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21 de outubro, de 2007 | 00:00

Efeitos do crescimento urbano

Bairros onde moradores votam em outra comarca ficam no prejuízo

Fotos: Wôlmer Ezequiel


Industrial: falta representatividade política e a infra-estrutura é precária
SANTANA DO PARAÍSO - O fato de ter grande parte da população vinculada à vida política de outras cidades deixa em situação de desvantagem vários bairros incrustados no entorno de Ipatinga. No decorrer da semana uma reportagem do DIÁRIO DO AÇO mostrou que o Censo 2007 do IBGE aponta que, em Santana do Paraíso, há 22.807 habitantes. Deste total, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TRE), 11.942 são eleitores, o que representa 52,4% da população. O índice está abaixo da média estadual, que é de 77%.A explicação do quadro pode ser encontrada nos bairros Cidade Nova, encostado no bairro Veneza II, Parque Caravelas, vizinho ao Caravelas, e Industrial, que faz divisa com o Vagalume. Nestes bairros, formados nos dez anos anteriores como resultado do vertiginoso processo de crescimento urbano de Ipatinga, moradores engrossam a estatística populacional de municípios vizinhos, mas a maioria mantém o domicílio eleitoral nas suas cidades de origem, onde geralmente exercem as suas atividades profissionais. De certa forma, é a repetição da conhecida situação das cidades-dormitório.

Marco Antônio: “como você vai exigir se nem vota no lugar onde mora?”
População admite prejuízosMorador da avenida Minas Gerais, no bairro Industrial, em Santana do Paraíso, o metalúrgico Marco Antônio Dias Torres está alistado entre os eleitores de Santana do Paraíso. No bairro não há estatística fechada, mas acredita-se que a metade vote em Ipatinga. No entendimento de Marco, o fato de muitos moradores manterem vínculo eleitoral com suas cidades de origem, em especial Ipatinga, preocupa porque enfraquece o sistema eleitoral do município e colabora para manter o monopólio eleitoral de candidatos da sede. “O bairro tem poucos eleitores, não consegue eleger representantes e, com isso, não consegue benefícios”, argumenta. Segundo Marco Antônio, o Industrial é um dos bairros mais pobres do Vale do Aço. “Aqui falta tudo. O mais urgente é a infra-estrutura urbana precária”, destaca. Para mudar o quadro, o morador do Industrial defende a formação de uma consciência por parte dos moradores. “As pessoas deviam transferir o título para a cidade responsável pelas decisões político-administrativas dos bairros onde residem”, afirma. “Você tem que se eleitor no município onde você mora. Como cobrar melhorias se você nem vota no lugar onde mora? Se você não participa da vida política, de uma associação comunitária ou esportiva? Não pode ser assim”, completa Marco Antônio. Já a comerciante Auzeni Aparecida Almeida mora há 12 anos no bairro Industrial, mas mantém seu título cadastrado em Ipaba. “Aqui eu não voto. Estou decepcionada com os políticos daqui. Nem me fale em transferir o meu título. Semana passada expulsei daqui um rapaz que veio pedir votos para a eleição do ano que vem. Eles não fazem nada pelo Industrial e, portanto, não voto neles”, disparou a comerciante. No bairro Parque Caravelas, que tem seu loteamento já quase todo ocupado, o pedreiro Edcarlos Bicalho é outro exemplo de morador que está na estatística populacional do município, mas não é eleitor em Paraíso. Edcarlos conta que mantém seu título em Ipatinga, porque facilita na hora de votar. “Nas próximas eleições eles devem providenciar pelo menos uma urna aqui no bairro. Caso contrário, o eleitor precisará se deslocar até Santana do Paraíso para votar. Sem contar que mudar o título dependeria de uma ida até Mesquita, a sede da comarca. Eu fico desanimado em ir a Mesquita só pra mudar o título de eleitor. Sem contar que trabalho o dia todo e não tenho tempo”, justifica.

Mercúrio: sem representatividade eleitoral as políticas públicas ficam mais distantes
Política pública distantePara o presidente da Associação de Moradores do Bairro Cidade Nova, Altair Mercúrio, o fato de a maioria dos moradores ainda ser eleitora em outra cidade cria uma situação altamente negativa. Segundo Mercúrio, no mês passado tratou do assunto em conversa com representantes da Câmara Municipal de Santana do Paraíso e, na semana anterior, conversou também com lideranças políticas de Ipatinga. “No meu entendimento, a administração municipal de Ipatinga tem obrigação moral de ajudar os bairros vizinhos que pertencem a Santana do Paraíso, mas cuja população está integralmente ligada a Ipatinga, embora juridicamente haja alguns entraves a superar. Veja o caso do bairro Cidade Nova, onde há também as Chácaras do Vale. A população aqui já soma 4 mil moradores, mas deste total apenas 157 votam em Santana do Paraíso”, exemplifica.Segundo Mercúrio, a maioria dos quatro mil moradores trabalha, consome, passeia, faz compras e vota em Ipatinga, mas quando volta para a casa, no Cidade Nova, quer médico, asfalto, rede de esgoto, água, coleta de lixo, escola, coleta de entulhos e combate a dengue, que são serviços resultantes de políticas públicas de Santana do Paraíso. “Estamos diante de uma discrepância que precisa ser corrigida. Como a população pode cobrar dos governantes quando se omite e sequer participa do processo de escolha?”, questiona.O presidente da Associação de Moradores do Cidade Nova conta que, recentemente, foi promovida uma festa e, na oportunidade, disponibilizado um posto da Justiça Eleitoral para facilitar a transferência do domicílio eleitoral. “No entanto, pouco mais de 100 eleitores tomaram essa providência. Esse também foi o limite de senhas distribuídas pelos funcionários do Cartório Eleitoral”, diz o presidente. A falta de interesse na troca do domicílio é visível porque, segundo conta Mercúrio, recentemente havia disponibilidade de um ônibus para levar os eleitores a Mesquita, onde fica a sede da comarca eleitoral. No entanto, apenas 14 pessoas embarcaram. Com um baixo número de eleitores, o bairro Cidade Nova sequer tinha uma seção de votação. Agora, com expectativa de superar 200 votantes no próximo pleito, moradores esperam contar com um local de votação. Caso contrário os poucos votantes precisarão ir até o bairro Industrial ou ao centro do Paraíso para dar o voto em outubro do ano que vem.Hoje, quem quer votar em Santana do Paraíso precisa ir ao cartório que fica na sede da comarca, em Mesquita. “Pela distância, a verdade é que ninguém vai viajar para fazer isso. Portanto, pensamos em promover novo evento com oportunidade para a transferência dos eleitores”, explica Mercúrio.Em relação à questão da baixa representatividade eleitoral, Altair Mercúrio explica que, nos anos anteriores, pelo reduzido número de eleitores, candidatos a prefeito e a vereador no Paraíso mal se interessaram em ir ao bairro. “Esse desinteresse reflete direto na política pública. Se tivéssemos dois mil, três mil eleitores, mudaríamos o jogo em relação às reivindicações, porque com 350 a 400 votos se elege, por exemplo, um vereador em Santana do Paraíso”.Alex Ferreira
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