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28 de julho, de 2013 | 00:05

Oito casos que o tempo não apagou

Crimes impunes no Vale do Aço, com suspeita de envolvimento de policiais, deixaram 14 mortos


IPATINGA – Apesar de o comando da Polícia Civil no Estado ter anunciado o esclarecimento de um total de nove crimes impunes, com suspeita de participação de policiais civis e militares no Vale do Aço, a lista de crimes a serem desvendados e os responsáveis punidos tem ainda vários casos pendentes. Pelo menos um dos casos dificilmente será reaberto: a Chacina de Belo Oriente. O caso foi arquivado em 2012 porque, após anos de investigação, ficou sem conclusão.

O delegado-chefe do DHPP, Wagner Pinto, lembrou que a apuração do caso foi um trabalho desenvolvido pelo delegado Fausto Eustáquio Ferraz, hoje aposentado do Departamento de Homicídios. O inquérito ficou sem conclusão, as investigações não levaram à autoria do crime e a PC sugeriu ao Ministério Público e ao Judiciário o arquivamento do inquérito. Desta forma, a Chacina de Belo Oriente só terá pedido o seu desarquivamento se a Polícia Civil encontrar um fato novo, relevante.

Ao ser questionado sobre os outros crimes impunes quando esteve em Ipatinga na semana que passou, o delegado-chefe da Polícia Civil em Minas Gerais, Cylton Brandão da Mata, respondeu com outra indagação: “Quem disse que o Dr. Emerson vai embora?”. Ele se referia ao delegado do Departamento de Investigação de Homicídios (DHPP), Emerson Morais, que, ao lado dos delegados Delmes Rodrigues e Alessandra Wilke e ainda uma equipe composta por escrivães e investigadores, desvendou o intrincado esquema para matar o repórter Rodrigo Neto e o fotógrafo Walgney Carvalho. Para a execução de Carvalho, em 14 de abril, a polícia já definiu que foi uma “queima de arquivo”. Já para a morte de Rodrigo Neto falta a divulgação da motivação da execução e quem foram os mandantes ou o mandante do crime.

O que foi?
Na Chacina de Belo Oriente, três pessoas da mesma família foram assassinadas no bairro Santa Terezinha, em Belo Oriente. A principal hipótese é de que tenha sido represália ao assassinato de um policial civil da cidade. Os mortos eram mãe, irmão e cunhado de Juliano Batista Ferreira, que meses antes havia tirado a vida do detetive Lahyre Paulinelli, após uma discussão. Juliano foi preso no fim do ano 2005 e condenado a 14 anos de detenção em 2008. A própria Polícia Civil relatou que envolvimento de policiais tornava a apuração mais difícil.

Veja abaixo outros crimes impunes. A soma de todos, incluindo a Chacina de Belo Oriente, aponta 14 mortes ainda não esclarecidas.

 28/06/2011 – Caso Japão
Acusado de tráfico de drogas, Maxwel de Oliveira Silva, o “Japão”, de 30 anos, estava na garupa da moto do irmão quando dois homens se aproximaram em outra moto e um deles disparou várias vezes contra Maxwel. Ele acabava de sair da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, onde prestara depoimento apontando um cabo lotado no 14º BPM como suspeito de tentar matá-lo. Maxwel era um dos responsáveis pelo tráfico de drogas no bairro Nova Esperança, em Ipatinga, e sua morte está ligada à disputa por venda de drogas. As informações são de que outro traficante encomendou ao cabo da PM a morte do rival.

 29/02/2012 – Desaparecimento de jovens em Santana do Paraíso
Quatro jovens com idade entre 13 e 19 anos foram vistos pela última vez no bairro Cidade Nova, em Santana do Paraíso. Uma adolescente que estava com eles na casa onde usavam drogas viu quando um carro identificado como da Polícia Civil levou Jonathan da Silva Santos, de 17 anos, Vitinho, Luciano, de 18 anos, e Wesley. Rafaela Miranda de Jesus, de 19 anos, deu entrevista para a imprensa em 7 de março de 2012, sem se identificar por temer represálias. A testemunha foi assassinada no dia  1º de maio de 2012 por uma dupla em uma moto na avenida Pedro Linhares Gomes, próximo ao bairro Iguaçu. O caso está na lista de investigações do DHPP.

