25 de setembro, de 2007 | 00:00

Polícia explica cuidados básicos

Coleta desonesta de doações é prejudicial a entidades assistenciais

Wôlmer Ezequiel


Os estelionatários inibem a iniciativa de novos contribuintes; entidades dizem que doações são essenciais
IPATINGA - A boa vontade em contribuir com as entidades e creches que prestam assistência a pessoas carentes ou protadores de enfermidades vem sendo aproveitada por estelionatários para coletar dinheiro de maneira desonesta. Conforme o delegado Francisco Pereira Lemos, é crescente o número de contraventores que usam o nome de entidades tradicionais da região para arrecadar ajuda nas residências do Vale do Aço. Para se ter idéia do campo de atuação de malfeitores, somente em Ipatinga há 57 grupos, núcleos e associações trabalhando em torno de causas sociais. Muitas destas entidades são mantidas através da ajuda da Administração Municipal e de doações em dinheiro da própria comunidade. “As doações são feitas de diversas formas, desde depósito em conta corrente e coleta na própria casa do contribuinte. Infelizmente, por falta de informação, muitas pessoas vêm sendo vítimas da ação de espertalhões que se fazem passar por membros das entidades e praticam diversos tipos de crimes, aproveitando a solidariedade da população”, adverte Lemos. Segundo o policial, em Fabriciano e Timóteo o número de queixas e ocorrências contra esse tipo de fraude é registrado mensalmente pela polícia. DificuldadeO tenente-coronel Sebastião Siqueira, comandante do 14º Batalhão, reconhece que é difícil lidar com esse tipo de contraventor. É que muitas vezes a vítima não tem consciência de que suas doações vão cair em mãos erradas. “Além disso, as circunstâncias acabam ajudando a encobrir a ação desses criminosos. Eles passam na casa do contribuinte, arrecadam uma quantia e somem. Raramente o doador anota a placa da moto e, sem informações, o trabalho para localizar esses bandidos é mais complicado”, explica Siqueira. Os estelionatários acabam dificultando a iniciativa de novos doadores, que ficam desconfiados e sem saber em qual entidade confiar, segundo conta Moisés Correia, coordenador do Grupo de Apoio ao Soropositivo (Gasp). Correia conta que, nos últimos dois anos, a entidade tem sido vítima dos estelionatários com mais freqüência. “Já fomos informados pela polícia de pessoas que percorrem vários bairros da cidade, chegam até as residências e dizem aos moradores que são soropositivos. Muitos ficam sensibilizados e às vezes as convidam para entrar em suas casas. Enquanto elas vão buscar o dinheiro para fazer a doação, o criminoso aproveita para roubar o que estiver pela frente e foge”, adverte Moisés, informando que a polícia lhe relatou várias situações semelhantes ocorridas este ano em Timóteo.
Fotos: Roberto Sôlha


Márcia informa que doações não cobrem todos os gastos
Doador deve verificar procedênciaPara se precaver contra os falsos recolhedores de doação, é preciso se atentar a vários detalhes. Conforme o delegado Francisco Lemos, o primeiro passo é anotar o nome do recolhedor e verificar com a entidade se ele está cadastrado para o serviço. “Checar a procedência da entidade solicitante também pode ser útil. As secretarias de ação social podem informar se determinada associação está cadastrada na prefeitura. Após a doação, o contribuinte também deve exigir um recibo, em papel timbrado, e constando o número de CNPJ da entidade”, informa Lemos. Os critérios para arrecadação variam de acordo com a entidade. Em Ipatinga, cerca de sete instituições trabalham com o sistema de recolhimento residencial, utilizando os serviços de motoqueiros que vão às residências. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) trabalha com esse sistema desde 1998, quando criou um serviço de tele-marketing para arrecadar doações revertidas em benefício de toda parte funcional da instituição, como pagamentos de funcionários, aluguel de estabelecimentos e despesas das pessoas que freqüentam o local. Segundo a supervisora da Tele-Apae, Márcia Valeriano, o sistema só apresentou crescimento nos dois primeiros anos, mas se estabilizou após o ano de 2000. “É como se 10 pessoas começassem a ajudar, mas outras 10 pessoas desistissem de colaborar”, explica a supervisora, informando que as doações não são suficientes para cobrir todos os gastos e sustentar 340 pessoas que freqüentam a Apae. Antes as doações eram feitas “boca a boca”, as pessoas pagavam quantias através de carnês. Atualmente a Apae conta com outros meios que ajudam na arrecadação de fundos para a instituição, o Faixa Azul, o bilhete de entrada para a feira de automóveis e para a feira do hortifruti do Ipatingão, além de convênios com a administração de Ipatinga e o governo federal. “Mesmo assim esses recursos são insuficientes para manter a instituição funcionando de maneira totalmente autônoma, por isso o apoio da população é fundamental”, explica Márcia. A supervisora alerta que o tele-marketing da Apae pergunta para os colaboradores somente nome, telefone, endereço e data de nascimento - os números de documentos mais confidenciais, como cartão de crédito, CPF e identidade não são solicitados. “Além disso, os ‘mensageiros’ que recolhem as doações trabalham uniformizados, usando  camisa azul com o emblema da Apae e o crachá de identificação. “É sempre bom conhecer a instituição para qual você está fazendo a doação, para que não haja engano. A Apae está sempre de portas abertas para receber visitas, e mostrar os resultados das colaborações”, completa Márcia Valeriano, informando que os interessados em contribuir com a entidade podem entrar em contato pelo telefone 3822-3502.

Moisés: “queremos que o Gasp seja auto-sustentável”
Gasp aposta na fábrica de camisasPor sua vez, o Gasp trabalha com doações feitas através das palestras e eventos que envolvem a participação da entidade. “O Gasp não pede dinheiro nas ruas - exceto em campanhas previamente divulgadas pela imprensa, em que vendemos camisas e outros produtos com a marca do grupo. Atualmente, as doações feitas por pessoas físicas são quase ínfimas e estamos nos preparando para instalar um serviço de tele-marketing. Ele já está em fase de teste e, infelizmente, notamos certa desconfiança na população - acreditamos que esse receio tenha a ver justamente com a crescente ação dos estelionatários”, diz Moisés, coordenador do Gasp. Segundo ele, mesmo com a transparência adotada pelo grupo, que anualmente publica em seu balanço patrimonial os valores que a entidade arrecadou através de doações de pessoas físicas, a instituição trabalha para deixar de depender de doações. “Queremos que o Gasp seja auto-sustentável e extraia seu sustento através da nossa fábrica de camisas. Se dependermos somente das doações, o nosso futuro será incerto”, finaliza Moisés, informando que as contribuições em dinheiro de pessoas físicas e jurídicas representam somente 10% das arrecadações do Gasp - o restante advém da administração municipal e governo estadual.Roberto Sôlha
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