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14 de setembro, de 2007 | 00:00

Uma tarde na penitenciária de Ipaba

Sem esquecer a pena que têm a cumprir, presos falam sobre o caminho da recuperação e o sonho da volta para casa

Fotos: Alex Ferreira


Conversa aberta em reunião entre homens que cumprem pena em Ipaba e universitárias do Serviço Social
IPABA - Uma vez a cada 15 dias um grupo formado pela professora de Serviço Social do campus Ipatinga da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), professora Adriana Amaral Ferreira, a extensionista do curso, Márcia Abreu de Paiva Freitas, a assistente social e professora Andréa Kelmer de Barros e as estagiárias Kátia dos Anjos Brito e Érica Pereira Alves Beltrame, embarca para a Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho (PDMC), localizada em Ipaba. Lá, reúne-se com grupos de homens em cumprimento de pena. Trata-se de parte da busca pela ressocialização. Na viagem de terça-feira passada, 11 de setembro, a reportagem do DIÁRIO DO AÇO foi conferir o trabalho da equipe e ouvir os presos. Sob direção do tenente PM Adão dos Anjos, a PDMC é apontada como modelo em Minas Gerais. A ida da reportagem a Ipaba dá seqüência a uma reportagem publicada em 14 de julho sob o título “Rejeição leva a reincidências”. Na matéria, foram mostradas as dificuldades para o retorno à vida social por quem já foi preso e a ajuda às vítimas da discriminação em uma cidade despreparada para receber a unidade prisional. Na curta viagem entre o campus da Unipac, no bairro Bethânia, em Ipatinga, e a penitenciária, uma boa notícia. A equipe informou que a reportagem de julho já rendera frutos em forma de apoio para a Associação de Mulheres, montada para garantir amparo às famílias dos presos que chegam a Ipaba. SensacionalismoLogo na chegada, no auditório onde se reunia o grupo do Projeto de Extensão – Violência e Direitos Humanos, Rogério José Amaral dos Santos aproveitou o espaço oferecido pela reportagem para uma inversão da ordem. Eles perguntariam primeiro. Rogério quis saber por que a imprensa é tão sensacionalista. Como resposta, foi informado de que o sensacionalismo da imprensa cansa tanto que atinge o seu maior capital, a credibilidade, e que, por causa disso, já ocorre uma lenta mas profunda mudança de pensamento do fazer jornalístico. Outro interno, Evandro Vargas Ferreira, insistiu: Por que, na época das rebeliões, a PDMC era manchete e agora, quando cumpre o seu papel de recuperar quem errou, não ganha destaque? Pergunta respondida, haja vista que temos feito nossa parte ao relatarmos sempre o trabalho desenvolvido na PDMC, as coordenadoras do grupo de trabalho iniciaram a atividade, uma conversa aberta com a participação da reportagem, das estudantes e funcionários da penitenciária, inclusive o diretor Adão dos Anjos. Capacidade para reconquistar a confiança e espaço na sociedadeCada um dos 11 homens em cumprimento de pena presentes na reunião realizada terça-feira à tarde na Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho teve a oportunidade de relatar os sonhos que alimenta. Sob o acordo de que não haveria referências ao que fizeram no passado, mas ao que vivem agora na penitenciária e ao que pretendem fazer ao sair.

Enquanto cumpre pena em Ipaba, Natham é instrutor de tornearia mecânica na penitenciária de Ipaba
O aposentado Natham Lino da Silva disse que o seu sonho é voltar ao trabalho social que desenvolvia em Ipatinga antes de ser preso. Enquanto cumpre pena, é instrutor de tornearia mecânica em uma das 30 frentes de trabalho da PMDC. Lá, fabrica peças industriais, parafusos, roldanas e outras peças de tornearia e ainda ensina os segredos da profissão. “Dezenas de colegas passaram por aqui, saíram e trabalham por aí nessa profissão”, conta, orgulhoso.  Leandro Euzébio Prudente lamenta ter interrompido sua liberdade por uma decisão impensada. “Somos seres humanos capazes de reconquistar nosso espaço. Qualquer um pode se ver nessa situação, de agir de forma impensada e vir parar aqui”, afirma. Enquanto isso, atua na marcenaria da PDMC. Dione Alves da Silva tem como maior sonho reconquistar a família. “Entristeci minha família pelo que fiz. Todos os dias penso em como reconquistar a todos. Quando vim para cá era aluno de capoeira e quero voltar para ser mestre.”O lanterneiro Ariel da Silva Santos também pretende sair e voltar para a profissão. Durante a fala, acabou por encontrar emprego na penitenciária. O diretor Adão dos Anjos precisava de um lanterneiro na oficina da PMDC, onde dois carros estão em reforma, e ofereceu a vaga.       O atleticano Thales dos Santos Lemos queria ser jogador de futebol. Não conseguiu, foi parar na penitenciária e pretende sair para fazer faculdade. “A vida do crime é uma ilusão que não vale a pena”, agora sei disso. Willes Reginaldo Venâncio, 25 anos, sonha em ter família, construir uma casa e ser motorista. Evandro Vargas Ferreira é auxiliar de serviços gerais na penitenciária, mas já está autorizado pela Justiça a sair durante o dia para trabalhar em uma rádio comunitária de Ipaba. “Vou fazer um programa, atender os ouvintes. Já entendi a importância de se aproveitar oportunidades”. Ao falar, Leandro não esconde a voz forte que o credenciou a ser locutor.  Alex Ferreira
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