23 de setembro, de 2007 | 00:00

Ensino superior aquecido

Faculdades investem em novos cursos para estabelecer diferencial

Fotos: Roberto Sôlha


Genésio informa que o número de vagas ofertadas pelos vestibulares é superior em 40% ao número de estudantes inscritos
IPATINGA - No início da década, a instalação de novas faculdades e instituições de ensino no Vale do Aço proporcionou uma nova realidade para os interessados nos cursos de formação superior. O boom da educação veio acompanhado das conseqüências óbvias que uma súbita valorização econômica promove, ou seja, competitividade, busca por demandas reprimidas e exploração de suas atividades adjacentes. Nesta segunda metade da década, as instituições do Vale do Aço lidam com um contexto em que ainda prevalece a competitividade para assegurar a continuidade dos cursos, paralelamente à abertura de modalidades de ensino que se ajustam ao perfil regional.No caminho percorrido até aqui, instituições precisaram rever conceitos e interromper as atividades de determinados cursos, em detrimento de fatores que vão desde a saturação em algumas áreas, passando por diversos condicionantes relacionados à gestão administrativa frente às realidades mercadológicas.Limitações O surgimento de novos cursos, um processo que ganhou intensidade desde o surgimento e a consolidação das unidades da Unipac e do Pitágoras em Ipatinga, ao mesmo tempo que significa um alento para futuros profissionais, precisa se encaixar em diversas limitações decorrentes da escassez de empregabilidade registrada pela região em várias áreas.No Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste-MG), a mais tradicional instituição de ensino superior do Vale do Aço, alguns cursos continuam formando estudantes que vislumbram melhores oportunidades em outras regiões do Estado e do País. “Acredito que a grande oferta de cursos não corresponde à realidade de algumas áreas, mas logicamente a oportunidade de poder estudar na região traz inúmeros benefícios. Pelo menos no meu campo de atuação, percebo que será um processo de longo prazo até a região conseguir absorver a maioria dos recém-formados”, opina Aline Ferreira Lage, estudante do 4º período de Publicidade do Unileste-MG. Atualmente, Aline Lage faz estágio na própria instituição. Mesmo assim, ela diz que terá de procurar emprego em cidades maiores.“Teremos que construir nossas carreiras em outros lugares, porque a publicidade emprega mais em grandes centros. Os que ficarem terão de encontrar as potencialidades da região e uma maneira de contornar as limitações do mercado”, afirmou.Em função destas limitações, a abertura de novos cursos é feita de maneira criteriosa. Segundo Genésio Zeferino da Silva Filho, reitor do Unileste-MG, as possibilidades de demanda de mercado são mensuradas através de pesquisas encomendadas pela instituição. “Também levantamos se a profissão dispõe de profissionais para compor o quadro de professores e se a instituição possui as condições e a vocação necessárias para oferecer determinado curso”, explica Genésio Zeferino, informando que hoje o número de vagas ofertadas pelos vestibulares, em todo o país, é superior em 40% ao número de estudantes inscritos.

Para a estudante de Publicidade, a região vai absorver a maioria dos recém-formados a longo prazo
FlexibilizaçãoNa opinião do reitor, a flexibilização das leis para abertura de instituições de ensino, promulgadas durante o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, contribuíram para o surgimento de novas faculdades e universidades brasileiras.Atualmente, o Unileste-MG oferece 28 cursos de graduação e 19 cursos de pós em andamento. No momento, o centro universitário se prepara para formar as primeiras turmas dos cursos de Publicidade, Farmácia, Direito e Engenharia de Produção.“Cursos que foram implantados na história recente da instituição, como o de Arquitetura, estão hoje entre os mais cotados e de maior aceitação do Unileste-MG. Este curso obteve uma boa colocação no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o que acabou contribuindo para despertar ainda mais o interesse dos estudantes da região”, apontou Genésio Zeferino.Em virtude do crescimento da construção civil no Vale do Aço, conseqüentemente aumentou o número de interessados em cursos para capacitar a atuação profissional para o setor. Além da Arquitetura, diversas áreas de engenharia são vistas com bons olhos pelos gestores de ensino superior da região.Faculdade quer montar núcleo de EngenhariaA última instituição de ensino a ser aberta na região foi a unidade da Faculdade Pitágoras. Inicialmente, eram oferecidos somente os cursos de Engenharia de Produção e Administração. Após um ano e meio de funcionamento, a instituição incluiu os cursos de Enfermagem, Psicologia, Nutrição, Farmácia, Enfermagem, Educação Física e Pedagogia, totalizando sete modalidades diferentes de graduação em ensino superior.“Alguns dos cursos novos, entre eles o de Direito, possuem um grande número de estudantes. O curso de Enfermagem, por exemplo, aberto em 2006,  já possui sete turmas”, informa Mônica Ferreira, diretora do Pitágoras em Ipatinga. Segundo ela, na próxima semana, uma equipe do Ministério da Educação (MEC) fará visita técnica para avaliar se a instituição possui condições de oferecer novos cursos. “Os técnicos do MEC farão a vistoria para autorizar a instalação de quatro novos cursos de Engenharia, nas áreas de civil, elétrica, mecânica e de automação. Após o processo de aprovação, a previsão é que comecem a funcionar em fevereiro. O objetivo é formar um núcleo de engenharia, e essa ênfase na área de Exatas atende a uma demanda regional. O que justifica essa penetração no mercado de Exatas são as características da região, que oferta um número considerável de alunos para esses cursos. O país também está registrando um grande crescimento na área de construção civil, o que torna necessária a ampliação do ensino superior nessa área”, frisa a diretora Mônica Ferreira.
Wôlmer Ezequiel


