29 de agosto, de 2007 | 00:00

Pão francês está 10% mais caro

Crise do trigo com nova política argentina provoca alta de até 10% no preço do quilo do pão francês no Vale do Aço

Fotos: Wôlmer Ezequiel


Alimentação tradicional do começo do dia está mais cara em todo o país
IPATINGA - Ir à padaria de manhã ficou mais caro esta semana. O consumidor, que já andava às voltas com o aumento no preço do leite tipo C, por causa do período de entressafra, agora paga mais caro pelo preço do pão de sal. Desta vez os representantes do setor alegam que a queda nos estoques mundiais de trigo e o aumento nas taxas para importar o grão são os responsáveis pela alta. Os distribuidores afirmam que a diminuição das reservas de trigo foi causada por dificuldades na safra mundial de 2006 e pela interrupção da importação de trigo da Argentina, principal fornecedor do mercado brasileiro. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados pela Agência Brasil, os argentinos são responsáveis por mais de 90% das importações de trigo brasileiras. Em março, a Argentina suspendeu as exportações de trigo em grão, alegando proteção ao abastecimento interno.Com essa decisão, o Brasil teve que recorrer a outros mercados, em especial Canadá e EUA. Os grãos comprados desses países estão sujeitos à tarifa externa comum (TEC), imposto que aumenta os preços em 10% - nas transações entre os países do Mercosul, a taxa não é cobrada. A Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo) defende a isenção temporária da TEC para os outros países fornecedores enquanto durar a crise argentina do trigo.Os efeitos no bolso do consumidorNa padaria Pão Total, bairro Caravelas, o pão francês era vendido a R$ 4,90 o quilo e, na terça-feira, 28, passou para R$ 5,50. Um aumento de 10%. O presidente do Sindicato dos Panificadores do Vale do Aço, Antônio Eugênio, informa que a alta ocorre de acordo com a planilha de custo de cada padaria. “Como representante do Sinpava, temos conversado com os associados no sentido de que os preços sejam definidos de acordo com a planilha de custos de cada estabelecimento. Neste sentido, é bom lembrar que o quilo do pão no Vale do Aço - entre R$ 4,50 e R$ 5,00 - já estava abaixo dos preços praticados em Belo Horizonte, onde o quilo do produto já chegava a R$ 5,90 ou R$ 6,50”, explica. Antônio Eugênio acrescenta que uma saca de trigo, com 50 quilos, custa hoje R$ 70,00. O preço, segundo o presidente do Sinpava, reflete uma alta acumulada de 23% de janeiro a agosto deste ano. Segundo o dirigente, nos dois anos anteriores comprava-se trigo da Argentina. “Um produto de boa qualidade e de um país mais próximo. Agora veio o fim da venda para o Brasil, supostamente para atender ao aumento da demanda no mercado interno argentino. No entanto, há fortes suspeitas de que essa medida foi adotada para aumentar a venda à China, por um preço mais vantajoso”, informa.A dependência das importações de trigo, segundo Antônio Eugênio, se deve ao fato de a produção brasileira continuar muito aquém da demanda. Enquanto o país consome em torno de 10 milhões de toneladas por ano, o país produz apenas dois milhões de toneladas. “Com essa crise, o trigo já aumentou 23% no acumulado do ano. Está hoje em R$ 70,00 e pode chegar ao fim do ano a R$ 80 reais a saca. Então, não há como segurar a alta”, diz Antônio Eugênio.O presidente do Sinpava destaca que o pão ainda é um dos alimentos mais baratos para o brasileiro, consumido pela população em todas as faixas etárias e de renda. “O consumo anual no Brasil é de 33 kg per capita. Ainda é baixo, porque na Europa o consumo anual varia entre 180 e 200 kg per capita”, explica.

Sinpava defende redução na taxa de importação do trigo para amenizar alta no preço do pão
Mais padarias anunciam aumentoNas padarias de Ipatinga, alguns comerciantes tentam segurar a alta para evitar queda nas vendas. Na padaria Belo Pão, na avenida João Valentim Pascoal, Centro, o quilo do pão é vendido a R$ 5,95. O gerente Jairo Moreira já admite a necessidade de reajustar o preço do alimento entre 6% e 7%, por causa do aumento no custo da farinha de trigo importada da Argentina. Para o gerente, faltam explicações convincentes sobre a disparada do preço da farinha, uma vez que o dólar sempre foi referência de preço e, embora a moeda esteja em constante oscilação, não houve alta cambial suficiente para justificar aumentos de preço em real. Segundo o gerente, toda vez que ocorre aumento no preço do pão francês, cai o consumo do alimento por alguns dias, mas depois as vendas voltam ao normal.Na padaria Bouzada, bairro Cidade Nobre, a gerente Iolanda Baruto Bouzada informa que ainda vende o pão de sal a R$ 5,00 o quilo, mas já há entendimento de que não há outra forma de enfrentar o aumento no preço da farinha de trigo, senão com o reajuste no preço do produto para o consumidor. “O aumento deve ser definido esta semana. Estamos preocupados porque qualquer aumento reflete nas vendas e, portanto, deve ser o menor possível para evitar mais prejuízos”, afirma a comerciante. Em relação ao leite vendido em sua padaria, Iolanda informa que o tipo C varia entre R$ 1,70 e R$ 1,80 o litro. “Embora tenha havido alta no preço do leite há duas semanas, agora tivemos nova redução em R$ 0,10 no preço de algumas marcas”, conclui Iolanda.Em relação ao leite C, o presidente do Sinpava, Antônio Eugênio, afirma que as padarias trabalham com preço fixado pelas cooperativas distribuidoras e apenas repassam os valores tabelados. “O preço do leite subiu, mas a expectativa é de que volte a cair com o fim da entressafra, após o término do período de seca, mas o mesmo não acontece no caso do preço do trigo, que apresenta outra realidade”, conclui Antônio Eugênio.Alex Ferreira
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