26 de agosto, de 2007 | 00:00

Pesquisa registra maior detalhamento sobre o trabalho infantil em Ipatinga


O mapa cedido pela Sedese orientou Leonardo sobre os pontos a serem percorridos
IPATINGA - Desde a segunda-feira (20), uma equipe formada por representantes de vários órgãos de atenção ao menor está percorrendo diversos pontos de Ipatinga para mapear o trabalho exercido por crianças e adolescentes do município. Cumprindo uma determinação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), que exigiu a elaboração do levantamento em 21 municípios de médio porte em Minas Gerais, a pesquisa permitirá que o estado disponha de mais informações sobre os locais onde há maior incidência das formas mais nocivas e cruéis de trabalho envolvendo menores. Com a pesquisa em andamento - os levantamentos se encerram hoje -, as primeiras informações apuradas já serviam para delinear um panorama “preocupante”. A cargo de estudantes de Psicologia e Serviço Social do Unileste-MG e da Unipac, o monitoramento é feito através de rondas em vários pontos de Ipatinga onde já foram registradas ocorrências de exploração de trabalho infantil. “Tivemos que pedir à Sedese para nos enviar mais questionários, porque os 200 formulários iniciais se esgotaram logo nos primeiros dias”, informa Gisele Mesquita, conselheira municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Ela é uma das responsáveis pelo acompanhamento da pesquisa feita em campo pelos estudantes de Psicologia e Serviço Social. Antes do início dos trabalhos efetivos do monitoramento, Gisele e duas integrantes do Departamento de Atenção à Criança (Deac), vinculado à Secretaria Municipal de Atenção Social, foram capacitadas pela Sedese, em Belo Horizonte. “Essa primeira etapa foi feita para que pudéssemos orientar os estudantes sobre a metodologia da pesquisa”, informa. Até sexta-feira, 300 questionários já haviam sido aplicados. “Isso demonstra que, apesar de todos os programas de combate à prostituição, ao tráfico de drogas e qualquer outra forma de exploração do trabalho de crianças e adolescentes, esse trabalho precisa ser intensificado. Nós nos surpreendemos com a quantidade de menores em situação de vulnerabilidade social”, diz Gisele, informando que o questionário procura apurar quais as causas que levaram o entrevistado a virar refém desse contexto de exploração.

Gisele explica que o levantamento revela a urgência de políticas públicas mais efetivas
Realizado em três turnos, o monitoramento exigido pela Sedese até agora constatou que o número de adolescentes envolvidos na prostituição é alarmante. Conforme Gisele, a maior parte se concentra em trechos próximos à BR-381, cuja idade varia de 14 a 17 anos. “Além dessa situação, várias outras foram identificadas pela pesquisa. Em Ipatinga, registramos muitas crianças trabalhando com os pais em feiras livres, por razões diversas,  geralmente ligadas à desinformação dos progenitores”, afirma Gisele. Ela conta que uma situação presenciada durante uma das rondas ilustra bem o contexto do trabalho infantil em Ipatinga. “Estávamos passando pelo Limoeiro e vimos uma menina e um menino descendo um morro. Ao abordá-los, descobrimos que os dois eram irmãos, tinham 9 e 6 anos e estavam indo para o Canaã vender doces. Eles nos disseram que se empenhavam nessa tarefa durante toda a parte da manhã e chegavam cansados na escola. Em troca do que vendiam, recebiam R$ 50 mensalmente dos pais, que usavam para comprar pacotes de guloseimas de qualidade duvidosa. Quer dizer, é todo um esforço e um desgaste em troca de nada. Eles poderiam usufruir de algum programa sócio-educativo em vez de se sujeitarem ao trabalho infantil. Provavelmente os pais desconhecem essa possibilidade”, contextualiza Gisele. Os trabalhos mais comuns identificados pela pesquisa vão desde menores tomando conta ou lavando carros, até crianças que vendem picolés ou catam latas nas ruas. “Também pudemos ver muitas crianças trabalhando com malabares nos sinais”, destaca Gisele. Segundo ela, a ronda realizada na madrugada de sexta-feira para sábado identificou outro perfil. São adolescentes que não freqüentam a escola, diferentemente daqueles que trabalham de manhã ou à tarde”, cita.  Monitoramento com riqueza de detalhes Após a conclusão da pesquisa, as informações serão revisadas e encaminhadas à Sedese. Em seguida, os dados serão analisados pela Fundação João Pinheiro, que irá sistematizar o levantamento e divulgar os resultados parciais na VI Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que será realizada em setembro, em Venda Nova. Segundo Leonardo Oliveira, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), o apoio da Unipac e do Unileste-MG foi imprescindível para o bom andamento dos trabalhos. “Sem essa ajuda, não conseguiríamos fazer o monitoramento, pois quando a Sedese solicita algo dos municípios, é preciso que seja cumprido de imediato”. Conforme Leonardo, a abordagem adotada pelos estudantes foi feita com bastante precaução. “Os carros da equipe não são adesivados e a polícia que nos acompanha atua à paisana, isso tudo com o objetivo de uma  aproximação bastante natural na abordagem aos entrevistados. O questionário leva de 15 a 20 minutos para ser respondido”, informa. De posse das informações apuradas, os dados serão trabalhados em âmbito municipal pela Polícia Militar, Conselho Tutelar, CMDCA e demais órgãos de atenção ao menor. “Nunca houve um levantamento desse porte em Ipatinga. A partir dele, será possível reivindicar políticas públicas, já que a pesquisa irá nos fornecer dados mais condizentes com a realidade.Apesar de o CMDCA ter elaborado um diagnóstico sobre toda a realidade das crianças e adolescentes, ainda não possuíamos um estudo sobre pontos específicos. Esse monitoramento é ainda mais pertinente quando levamos em consideração a divulgação de um estudo recente que aponta Minas Gerais como o estado com mais pontos suscetíveis à prostituição. Esperamos que, após esse monitoramento, as ações de combate sejam intensificadas, porque o papel do estado e da federação às vezes fica apagado no que se refere às ações voltadas à realidade dos municípios.”, finaliza Leonardo Oliveira. Roberto Sôlha
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