 28/10/2012 – Caso Natanael
O soldador Natanael Alves afirmou à Polícia Civil, em 5 de fevereiro de 2012, que foi torturado por policiais militares em Coronel Fabriciano. Os PMs chegaram a ser indiciados pela Polícia Civil, mas, em 7 de março, Natanael mudou a versão, dizendo que “combinou” com a Polícia Civil acusar os militares em troca de sua liberação, depois de ser conduzido à delegacia ao ser detido numa blitz de trânsito. A nova versão teve a chancela de um delegado aposentado, que acusou outro policial de chefiar um esquema de corrupção na corporação. O soldador, de 25 anos, foi morto com 12 tiros na avenida Brasil, no bairro Santa Cruz. O inquérito foi remetido à Delegacia de Homicídios de BH e corre em segredo de Justiça.

 09/04/2010 - Queima de arquivo
Testemunha contra um cabo da PM no inquérito da Polícia Civil sobre o assassinato da missionária Anelise Teixeira Monteiro Carlos, 38, cujo corpo foi encontrado desovado em um braço da lagoa Silvana, em fevereiro de 2008, o motorista Daniel Silva Araújo, de 48 anos, foi executado com oito tiros nas costas em um bar na avenida José Antônio, no bairro Pedra Branca, Ipatinga. O assassino estava sozinho em uma motocicleta quando disparou os tiros, possivelmente uma Honda Titan prata.

 02/03/2008 - Caso Luisinho
Uma cabeça humana enrolada em um jornal foi encontrada por um capitão da PM na varanda de sua casa, em uma noite de domingo, quando retornou de viagem. Era a cabeça do adolescente Luís Alfredo Martins, de 14 anos, morador do bairro Caravelas e popularmente conhecido como “Luisinho”. Com várias passagens por crimes como furtos, arrombamentos e porte de arma, o adolescente era a testemunha-chave de um crime de pedofilia envolvendo um advogado.

 17/01/2007 – Assassinato da missionária Anelise Teixeira
Reportagem do jornalista Rodrigo Neto informou que um cabo da Polícia Militar lotado no 14º BPM foi apontado pela Polícia Civil como assassino da missionária Anelise Teixeira Monteiro Carlos, de 38 anos, em janeiro de 2007. A principal testemunha do caso, que relacionou o PM à morte, Daniel Silva Araújo, de 48 anos, foi executada em 9 de abril de 2010, com oito tiros pelas costas, em um bar na zona rural de Ipatinga. O assassino chegou ao estabelecimento com um capacete de viseira escura e fugiu sozinho em uma motocicleta prata. O policial continua lotado no 14º BPM e o processo tramita na comarca de Caratinga. A primeira audiência está marcada para julho de 2014. A morte da testemunha Daniel não foi elucidada.

 12/05/1992 – Caso Juninho
O catequista Nelson Ferreira Júnior, o Juninho, então com 19 anos, desapareceu depois de uma abordagem policial no bairro Ideal, em Ipatinga. Ele, o irmão Nanderson Magno Reis, de 17 anos, um amigo e três garotas estavam de carona em um Opala branco quando, às 23h30, foram abordados por nove policiais militares, que saíram de uma Kombi e dispararam antes da saída dos ocupantes do veículo. Juninho se assustou e correu. Policiais o seguiram, e ele nunca mais foi visto. Todos os policiais envolvidos na operação foram levados a julgamento e absolvidos.

JÁ PUBLICADO SOBRE O ASSUNTO:

Personagem sinistro rondava bastidores da PC no Vale do Aço - 25/07/2013

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