12 de setembro, de 2007 | 00:00

Sentido nobre da palavra “elite”

Poder de mobilização do Rotary era invejado por Antonio Gramsci

Fotos: Acervo do Trabalho


Fundadores do Rotary em Coronel Fabriciano na construção da escola Rotildino Avelino, começo dos anos 60
CORONEL FABRICIANO - O professor Renato Lacerda explica que o Rotary pode ser considerado uma instituição de elite, no sentido latino da palavra, “os melhores escolhidos”. O Rotary tem esse critério de seleção, a pessoa precisa ter representação, prestígio social e posição social. Deve ter um cargo de mando e ter reconhecida representação perante a sociedade. No entender do Rotary, um grupo de profissionais influentes, reunidos em forma de clube, tem condições e força coletiva para influenciar na sociedade para o bem da comunidade. Embora possa fazer filantropia, o Rotary não é uma instituição filantrópica. Ele é uma instituição que se utiliza do prestígio de seus sócios para influir em alguma decisão na sociedade, seja política, empresarial ou coletiva. O professor conta a atuação do Rotary no momento em que o Vale do Aço vivia uma metamorfose - do rural para o urbano - em um período curto e de transformações sociais e econômicas velozes e alucinantes. “Parece que essa metamorfose impulsionou o Rotary e o clube, ao mesmo tempo, se fortaleceu em suas ações. Impulsionou o clube a agir na comunidade”. Essa situação, lembra o professor, se assemelha em muito com a história do criador do Rotary, Paul Percy Harris que, no começo do século XX, desembarcou na cidade de Chicago (EUA), vindo do interior e sentiu-se sozinho em meio à efervescência do crescimento industrial, comercial, urbanizador e demográfico da grande cidade. “Nos grandes centros, as pessoas não têm tempo para as outras e, então, o Rotary nasceu nesse contexto nos Estados Unidos. Chegou ao Brasil em 1922, nas capitais brasileiras, e expandiu-se para o interior do país. Em Coronel Fabriciano chegou em 1959. Foi o quarto clube de serviço do Vale do Rio Doce. O primeiro foi em Caratinga, o segundo em Aimorés, depois em Governador Valadares, antes da instalação no Vale do Aço”.

Companhia telefônica de Coronel Fabriciano foi a primeira a utilizar central automática
Poder invisívelEm relação ao termo “poder invisível” que consta do título do mestrado, Renato Lacerda explica que é uma expressão do sociólogo francês Pierre Bourdieu. O pensador afirma que em uma sociedade existem vários tipos de capitais: econômico – os bens tangíveis e intangíveis, a renda, propriedades. O capital cultural é o capital social – a posição social que uma pessoa possui na sociedade e redes de relacionamento que a pessoa possui na sociedade. Capital político é a posição política conquistada e o simbólico é prestígio que a pessoa alcança na sociedade. Na sociedade estão entrelaçados os diversos tipos de capital, e o Rotary Club tem sua gênese de formação na aglutinação desses capitais. No caso da formação do Rotary Clube de Coronel Fabriciano, em 1959, tinham posição cultural e capital social, com cargos de mando na sociedade e outros tinham capital político. Rubens Siqueira Maia, o primeiro prefeito de Coronel Fabriciano, foi um dos fundadores do Rotary. Também tinham prestígio social. Então, na formação dos clubes, a união de diferentes capitais forma um poder invisível. O capital simbólico pode ser transformado em capital econômico, a depender da mobilização do prestígio. Um exemplo disso, na fase áurea do Rotary no Vale do Aço, foi a venda das ações por meio do prestígio dos rotarianos para os empreendimentos que geraram lucros para os seus sócios.  Manutenção do poderNa atualidade, são seis clubes do Rotary no Vale do Aço. Três em Ipatinga, dois em Coronel Fabriciano e um em Timóteo. “O poder do Rotary Club para a mobilização de um projeto é potencial e significativo, e não pode ser desconsiderado. Inclusive, o italiano Antonio Gramsci, lá no início do século XX, nos anos 30, já dizia que os Rotary Clubes devem ser investigados e analisados por causa de sua lógica voluntária de mobilização. E olha que Gramsci foi um dos marxistas mais influentes no mundo. Ele foi membro do PC na Itália e utilizou 70 vezes o nome do Rotary nos escritos produzidos no cárcere, quando esteve preso. Ele escrevia com insistência que os Rotary devem ser investigados por suas características peculiares. Naquela época Gramsci estava interessado no Estado ampliado, que significa a mobilização da sociedade civil. Para Gramsci, o importante no estudo do Rotary era verificar um novo modelo de mobilização da sociedade civil, em um sentido de associativismo apartidário”.  Quanto à realidade brasileira, o professor Renato Lacerda afirma que, apesar de sua relação com os princípios estadunidenses, o Rotary contribui para uma sociedade melhor. “A filosofia do Rotary é pela ênfase no consenso e não no conflito, é uma busca da paz, do entendimento”, conclui Renato Lacerda.
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