, explica Cipro Neto.Professores perdidos e sociedade indiferentePasquale Cipro Neto acredita que os professores não devem trabalhar em sala de aula apenas a gramática pura como forma de se chegar ao conhecimento. “Mesmo assim não a devem deixar de lado”, diz. Para o consultor, que escreve artigos semanalmente na “Folha de S. Paulo”, é necessário ampliar os discursos sobre a língua portuguesa como forma de ampliar o estudo do idioma.“Essa indefinição deixa os professores meio perdidos, sem saber o que fazer e às vezes até sem o que ensinar. Com isso, os alunos seguem sem saber muita coisa e a sociedade continua produzindo analfabetos, muitas vezes com diploma universitário”, reforça Cipro Neto.Como solução para o problema, Pasquale aponta um maior acompanhamento dos pais e o incentivo do hábito de colocar os filhos em contato com os livros. “Devemos privilegiar o texto. Importante também os meios de comunicação melhorar a cobertura e escrever textos com mais qualidade. A TV não pode ser apenas para distrair, da mesma forma que não pode ser vista apenas como um cabide de entretenimento”, argumenta.Roberto Bertozi
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