18 de outubro, de 2007 | 00:00

Agricultura urbana é alternativa

Solidariedade e boa vontade ajudam moradores de bairros carentes

Roberto Sôlha


Maria de Lourdes mostra a pequena horta no quintal de casa; dificuldades financeiras trazem incerteza
IPATINGA - Apesar dos avanços do governo no sentido de assegurar fontes de produção e distribuição de alimentos para a população carente, é considerável o número de pessoas que travam uma luta diária em busca de alimentos e meios para se sustentar. Na comunidade do Nova Esperança não são raros os casos de famílias carentes que tiram da boa vontade e da solidariedade dos vizinhos a fonte maior de sua sobrevivência. Impossibilitada de trabalhar por causa de problemas de saúde, a dona-de-casa Maria de Lourdes Carvalho, 56 anos, exemplifica a realidade de muitos cidadãos que vivem nas partes altas do bairro. Mãe de três filhos, Lourdes mora na rua Um e conta que, freqüentemente, precisa cortar gastos com a alimentação para pagar o aluguel do imóvel. “Tenho uma moça de 19 anos e dois rapazes, de 20 e 25 anos. Graças a Deus, os meus filhos sempre arrumam emprego e conseguem ajudar nas despesas, mas no passado chegamos a passar necessidade. Hoje a nossa situação melhorou um pouco, mas quando eles não conseguem um ‘bico’ a gente luta com dificuldade e conta com a ajuda da comunidade para não passar fome”, conta Maria de Lourdes, que paga R$ 120 de aluguel e cerca de R$ 100 em contas de água e luz. Ela também lamenta que, apesar de muito empenho, não conseguiu a aposentadoria pelo INSS. Através do incentivo e apoio técnico da Emater, Lourdes plantou uma pequena horta no quintal de sua casa. Conforme o engenheiro agrônomo da Emater, José Luiz Freitas, a região do Nova Esperança está entre os bairros com potencial para desenvolver a agricultura urbana. “Mas é uma atividade que não surge do nada. A gente precisa apoiar e incentivar ao máximo para que dê resultados positivos para a comunidade”, diz Freitas. Na sua pequena horta, Lourdes já colhe alface e tomate. No entanto, a dona-de-casa admite que não se dedica muito ao cultivo, receosa de não ter condições de pagar o aluguel da casa e correr o risco de mudar-se para outro lugar. “Se essa casa fosse minha, certamente daria mais atenção à horta, e sei das vantagens que ela traria à minha família. Mas a gente vai vivendo do jeito que dá. O importante é estarmos vivos”, diz.Perfil de exclusãoNa semana em que se comemora o Dia Internacional da Alimentação, as dificuldades enfrentadas por Maria de Lourdes ilustram um contexto tipicamente brasileiro. A exclusão social é uma realidade em qualquer município e em Ipatinga não poderia ser diferente. “Graças aos meus vizinhos e à comunidade em geral, o pior não acontece”, conta Maria de Lourdes, informando que os moradores do bairro sempre ajudam com pequenas doações de alimentos. Próximo à casa dela, mora a desempregada Valdeni Marcelina de Souza, de 36 anos, mãe de quatro filhos. Ela contava com o Bolsa-Família para o sustento da casa, mas como dois de seus filhos pararam de estudar, a mesada foi suspensa. Valdeni se vira com doações esparsas do ex-marido e com a colaboração da própria comunidade do Nova Esperança. Numa rua próxima às residências de Maria de Lourdes e Valdeni, outra dona-de-casa passa por sérias dificuldades. A desempregada Jussara Maria da Costa Lucas, 31, mora com a filha e se prepara para cuidar dos outros dois filhos que estão prestes a nascer. Grávida de gêmeos, Jussara conta que veio de Governador Valadares para trabalhar como diarista em Ipatinga e mora há mais de 10 anos no Nova Esperança. A exemplo de Maria de Lourdes Carvalho, Jussara recebe pouco mais de R$ 50 mensais do Bolsa-Família e sempre criou a família com uma série de limitações. “Felizmente hoje eu não passo fome por causa da solidariedade dos meus vizinhos e da ajuda da igreja. O pessoal do bairro se ajuda muito e, não fosse assim, teríamos muitos moradores realmente passando fome”, finaliza.
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