09 de dezembro, de 2016 | 10:32

O AI-5 revisitado em versos

Escritores lançam livro na Assembleia Legislativa na terça-feira (13)

Força do acaso. Cinco poetas se encontraram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais dia 1 de abril de 2014, em um evento sobre os 50 anos do Golpe Militar no Brasil. Entre conversas, surgiu o papo sobre o AI-5, a ideia de publicarem um livro e pronto. O tempo passou, e entre uma cobrança de um e de outro, as ideias fluíram.

E na próxima terça-feira (13), às 19h, os poetas mineiros Bilá Bernardes, Helenice Maria Reis Rocha, Irineu Baroni, Petrônio Souza Gonçalves e Rogério Salgado estarão autografando o livro “AI-5”, da Baroni Edições, em evento que será realizado na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, na Rua Rodriguês Caldas, 30, Belo Horizonte.

Alerson Pereira
Capa e contracapa do livro AI-5Capa e contracapa do livro AI-5
O livro “AI-5” tem prefácio de Nilmário Miranda e relembra os 48 anos do Golpe dentro do Golpe e, em versos, refaz a tragédia política que se abateu sobre o Brasil durante mais de 20 anos.

Com capa e projeto gráfico do poeta e arte designer Irineu Baroni e organização do poeta Rogério Salgado, o livro tem como convidados a poeta e artista plástica Neuza Ladeira, uma das vítimas da ditadura e do AI-5; Christina Rodrigues, historiadora, que traça um perfil histórico da época, e Dalva Silveira, escritora e pesquisadora, que faz uma análise sobre a influência do AI-5 nas artes no Brasil.

O Ato Institucional Nº 5, ou AI-5, foi o 5º de uma série de Atos emitidos pela ditadura militar brasileira nos anos seguintes ao Golpe Militar de 1964 no Brasil. O AI-5, sobrepondo-se à Constituição de 24 de janeiro de 1967, bem como às constituições estaduais, dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais.

Redigido em 13 de dezembro de 1968 pelo Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, o AI-5 entrou em vigor no governo do presidente Artur da Costa e Silva como represália ao discurso do deputado Márcio Moreira Alves na Câmara dos Deputados, em 2 de setembro de 1968.

No discurso, o deputado propôs um boicote ao militarismo ("Quando não será o Exército um valhacouto de torturadores?") e pediu ao povo brasileiro que não participasse das comemorações do 7 de setembro. Claro que o decreto também vinha na esteira de ações e declarações por meio das quais a classe política fortaleceu a chamada linha dura da ditadura militar.

Ou seja: foi mais um pretexto para implementar medidas defendidas pelos militares desde julho de 1968. Era o instrumento que faltava para que a ditadura, centrada na figura do presidente, cassasse direitos políticos e interviesse nos municípios e estados. Sua primeira medida foi o fechamento do Congresso Nacional, até 21 de outubro de 1969.

Para a publicação, as discussões sobre o assunto permearam o diálogo entre os autores, que no livro optaram em mostrar de maneira livre seus poemas, não que falam do fato AI-5, mas que falam de toda e qualquer ditadura que tenha acontecido aqui ou acolá.

Alerson Pereira
Os cinco autores que escreveram os versosOs cinco autores que escreveram os versos
OS AUTORES
Bilá Bernardes nasceu em Santo Antônio do Monte, de cuja Academia de Letras é membro. É Cônsul de Poetas del Mundo, Embaixadora Universal da Paz pelo Cercle Universeldes Ambassadeurs de la Paix - Suisse / France.

Helenice Maria Reis Rocha
Começou a fazer poesia aos sete anos. Em 1975, entrou na Faculdade de Letras da UFMG. Clima de medo. Lembra-se de ter tentado assistir a uma palestra e da Universidade cercada por policiais.

Irineu Baroni
Mineiro de Belo Horizonte, poeta, contista, repórter fotográfico. Aos 16 anos, vivenciou o “arrocho” imposto pelo AI-5. Ainda estão vivas em sua lembrança as várias vezes em que policiais cercaram as saídas da escola onde estudava.

Petrônio Souza Gonçalves
Jornalista e escritor, este irrequieto belorientino viveu os tempos da abertura, quando foi tomado por uma maturidade cívica, política e social, e aprendeu a ouvir artistas, jornalistas, pensadores, políticos e escritores que se destacavam naquela época.

Rogério Salgado
Nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ). Em 1980, com a morte da mãe, mudou-se para Belo Horizonte. Em 1983, criou a revista Arte Quintal junto com dois amigos. Publicou em 2015 o livro de memórias Poeta Ativista, comemorando 40 anos de carreira literária.
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Comentários

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Tchê Quévara?

11 de dezembro, 2016 | 16:58

“Regime militar foi ruim pra quem vivia a margem da lei, e também para comunistas, no mais foi uma verdadeira "ditamole" ao comparar com a ditadura cubana castrense...”

Gildázio Garcia Vitor

10 de dezembro, 2016 | 08:49

“Belissíma a iniciativa desses Poetas sobre os anos de chumbo, principalmente a partir de 1968, quando foi decretado o AI-5 e o regime ficou mais violento. Ainda mais no momento político que estamos vivendo, com grupos organizados pedindo o retorno dos militares ao poder. A Ditadura Civil-Militar deve sempre ser lembrada em prosa e versos para nunca ser esquecida, afinal ainda somos uma Nação formada por "analfabetos políticos", inclusive com a participação de muitos Professores, até das Ciências Humanas. Thiago de Mello, um dos últimos Grandes Poetas ainda vivo, escreveu um dos mais belos Poemas sobre a Ditadura: "Noturno do Paraná do Ramos", que dentre os vários versos, cito esses: "De suas fauces viscosas // escorriam sentenças // (Algumas com sotaque inconfudível) // proferidas em nome de Deus // (para que o amor pudesse ser negado), // em nome da Família // (para que as casas se dividissem) // e em nome da Pátria // (para que o país pudesse ser empenhado // e para que fosse vendido o nosso sonho.) ...”

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