11 de setembro, de 2007 | 00:00

Alternativa para recuperar o solo

Plantação de palmito pupunha começa a ser difundida em Ipatinga; precocidade de produção e adaptação são principais diferenciais

Fotos: Roberto Sôlha


Com pouco mais de um hectare, a área antes degradada encontra-se recuperada e produtiva
IPATINGA - Há três anos, o agricultor José Zacarias decidiu apostar suas fichas em um investimento tido como arriscado. Devido ao estágio avançado de degradação do solo em uma encosta perto de sua propriedade, localizada na Tribuna, zona rural de Ipatinga, Zacarias precisou estudar maneiras de recuperar a área e conter os riscos iminentes de erosão. Após discutir com colegas e técnicos agrícolas o que poderia ser feito para evitar o pior, Zacarias optou pelo plantio do palmito pupunha, também conhecido como pupunheira. Nativa da América Central e da floresta amazônica, a palmeira se destaca pelo seu alto grau de aproveitamento. Além do cultivo para a produção de palmito, a planta, através de seus frutos, rende matéria-prima para a fabricação de farinha e óleo. A escolha feita por José Zacarias não poderia ter sido mais acertada. O objetivo principal, de conter a erosão, já foi alcançado. “Hoje a área está protegida e se encontra produtiva, em função da capacidade da planta de extrair os minerais para a superfície”, conta. Atualmente o palmito extraído da plantação é vendida in natura, por falta de um sistema para embalagem do produto. O primeiro corte foi efetuado há apenas dois meses. Todo o processo de plantio e produção é acompanhado de perto pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). O engenheiro agrônomo José Luiz de Paiva Freitas, da Emater, foi um dos técnicos que acompanhou todo o processo e continua prestando assistência a José Zacarias. Com a experiência de ter acompanhado o plantio da pupunha na Amazônia durante o período de nove anos em que morou na região, José Luiz acredita que a cultura pode perfeitamente se adequar às condições do Vale do Aço. “Prova disso é o próprio exemplo da pupunha plantada pelo Zacarias. Ele escolheu uma área extremamente degradada de seu terreno, mas mesmo assim acabou sendo bem-sucedido no cultivo”, diz o engenheiro agrônomo. Ao contrário do recomendado, Zacarias decidiu plantar as mudas com apenas três meses, quando se recomenda uma espera de no mínimo seis meses. “Essa é uma prova da boa adaptação da pupunha na propriedade do Zacarias. Ela progrediu com rapidez, a exemplo do que acontece nas regiões mais quentes”, diz José Luiz. Conforme ele, uma das grandes vantagens do palmito pupunha é o perfilhamento, ou seja, a planta forma touceira como a bananeira e, após o primeiro corte, os filhotes crescem permitindo produção permanente. “Isso não acontece com as espécies mais comuns, pois, ao se retirar o palmito, mata-se a planta. Apesar de o sabor do palmito da pupunheira ser um pouco mais adocicado e sua coloração mais amarelada do que as espécies tradicionais - juçara e açaí -, essas diferenças ficam quase imperceptíveis após seu processamento”, informa. Diferencial Para Zacarias, o maior ganho advindo da plantação do pupunha foi a recuperação da área. “Além disso, as folhas deram um visual bonito para a área, que pode ser visto da estrada. Sobretudo, trata-se de um palmito precoce. Diferentemente do palmito nativo (o juçara), que leva de 12 a 16 anos para dar condição de corte, o pupunha pode ser extraído de 18 meses a 24 meses após o plantio. A iniciativa de Zacarias é precursora em Ipatinga, onde não existem mais propriedades que possuam uma plantação do porte da encontrada no sítio do produtor, onde também funciona uma pousada e o Centro de Educação Portal Mata Atlântica, aberto a visitas escolares.

Zacarias: “A região tem tudo para se beneficiar através dessa atividade, que também possui um caráter ambiental importante”
Produtor busca recursos para expandir plantação“Aqui em Ipatinga a produção de pupunha da minha propriedade é a de maior expressividade no município - nós temos conhecimento de que ele é plantado em outros sítios, mas de maneira ainda bastante inexpressiva. Eu tive que investir alto, cerca de R$ 10 mil em todo o processo de plantio e recuperação do solo, em uma área de pouco mais de um hectare”, conta Zacarias, informando que até o momento já foram plantadas 3.500 mudas. Apesar de o retorno financeiro ainda ser tímido, Zacarias conta que o palmito in natura vem sendo bem aceito pelos visitantes da pousada e também é vendido para abastecer a comunidade da Tribuna e outras localidades próximas. A família de Zacarias é quem cuida da plantação, envolvendo quatro pessoas. Futuramente, o produtor planeja expandir a produção para beneficiar a comunidade da Tribuna, através da mão-de-obra de agricultores locais. Recentemente, Zacarias tentou obter um financiamento para pôr este objetivo em prática, através do programa Universidade Solidária (UniSol), administrado pelo Banco Real. “Nós tentamos obter uma verba de R$ 40 mil, que seria utilizada para envolver cerca de 10 propriedades de localidades próximas à Tribuna, como o Ipaneminha e Morro Escuro, no cultivo do palmito. Esse crédito acabou não sendo aprovado, mas vamos continuar tentando outros apoios para atingir esse objetivo. Se tivéssemos uma unidade exclusiva para embalar o produto seria um avanço importante, e com o apoio logístico correto, certamente daríamos um retorno maior para a comunidade. A região tem tudo para se beneficiar através desta atividade, que também possui um caráter ambiental importante, uma vez que evita o corte do palmito nativo”, conclui o agricultor José Zacarias. Roberto Sôlha
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