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24 de agosto, de 2007 | 00:00

Vinte e cinco mortos na cadeia de Ponte Nova

Com capacidade para 87, cadeia pública abrigava 173 detentos

Estado de Minas


Tragédia em cadeia mudou a rotina na cidade
PONTE NOVA (AE) - Vinte e cinco presos da cadeia pública de Ponte Nova, na Zona da Mata mineira, morreram na madrugada de ontem durante um motim envolvendo grupos rivais. Por volta de 1h as vítimas foram encurraladas na cela 8 da cadeia por detentos de uma cela vizinha, que atearam fogo em um colchão encharcado com um líquido inflamável, provocando um grande incêndio. As chamas só foram controladas cerca de uma hora depois. Os corpos ficaram carbonizados. Como a cidade não possui Corpo de Bombeiros, um caminhão-pipa foi utilizado para debelar o fogo, que já havia tomado conta de boa parte do segundo andar do prédio. “Em uma hora conseguimos conter o tumulto na cadeia, mas não tínhamos condições de adentrar no prédio sem apagar o incêndio, sem o rescaldo e diminuir a quantidade de fumaça, que era enorme”, justificou o delegado regional Luiz Carlos Chardouni.As investigações apontam que os autores do ataque estavam de posse de pelo menos uma arma de fogo e que os presos serraram o cadeado da cela 9, alcançando o corredor e iniciando o motim. Após o fogo, o grupo se refugiou no pátio da cadeia. Moradores vizinhos ao presídio contaram que ouviram diversos disparos durante o tumulto. A Polícia Militar precisou pedir a ajuda de outros batalhões para conter o motim. O tenente-coronel Geraldo Henrique, do 11º Batalhão, chegou a dizer que dois carcereiros tentaram apartar o ataque, mas “foram recebidos a bala”. Os corpos foram transferidos para o Instituto Médico-Legal (IML) em Belo Horizonte para a identificação. Até o início da noite de ontem o nome de nenhuma vítima havia sido informado, gerando apreensão e revolta entre os familiares dos detentos, que desde a madrugada se concentravam na porta da cadeia. “Muitos (corpos) ficaram irreconhecíveis, ficou difícil dizer quais eram os presos. Nós não sabemos se os detentos que estavam naquela cela eram efetivamente daquela cela”, comentou o delegado. Rivais Superlotada, a cadeia, com capacidade para 87 presos, abrigava 173 no momento da confusão. Segundo a Secretaria de Defesa Social (Seds) de Minas, pela manhã foi lavrado um auto de flagrante indicando 20 detentos que seriam os líderes do motim. O alvo principal do grupo seria Cleverson Alexandre da Cruz, conhecido como Clesinho, preso da cela 8 e rival do traficante de drogas Wanderson Luiz Januário, o Biju. Wanderson chegou a ficar preso na cadeia pública de Ponte Nova mas, depois de liderar um princípio de rebelião, foi transferido em 27 de junho para a cidade de Além Paraíba. De acordo com o representante da Pastoral Carcerária, Gilson de Oliveira, as “gangues” comandadas pelos rivais costumavam promover toque de recolher e tiroteios em bairros de Ponte Nova.Segundo Oliveira, uma comissão de direitos humanos da Assembléia Legislativa esteve na cadeia pública em maio, para apurar mortes de presos no final do ano passado e início deste ano. “Foi uma tragédia anunciada”, disse. “Essa situação já vinha acontecendo. Recentemente houve um princípio de rebelião com incêndio em uma das celas, mas ela foi debelada no início”.Desativação Após a tragédia, o governo iniciou a desativação da cadeia. Até o início da noite de ontem, 113 presos haviam sido transferidos para unidades prisionais em nove cidades mineiras. O motim em Ponte Nova chama atenção novamente para o problema da grande quantidade de presos - muitos condenados - em delegacias e cadeias de Minas. No final de 2005 as decisões do juiz Livingsthon José Machado, que determinou a soltura de presos de distritos policiais de Contagem, provocou grande polêmica. Ele alegou que eles haviam sido julgados e deveriam estar em penitenciárias. O juiz acabou afastado. Em nota, a Seds informou que no estado 16 mil presos continuam sob guarda da Polícia Civil. “Em condições precárias. Eles (policiais civis) não têm condições de fazer essa guarda adequadamente”, comentou Cláudio Beato, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).O governo mineiro justifica o fato, afirmando que enfrenta um histórico déficit no número de vagas no sistema prisional. “Tanto que, no início de 2003, o estado possuía apenas cinco unidades penitenciárias, com cerca de 5 mil presos” diz a nota. “De 2003 a 2006 foram criadas 11 novas penitenciárias e 12 novos presídios em Minas Gerais, um acréscimo de 11.105 vagas”. Conforme a Seds, atualmente o sistema prisional mineiro possui 45 unidades e pela primeira vez mais presos sob a sua custódia (18 mil) que sob o controle da Polícia Civil.
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