
11 de junho, de 2013 | 00:04
Quem matou Rodrigo Neto?
Morte do repórter Rodrigo Neto completa três meses sem resposta; autoridades policiais se recusam a falar sobre o andamento das investigações
IPATINGA Três meses, três dias e uma pergunta: Quem matou Rodrigo Neto? Depois de quase 100 dias do assassinato do radialista da Rádio Vanguarda e repórter do Jornal Vale do Aço, o caso permanece sem respostas. Embora autoridades estaduais tenham prometido empenho na apuração do crime, com uma força-tarefa do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à pessoa da Polícia Civil (DHPP), de Belo Horizonte, nada de concreto ainda foi feito em relação a morte do jornalista.
O assassinato de Rodrigo Neto provocou medo, insegurança, revolta e sensação de impunidade. A grande preocupação da imprensa, amigos e familiares é se esse seria mais um caso que cairia no esquecimento, assim como os outros para os quais o repórter cobrava solução. Diante da acirrada procura por respostas o DHPP pediu que os deixassem trabalhar em uma zona de conforto”, pois só assim conseguiram chegar aos autores da execução do jornalista.
A trégua solicitada pela polícia foi concedida pela imprensa, mas, tudo que se ouve até agora é que o caso ainda está em andamento e nada mais. Depois de quase um mês sem nenhuma movimentação o Comitê Rodrigo Neto realiza nesta terça-feira (11) um novo ato que irá lembrar os quase 100 dias da morte do jornalista. A manifestação será realizada no local do crime, na avenida Selim José de Sales, na altura do número 1.000, em frente a um bar de onde Rodrigo saiu, antes de ser morto.
Crime
Rodrigo Neto foi assassinado por volta de 0h40 de oito de março. Ele foi alvejado por três tiros quando entrava em seu veículo, um Toyota Corolla. Ao abrir a porta do carro, dois homens em uma motocicleta, usando capacetes, se aproximaram e dispararam friamente contra o radialista. Atingido por um tiro na cabeça, outro no peito e um terceiro nas costas, chegou a ser socorrido com vida e levado para o Hospital Municipal de Ipatinga, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Rodrigo Neto era casado e deixou um filho de seis anos.
Um dia depois do crime, a chefia da PC local anunciou empenho na apuração do caso, mas, no dia seguinte, uma equipe da Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), coordenada pelo delegado Emerson Morais de Belo Horizonte assumiu a investigação. No dia 12 de março, jornalistas do Vale do Aço criaram o Comitê Rodrigo Neto, para evitar que o crime caísse no esquecimento. De lá para cá várias reportagens feitas pelo comitê trouxeram de volta notícias dos crimes sobre os quais o jornalista sempre cobrava punição, principalmente no quadro radiofônico, O que o tempo não apagou”.
Apesar da revolta, dor e medo, amigos, familiares e colegas de profissão não deixaram de participar da missa de 7º Dia de Rodrigo Neto, celebrada pelo Bispo emérito Dom Lelis Lara. Em sua homilia, o religioso chamou a atenção dos presentes conclamando os presentes a fazerem algo para que o crime não ficasse em pune. Rodrigo Neto denunciava as coisas erradas, as maldades e os crimes. Então tinha gente interessada em eliminar este homem, pois ele estava atrapalhando a maldade”, destacou o sacerdote que seguida prosseguiu que isto foi feito por pessoas que não tem temos a Deus.
PF
A repercussão da morte de Neto foi notícia no Brasil e no Mundo e provocou a vinda da ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes, em 19 de março. Como parte das deliberações tomadas em audiência, a representante do Governo de Dilma Rousseff (PT) prometeu solicitar junto ao Ministério da Justiça, em Brasília, a entrada da Polícia Federal na investigação, o que, de fato, nunca ocorreu.
Queima de arquivo?
Como se já não bastasse a falta de notícias no Caso Rodrigo Neto, mais um profissional da área foi assassinado. No dia 14 de abril foi morto a tiros o fotógrafo colaborador do Jornal Vale do Aço, Walgney Assis Carvalho, 43 anos, mais conhecido como Carvalho Loko”, que também prestava serviços para a Perícia da PC, com o fornecimento de fotos em cenas de crimes.
O fotógrafo freelancer de atuação na área policial foi executado em um pesque-pague de Fabriciano, local que ia com frequência. O autor do crime o pegou desprevenido por trás e fez vários disparos contra a vítima.
A execução de mais um profissional ligado a área jornalística, apenas 37 dias depois da execução de Rodrigo Neto, endossou o coro da categoria por justiça, no âmbito local. E ganhou contornos de um escândalo em âmbito nacional.
Decorridos quase dois meses, o crime contra Carvalho também permanecesse sem respostas. A execução do fotógrafo pode ter ocorrido como uma queima de arquivo”, já que Carvalho atuava como fotógrafo voluntário da perícia da Polícia Civil há muitos anos e tinha informações privilegiadas nos bastidores da PC.