As estudantes Katiuscia e Mariley vislumbram um cenário promissor para os terapeutas ocupacionais no Vale do Aço
Tendências orientam novos cursosNa Unipac (Universidade Presidente Antônio Carlos), um dos cursos recém-implementados foi o de Engenharia Civil, sintonizado com a tendência de formar profissionais aptos a trabalhar na construção civil. “O curso foi aberto este ano pela instituição, e é interessante notar que, mesmo sendo tradicional em âmbito nacional, ele tornou-se mais viável na região nos últimos anos, em função de uma realidade sócio-econômica mais favorável para a atuação dos profissionais desta área”, analisa a coordenadora da Engenharia Civil da Unipac, Vera Christina Vaz Lanza.Funcionando em Ipatinga desde 2000, a Unipac Vale do Aço trabalha com 18 cursos de graduação, sendo que três funcionam em Timóteo. “Na nossa unidade em Timóteo, temos os cursos de Tecnologia em Recursos Humanos e Tecnologia em Processos Gerenciais, que são de curta duração. Em dois anos, o aluno conclui os estudos. É uma alternativa extremamente benéfica para a região, pois permite uma formação rápida e menos dispendiosa para a população, com cursos que podem se aliar a diversos outros campos de atuação”, destaca Luciana Freitas da Silva Magalhães, coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Núcleo de Extensão da Unipac.ValorizaçãoPara estabelecer mais sintonia com o mercado de trabalho da região, a instituição também abriu cursos em outras áreas para explorar outras potencialidades. Conforme Cleudete Gomes de Freitas, coordenadora de ensino da Unipac, a valorização de profissões que ainda não sofreram saturação está representada através de cursos como Engenharia Ambiental, Fonoaudiologia, Biomedicina e Terapia Ocupacional - os três últimos exclusivos da instituição.“A Unipac também vem apostando em outras tendências, como os cursos de Educação Corporativa, canalizada para atender às demandas das empresas locais nas áreas de administração, contabilidade, comércio e informática, entre outras. O projeto já atende empresas regionais com capacitação gerencial, através de programas de estudo customizados para as realidades específicas dessas empresas”, explica Cleudete Freitas.Profissões diferenciadas atraem mais candidatosNa avaliação da diretora da Faculdade Pitágoras, Mônica Ferreira, o panorama do ensino superior no Brasil constitui uma realidade desafiadora para os gestores e administradores de qualquer instituição educacional. “Existem diferenciais em cada instituição, e nós procuramos prezar pelo atendimento ao aluno, pela qualidade da educação, além de uma estrutura física adequada, com laboratórios bem equipados, uma biblioteca ampla e com o acervo necessário para o aluno”, descreve.Segundo a diretora, a inserção dos alunos no mercado é uma das grandes preocupações da instituição. Através do Centro de Capacitação Profissional, o Pitágoras procura captar vagas e outras maneiras de aproximar os estudantes do mercado de trabalho. “Além disso, temos parcerias com universidades do exterior, e facilitamos todo o trâmite para o aluno estudar fora. Recentemente, uma aluna de Administração foi para a Universidade de Iscid, na França, concluir os seus estudos através da oportunidade do Pitágoras”, conta Mônica Ferreira.

Cleudete e Luciana, da Unipac, explicam a valorização da instituição em novas tendências do ensino superior
A estudante Kelianuze Olive Mendes, do 2º período de Administração, começou a trabalhar no departamento financeiro do Pitágoras antes mesmo de ingressar no curso, já que possuía o diploma de técnica em Administração. “Eu optei pela graduação nessa área porque já tinha um conhecimento prévio e percebi que a região já contava com muitos profissionais em outras áreas”, comentou.A mesma percepção fez com que as estudantes Mariley Garcia Silva Souza e Katiuscia Pereira Fernandes apostassem no curso de Terapia Ocupacional, oferecido pela Unipac. Alunas do 8º período, ambas são estagiárias da Clínica-Escola mantida pela faculdade no bairro Bethânia. No espaço, as alunas aprendem na prática como desenvolver os processos de prevenção, de tratamento e de reabilitação dos pacientes. “Fizemos uma pesquisa recente no Vale do Aço para traçar um painel sobre a atuação dos terapeutas ocupacionais na região e apuramos que há somente 20 profissionais em atividade. Isso demonstra que temos todo um campo de atuação a ser explorado. Como vivemos numa região industrializada, vislumbramos boas oportunidades de trabalho junto às empresas, que nos últimos tempos vêm priorizando bastante a saúde de seus trabalhadores”, argumenta a estudante Katiuscia Fernandes.Novos estágiosA partir do próximo mês, os estudantes da área de saúde do Unileste-MG terão novas oportunidades de estágio e, eventualmente, de um emprego fixo após a conclusão da graduação. A instituição irá inaugurar em outubro o seu Centro de Reabilitação Geral (CRG-Unileste), que funcionará no campus III, no bairro Bom Retiro, em Ipatinga, onde serão atendidos os portadores de deficiências físicas motoras e sensoriais, por meio de uma equipe composta por especialistas multidisciplinares da saúde.“Teremos fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais trabalhando no CRG e supervisionando a equipe de estagiários de diversos cursos”, adianta Genésio Zeferino. Segundo o reitor, cerca de 30 cidades do Vale do Aço serão contempladas pelo atendimento do centro, cujas demandas de atendimento serão referenciadas pelas prefeituras através da Secretaria de Saúde. Roberto Sôlha
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