23 de novembro, de 2007 | 00:00

Presos integrantes de quadrilha

RIO (AE) - A Polícia Federal voltou a prender ontem integrantes da quadrilha do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que, mesmo encarcerado desde 2002, vinha conseguindo comandar da cela os negócios no tráfico de drogas e armas. Na chamada Operação Fênix, os policiais federais prenderam a mulher do traficante, Jaqueline Alcântara de Morais. Segundo o delegado federal Wagner Mesquita de Oliveira, ela vinha comandando a quadrilha há seis meses. No total, ocorreram 11 prisões em quatro Estados ontem. Dois dos presos eram fornecedores de drogas foragidos da Justiça brasileira e paraguaia.Jaqueline só tomou a frente dos negócios, ainda conforme o delegado, depois do desaparecimento do advogado João José Vasconcelos Kolling, de 29 anos. Com registro original da Ordem dos Advogados do Brasil do Ceará (OAB-CE), Kolling atuava há algum tempo no Rio, onde residiu em Petrópolis. A PF acredita que ele foi assassinado pelo grupo. As investigações sobre a continuidade dos negócios de Beira-Mar começaram quando ele estava recolhido na Superintendência da Polícia Federal em Brasília e dispunha de um celular - mas estava sendo monitorado. Desde sua transferência para o Presídio Federal de Catanduvas (PR), em junho de 2006, não fez mais uso de comunicação telefônica, segundo o delegado Mesquita. A partir daí, seus contatos com a quadrilha passaram a ser feitos por um advogado preso ontem no Rio - que a polícia não identificou, por parentes e amigos que o visitavam. Em julho, Beira-Mar foi levado para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS). Lá, casou-se no fim de setembro com Jacqueline , com quem namorava havia 15 anos - e tem três filhos. Tiveram direito a uma breve lua-de-mel na cela íntima. Para a cerimônia, o uniforme de presidiário foi trocado por um fraque, enquanto Jacqueline usou vestido de noiva, branco. Flagrantes Durante o ano e meio de investigação foram feitos 13 flagrantes contra a quadrilha que tentava trazer mercadoria pelo Paraná. Neles, segundo o delegado Mesquita, as apreensões totalizaram aproximadamente 750 quilos de cocaína, quase 4 toneladas de maconha, várias armas - fuzis e pistolas -, quase 2 mil cartuchos de munição para fuzil e um avião.Carreira teve início na adolescênciaLuiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, começou sua carreira no tráfico como “vapor” (vendedor), ainda adolescente. Subiu na hierarquia do crime ao atingir a maioridade. Ele tinha 18 anos e prestava o serviço militar obrigatório, quando foi preso por roubar armas num depósito de material do Exército. Expulso da corporação, passou dois anos na cadeia. Voltou respeitado à Favela Beira-Mar, que lhe rendeu o apelido. Ganhou as bocas-de-fumo de um líder comunitário que queria se dedicar à venda de drogas em outra comunidade.Isso ocorreu em 1986. Na década seguinte, Beira-Mar se firmaria como um dos principais atacadista do tráfico, dividindo o posto com Arnaldo Pinto de Medeiros, o Uê, seu maior inimigo. Mensalmente, trazia 500 quilos de cocaína para o Rio. A primeira condenação foi pela Justiça de Cabo Frio, a 12 anos de prisão. Em junho de 1996 foi preso em Belo Horizonte com quatro quilos de cocaína. Recebeu nova condenação, por mais 12 anos. Foi condenado ainda a 19 anos de prisão em dezembro de 2006, por extorsão e associação para o tráfico. Responde a outros 30 processos. Pré-vestibularEm 1996, antes de ser preso, fazia pré-vestibular em Betim, já havia comprado casa de veraneio e construído dois prédios em Guarapari (ES). Também mantinha cinco contas-correntes e 9 cadernetas de poupança com movimento de R$ 1,6 milhão em 1994 e 1995. Beira-Mar fugiu em 1997. Refugiou-se na fazenda do traficante João Morel, que ficou conhecido como o “Rei da Maconha”, no Paraguai, fronteira com Mato Grosso do Sul. Cinco anos depois, Morel e seus dois filhos seriam assassinados a mando de Beira-Mar. Rei da maconhaA temporada com “o Rei da Maconha” rendeu-lhe novos contatos. De lá, comandava seus negócios, cresceu como fornecedor de drogas e ganhou status de exportador. Enquanto crescia seu patrimônio, aumentavam também as extorsões policiais - em 1999, declarou numa entrevista que havia perdido - até aquela data - R$ 720 mil, cinco casas e dois carros em “mineiras”. No ano 2000, surgem as primeiras informações de que Beira-Mar estava na Colômbia e tinha ligações com as Farc. Segundo as investigações, o traficante viaja entre Colômbia, Paraguai e Suriname para comprar armas para a guerrilha. Em troca, escoava parte da pasta de coca produzida na Colômbia. No mesmo ano, a Justiça determinou o bloqueio de 36 contas-correntes e o seqüestro de 97 bens - entre os quais 12 carros, 15 empresas, 30 imóveis e quatro terrenos no Rio, Paraná Mato Grosso do Sul e Paraíba. Em abril de 2001 foi preso pelo Exército colombiano, ferido no braço. Agências internacionais divulgaram que, em depoimento, o traficante havia confessado que comprava 200 toneladas de cocaína ao ano das Farc. ExtradiçãoBeira-Mar foi extraditado e ficou preso no presídio de Segurança Máxima de Bangu 1, no Rio. Em 11 de setembro de 2002, comandou uma rebelião que deixou quatro mortos, entre eles seu arquiinimigo, o traficante Uê. Da cadeia, passou a ordenar ataques no Rio. Em 25 e 26 de fevereiro de 2003, 28 ônibus foram queimados, prédios públicos alvejados. Foi colocado no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e transferido para o Presídio de Presidente Bernardes. De lá, passou para a carceragem da Polícia Federal em Maceió, voltou a Presidente Bernardes e agora está no Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduva (Paraná).
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