Muitas pessoas acreditam que Carvalho sabia quem teria matado Rodrigo Neto e, por causa disso, foi morto. A primeira hipótese levantada sobre a morte de Carvalho era a de que o crime seria passional, no entanto, fontes seguras de dentro Polícia Civil já descartaram essa possibilidade. No entanto, o assassinato permanece sem elucidação.
Mortes respingam na PC
A repercussão da morte de Rodrigo Neto e do fotógrafo Walgney Carvalho respingou na Polícia Civil do Vale do Aço. No dia 19 de abril o chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, Cylton Brandão da Matta, esteve em Ipatinga e anunciou mudanças no alto escalão da segurança do Vale do Aço. A delegada Irene Franco assumiu a função de delegada regional de Ipatinga no lugar de Gilberto Simão de Melo. O delegado-corregedor Elder DÂngelo substituiu José Walter da Mota Matos (afastado por problemas de saúde) na chefia do 12º Departamento, que coordena o trabalho de seis delegacias regionais.
À época, o chefe da PC mineira afirmou que há policiais entre os suspeitos da execução e que o crime pode ter sido cometido tanto por agentes da Polícia Civil, quanto da Militar. Brandão disse ainda que as investigações ocorriam de forma avançada, porém até hoje não se tem notícia do andamento das duas mortes.
A coincidência no modus operandi” dos dois crimes chamou a atenção e instaurou medo e insegurança entre os profissionais da imprensa regional, ao mesmo tempo em que a situação era noticiada em âmbito nacional.
Para especialistas em segurança pública, o governo demorou para entender a gravidade no Vale do Aço e só determinou a formação de uma força-tarefa para investigar os crimes após a segunda morte.
Ao passar por Ipatinga, dia 18 de maio, para inaugurar a ampliação do Hospital Márcio Cunha, o governador Antônio Anastasia reuniu-se com familiares do repórter assassinado e assegurou que estava a par da situação e anunciou esforço para a solução do crimes de execução que ocorriam no Vale do Aço há mais de 20 anos.
Policiais presos por crimes antigos
Entre os desdobramento dos dois casos, a força-tarefa da Polícia Civil, levou à prisão seis policiais civis e um militar, como resultado da apuração dos crimes dos 20 anos anteriores, sobre os quais o repórter cobrava Justiça. Entre os presos estão, um militar, o Cabo Victor Emmanuel, e seis civis: Fabrício Quenupe, o vereador e detetive Elton Pereira, Ronaldo de Oliveira, Jimmy Casseano, José Cassiano Guarda e Leonardo Correa. O médico legista José Rafael Americano, detido no dia 19 de abril, foi solto por determinação judicial no dia 23 de abril, solicitada pela própria Polícia Civil.
Mandados
Em maio passado a mesma força-tarefa cumpriu 12 mandados de busca e apreensão e resultou na prisão de três pessoas, mas nenhum deles possui, a princípio, ligação com as mortes do repórter e do fotógrafo. Por porte ilegal de arma foram detidos Ailton Barbosa da Silva, 32 anos, Chinaider Ferreira, 29 anos e Joaquim Pereira de Souza, 43 anos, irmão do Cabo Amarildo, assassinado em fevereiro deste ano. Contra Joaquim havia ainda um mandado de prisão em aberto por falta de pagamento de pensão alimentícia. Segundo a polícia todos já se encontram em liberdade.
Entrada da Polícia Federal ficou apenas na promessa
A entrada da Polícia Federal (PF) nas investigações da execução do repórter Rodrigo Neto foi por diversas vezes cogitada desde a morte do radialista, em 8 de março deste ano. Porém, até o momento não há indícios de que a maior instituição policial do país venha, de fato, participar da apuração do caso.
Ainda ontem, a assessoria da Secretaria de Direitos Humanos informou que segue acompanhando o caso da morte do jornalista Rodrigo Neto, por meio do Grupo de Trabalho (GT) Comunicadores, ligado ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). Ressaltou ainda que o Caso Rodrigo Neto é um dos principais em acompanhamento pelo Grupo formado com intuito de proteger comunicadores do país.
Um relatório do GT será elaborado e deverá apresentar recomendações sobre o enfrentamento às violações cometidas contra profissionais de comunicação. A SDH reafirmou prioridade para que o Caso Rodrigo Neto não fique impune.
Investigações
Atualmente, as investigações são chefiadas pelo delegado Wagner Pinto, do DHPP de Belo Horizonte, e acompanhadas de perto pelo Ministério Público Estadual, que também montou um grupo de promotores de Justiça para isso. Tanto os agentes da PC, quanto do MP afirmam que o caso está caminhando e que uma solução pode estar próxima.
Por telefone ontem à tarde a assessoria de comunicação da Polícia Federal confirmou que, até o momento, a Polícia Federal não está na investigação do Caso Rodrigo Neto e nem recebeu nenhum comunicado oficial sobre o ocorrido em Ipatinga. A assessoria da PF explica como necessário que as instituições responsáveis do Estado de Minas Gerais encaminhem uma solicitação formal para que a PF entre no caso. Por conta própria a força federal não pode tomar a iniciativa de investigações sob competência do Estado.
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