03 de janeiro, de 2008 | 00:00

Incêndio mata oito presos

Débora Guimarães/Jornal Bom Dia


Os internos tentaram debelar as chamas com copos d’água, mas não foi o suficiente para aplacar o incêndio
BELO HORIZONTE (AE) - Um total de oito detentos morreu na noite do primeiro dia do ano por causa de um incêndio que destruiu uma das celas da cadeia pública de Rio Piracicaba, a 127 quilômetros de Belo Horizonte. Um curto-circuito provocado por ligações improvisadas feitas pelos presos na rede elétrica da cela teria sido a causa do fogo, segundo a Polícia Militar de Minas Gerais.O fogo teria se iniciado por volta das 20 horas, provocado por fios acondicionados em cima dos colchões e, rapidamente, alastrou-se para os beliches, obrigando os presos a se refugiarem no banheiro. Eles ainda tentaram debelar as chamas com copos d’água, mas não foi o suficiente para aplacar o incêndio.Parentes de detentos relataram que o carcereiro não estava no local, o que tornou impossível ao único policial que fazia a guarda externa da cadeia a abertura da cela.Com marretas, militares e populares iniciaram uma tentativa de socorro, ao abrir caminho por meio de uma parede situada nos fundos da cadeia que faz divisa com uma casa, mas, quando chegaram ao banheiro, os presos estavam mortos. Possivelmente, as oito vítimas morreram intoxicadas pela inalação da fumaça, conforme relatos dos policiais. A cidade não conta com unidade do Corpo de Bombeiros, e um caminhão-pipa da Prefeitura teve de ser usado para acabar com as chamas.No momento do incêndio, a cadeia abrigava 22 presos, porém tem capacidade para 18. Cinco dos presos mortos no incêndio deveriam estar cumprindo pena em penitenciárias por terem sido condenados pela Justiça. IndenizaçõesParentes ouvidos pela reportagem afirmaram que a cadeia não tem condições de abrigar presos e que, anteriormente, parte do teto havia desabado em uma das celas. Alguns parentes disseram que processarão o governo de Minas Gerais e cobrarão indenizações alegando negligência na guarda dos presos pela ausência do carcereiro na hora do incidente. Também questionaram a falta de inspeção nas celas para coibir ligações elétricas improvisadas que, possivelmente, tenham sido feitas pelos detentos. “Eu não sei como eles (policiais) deixaram entrar fios elétricos dentro das celas, pois os presos poderiam até se enforcar com esse tipo de material, ou atacar colegas de prisão com os fios,” disse Josiene Dorneles, prima de uma das vítimas. Ela confirmou que havia aparelhos televisores, rádios e jogos de videogame dentro das celas, além de os detentos usarem orelhões na rua para fazer ligações aos familiares. No mesmo prédio, funciona a delegacia de polícia da cidade.TransferênciaOs corpos dos oito mortos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte, pois Rio Piracicaba, de 14 mil habitantes, não dispõe desse serviço. Dos sobreviventes, sete detentos foram transferidos para a cadeia de João Monlevade (MG) e os outros sete ao albergue de Rio Piracicaba.CPI carcerária investiga o casoO deputado Neucimar Fraga (PR-ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Carcerária da Câmara dos Deputados, classificou de lamentável o ocorrido e cobrou providências do governo de Minas. “O que ocorreu ontem é mais um episódio lamentável da situação carcerária de Minas e do Brasil. O governo de Minas até que está investindo, mas num ritmo muito lento. Precisamos de medidas sérias e urgentes”, afirmou.Fraga também demonstrou preocupação em relação à situação dos presos em cadeias públicas. “Muitos presos que deveriam estar em penitenciárias estão confinados em cadeias públicas, com infra-estrutura arcaica e sem o mínimo de condição para ter essa função”, afirmou. Ele disse que enviará hoje a Rio Piracicaba uma comissão formada pelos deputados Alexandre Silveira (PPS-MG), Domingos Dutra (PT-MA), Maria Lúcia Cardoso (PMDB-MG) e Maria do Carmo Lara (PT-MG) para apurar a situação da cadeia pública e do acidente.VítimasDonizete Gomes, 41 anos (condenado por tráfico de drogas), Juarez de Jesus Santos, 28 anos (condenado por furto), Anderson Dorneles dos Santos, 23 anos (condenado por furto), Marlon Fernandes, 24 anos (condenado por tentativa de homicídio), Raimundo Anastácio de Moura, 35 anos (condenado por furto), Rodrigo Luciano dos Santos, 18 anos (autuado por tráfico de drogas), Everson Barbosa Ferreira, 18 anos, (autuado por tráfico de drogas), e Jaider Martins, 21 anos (autuado por tráfico de drogas).
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