21 de setembro, de 2007 | 00:00

Tolerância é o melhor remédio

No Dia Mundial do Mal de Alzheimer, um alerta e esclarecimento sobre a doença degenerativa que atinge milhares de idosos

Alex Ferreira


O neurologista Jamir Pereira: “Alzheimer não é uma doença simples, causa impactos na vida familiar e precisa ser melhor compreendida”
IPATINGA - Hoje é o Dia Mundial do Mal de Alzheimer. A doença degenerativa atua sobre o cérebro e causa uma atrofia progressiva. Os doentes apresentam perda de memória, tornam-se mais confusos, ficam agressivos e não reconhecem os próprios familiares e até a si mesmos. Com a evolução da doença, iniciam-se as dificuldades de locomoção e os pacientes tornam-se mais dependentes para atividades elementares do cotidiano, como alimentação, higiene e vestuário. Requisitos como tolerância, compreensão e dedicação são importantes para conviver com o problema e garantir o bem-estar possível para o paciente.Em Ipatinga, o médico neurologista do Hospital Márcio Cunha, Jamir Pereira Dias, explica que a doença foi descrita pela primeira vez pelo médico alemão Alois Alzheimer, no início do século XIX. “O paciente atingido por essa doença degenerativa perde a capacidade de interagir com as pessoas e com o meio onde vive devido a alterações na memória, linguagem e comportamento”, descreve.Mal do século Definida por muitos como “mal do século”, “epidemia silenciosa”, e às vezes confundida com outras demências, a doença ainda é pouco conhecida, apesar do seu efeito devastador sobre a família e o doente. Segundo a Associação Nacional de Neurologia Clínica (ANNC), o Mal de Alzheimer é conhecido erroneamente como “esclerose” pela população, e representa para a comunidade sério ônus social e econômico.O neurologista Jamir Pereira Dias comenta que o mais comum é que a pessoa tenha perda da memória recente. A memória remota fica preservada. “Então, o paciente lembra de fatos de quando ele era criança e adolescente, mas se esquece o que almoçou ontem. Isso acontece muito. O mal atinge principalmente pessoas acima de 50 anos. Cerca de 50% dos casos de demência entre os idosos é diagnosticada como Alzheimer, tanto em homens quanto em mulheres, embora as estatísticas apontem uma incidência um pouco maior entre os homens. Mas estatísticas sempre são falhas”, observa o médico.PrevençãoSe é possível falar em ações preventivas contra o mal, elas estão ligadas à qualidade de vida. Entre os exemplos citados pelo neurologista Jamir Pereira, estão a leitura, alimentação adequada, evitar o consumo de bebida alcoólica, diabetes, hipertensão, enfartes e adotar ações que levem a pessoa ao bem-estar no decorrer da vida. “As pessoas só se lembram do Alzheimer e só entendem o problema quando chegam à idade avançada ou acontece com um conhecido, familiar ou amigo. Quando jovem, normalmente você lê pouco, se alimenta mal, bebe, vive estressado e isso tudo colabora para que a pessoa desenvolva a doença na velhice”, argumenta o neurologista.No entendimento do médico, tem crescido a compreensão sobre a doença de Alzheimer e suas implicações, por meio da divulgação na imprensa e na televisão. “Teve uma novela recente que mostrou uma senhora com Alzheimer e isso chamou a atenção das pessoas para os sintomas e as conseqüências da doença em casa”, pontua o médico, referindo-se à novela “Senhora do Destino”. Em relação ao tratamento, Jamir Pereira explica que não há cura para a doença de Alzheimer. “A vacina para a doença está ainda em fase de pesquisa e não há cura. Então, o tratamento mais precoce só vai retardar a progressão da doença”, orienta. Tratamento requer cuidados especiaisQuando é diagnosticada a doença de Alzheimer em um paciente, o neurologista Jamir Pereira afirma que o tratamento é feito com quatro medicamentos, dos quais dois são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que no entendimento do médico são suficientes para tratar os pacientes do Alzheimer. O diagnóstico, acrescenta o médico, é feito por meio de exame do tecido cerebral, exames de sangue, de imagem e avaliação neuropsicológica.     Em relação ao tempo da incidência da doença, o médico explica que não gosta de falar em prazos. No entanto, após o surgimento dos primeiros sintomas, é praticamente certo que, em dez anos, o paciente fica totalmente dependente dos familiares e auxiliares de enfermagem (“cuidadores”), com seu estado degenerativo piorando gradativamente. O doente pode ficar irritado, não dormir, ficar agressivo, mas às vezes fica inerte, parado por completo, geralmente deitado, sem esboçar reações. “De forma geral, é uma doença que mexe inteiramente com a vida dos familiares e cuidadores. Não se trata de uma doença simples. Muitas vezes se perde a paciência com o portador de Alzheimer porque alguns familiares, na incompreensão da doença, acreditam que o comportamento dele é por vontade própria e aí a situação pode sair do controle”, alerta.Preparação No entendimento do neurologista, é preciso que a sociedade compreenda mais o Alzheimer e se prepare. “Quando o mal atinge uma pessoa, é preciso paciência, definição de quem ficará responsável pela higiene e alimentação do paciente. Se o familiar não tiver tempo ou paciência, terá que contratar o que a gente chama de ‘cuidador’ ou ‘cuidadora’”, salienta Jamir Pereira. “O paciente precisa de acompanhamento e manter uma rotina mínima de hábitos diários, como caminhadas, saber o deve ser feito durante o dia e o que deve ser feito a noite. Enfim, manter o hábito de vida o mais normal possível”, finaliza o neurologista.
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