16 de fevereiro, de 2008 | 00:00

Quatro irmãos mortos em oito anos

Confirmação de identidade de morto marca família no Vila Celeste

IPATINGA - Quatro irmãos e o mesmo destino: todos assassinados em menos de oito anos. É o drama enfrentado pela família do aposentado Geraldo Alves de Moura, de 65 anos, com a confirmação, ontem pela manhã, da identidade de Elmer Alves de Moura, de 24. É dele o corpo encontrado desovado em uma reserva de eucalipto da Cenibra, no município de Caratinga. O rapaz chegou a ser preso na segunda-feira suspeito de tentativa de furto. A reportagem do DIÁRIO DO AÇO esteve na casa de Elmer, na rua Pintassilgo, no bairro Vila Celeste. O aposentado Geraldo Alves confirmou que, anteontem, a filha e irmã da vítima, Cleuza Alves de Moura, estava com dúvidas a respeito do corpo. “Hoje (ontem), a mãe e o irmão mais velho dele estiveram no IML, confirmando que o corpo é mesmo de meu filho”, lamentava o aposentado.A dona de casa Maria Paulina, de 66 nos, teve forças para reconhecer o filho pelas pernas e cabelos longos do rapaz. “Infelizmente é ele mesmo, não me engano. Meu outro filho, a vizinha daqui de casa e outras pessoas conseguiram identificar Elmer, apesar do inchaço do corpo”, lamentou a mãe, que teve oito filhos. O primeiro morreu ainda bebê, de doença, e quatro foram assassinados.A dor do casal era notória, pois eles cumpriram pela quarta vez o mesmo ritual de enterrar um filho: uma verdadeira chacina sofrida pela família. Além de Elmer, foram mortos Wildes Alves de Moura, 23 anos, em 29 de julho de 2000, Elpes Alves de Moura, em 12 de julho de 2004, e Willian Alves de Moura, em 17 de novembro de 2005. Todas as datas foram fornecidas pelo pai, que lembrou-se delas sem procurar qualquer anotação. LatrocínioWillian morreu no Ceresp de Ipatinga, onde cumpria pena por latrocínio (roubo seguido de morte) contra um mototaxista. A motocicleta roubada por ele foi encontrada enterrada em sua casa.  Em todos os casos, a família não teve conhecimento do esclarecimento das mortes ou tampouco soube de alguém processado pelos homicídios. A morte de Elmer pode ser uma das primeiras a ser monitorada pelo Grupo Integrado de Intervenção Estratégica (GIIE), conforme informou na tarde de ontem o delegado regional Sebastião Rodrigues Costa. O grupo, formado por policiais civis e militares, já levanta alguns dados sobre o crime. “Falta definir a competência para a apuração”, disse o delegado diante de a localização do corpo ter ocorrido no município de Caratinga. O crime pode ser apurado pelos policiais da 36ª Delegacia Regional.O corpo de Elmer foi localizado, anteontem, pelo vigilante Ivanilde Pereira de Araújo, de 43 anos. Ele estava na estrada de acesso à Lagoa Bonita, cerca de cinco quilômetros da BR-458, área que pertence ao município de Caratinga. A vítima estava nua e sem identificação, sendo constatado no Instituto Médico Legal (IML) um tiro na nuca. Elmer foi detido pela PM suspeito de tentar furtar em um sacolão na avenida Luiza Nascimbene, no bairro Vila Celeste. Policiais militares foram informados que o rapaz estava com uma vara e com um gancho na ponta para tentar “pescar” mercadorias através da grade da porta. O rapaz foi preso e encaminhado ao plantão da Delegacia Regional de Ipatinga. Ele foi ouvido e liberado ao prestar esclarecimentos. Elmer chegou a trocar de lugar com o irmão presoA confirmação da morte de Elmer Alves de Moura é mais uma página triste na família dele. A violência começou em 29 de julho de 2000, quando o ajudante Wildes Alves de Moura, então com 23 anos, tombou com seis tiros em uma noite de sábado, próximo a um bar, na rua Maria Antonieta da Silveira, no bairro Vila Celeste. Ele foi alvejado por dois homens que estavam em uma motocicleta. A segunda morte na família foi de Elpes Alves de Moura, cujo corpo foi localizado próximo ao antigo Aterro Sanitário de Ipatinga, na estrada de acesso ao distrito de Revés do Belém, em Bom Jesus do Galho, fato registrado em 12 de julho de 2004. A área pertence ao distrito de Cordeiro de Minas, município de Caratinga. Já Willian Alves de Moura era condenado a 22 anos de prisão por latrocínio (matar para roubar) contra o mototaxista André Luiz Rodrigues Lage, de 25 anos.  O crime ocorreu em 11 de outubro de 2003. A moto foi encontrada enterrada no quintal da casa de Willian. Em pouco mais de seis meses, ele fugiu três vezes. Em uma das fugas, se passou pelo irmão Elmer Alves, que o visitava no Ceresp. O soldador saiu no final do dia, passando pela portaria, onde pegou a carteira de identidade de Elmer.No Ceresp, Willian era acusado de matar, no dia 13 de outubro de 2005, Walace Xavier Neves, de 19 anos, com 17 golpes de chuço durante o horário de visitas. A vida de Willian chegou ao fim em 18 de novembro de 2005. O soldador de 24 anos foi executado com 72 golpes de chuço e facas pelo corpo, segundo o laudo do IML. Ele morreu dentro do Ceresp de Ipatinga durante um motim. Willian estava na cela 4 do bloco B e foi levado para o pátio para ser executado pelos demais presos.