05 de dezembro, de 2016 | 16:18

Fora da curva

Divulgação
O Campeonato Brasileiro, que já deveria ter acabado, vai prosseguir e terminar no próximo domingo. O que não vai terminar nunca é o sofrimento das famílias que perderam seus entes queridos na tragédia com a Chapecoense, isto sim, será uma chaga aberta que nunca vai se fechar.

Mas a vida tem de continuar, o futebol, o show não pode parar, mesmo diante de tanta tristeza e agonia, então, nesta quarta-feira a bola volta a rolar para a decisão da Copa do Brasil, na Arena Grêmio, que recebe o Galo.

Claro que não vai ser nada fácil comemorar o título, muito pelo contrário, para quem se sagrar campeão, pois a consternação, a dor, ainda é muito recente em todos nós, sobretudo jogadores, dirigentes, imprensa, continuamos em estado de choque.

Mas, vamos falar um pouco da expectativa deste jogo decisivo, pois se a vantagem dos gaúchos é muito significativa, podendo perder até por um gol de diferença que serão campeões, ela não é impossível de ser revertida.

Não acho que o Grêmio dirigido pela dupla Renato Gaúcho/Valdir Espinosa irá se abrir, mesmo com esta ótima a vantagem, mas sim, deverá cadenciar o jogo, buscando atrair o Atlético e decidir o jogo a seu favor nos contra-ataques.

Já o Galo, cujo técnico interino, Diogo Giacomini, sinaliza uma nova formação tática com três volantes, - Donizete, Carioca e Urso -, a fim de tentar ganhar o meio-campo, o ponto forte do Grêmio, precisará atacar mais, tomar a iniciativa, pois só assim poderá reverter o resultado desfavorável.

A volta de Marcos Rocha à lateral direita, se por um lado melhora a qualidade técnica ofensiva da equipe, pode comprometer defensivamente, mas não há outra opção melhor do que esta.

Confiança não é a palavra exata, porém não duvido de nada, já que se trata de futebol, e do Atlético, um time que às vezes sai fora da curva, pois além de bons jogadores possui uma mística, uma alma iluminada que, se entrar em ação, desconstrói qualquer previsão lógica.

Aos 31 anos, milionário, o piloto Nico Rosberg, filho do ex-campeão mundial Keke Rosberg, logo após conquistar o título mundial de Fórmula 1, surpreendeu o mundo do automobilismo anunciando a aposentadoria. “Minha mãe não vai ter mais com o que se preocupar”, disse ele, revelando que sua genitora nunca quis assistir uma corrida de F-1, com medo de que algo de grave lhe pudesse acontecer. Um exemplo a ser seguido de alguém que demonstra não ter inveja, orgulho e vaidade, três dos grandes males da humanidade.

A mídia nacional deu certo destaque, no fim de semana, ao movimento das torcidas organizadas dos nossos principais clubes, prometendo um relacionamento cordial e humano daqui em diante, em solidariedade à tragédia da Chapecoense.

As bandeiras da Galoucura e Máfia Azul, inclusive, foram vistas lado a lado na Arena Condá, onde os corpos das vítimas do voo da Chapecoense estavam sendo velados. Em São Paulo, outra cena inédita, onde membros das quatro principais torcidas organizadas estiveram reunidos pacificamente, o que é mesmo muito difícil de se imaginar.

Meu saudoso avô, Tatão Rocha, na Sobrália da minha infância, quando queria demonstrar desconfiança em relação a alguma coisa, apontava o dedo indicador para os olhos e dizia: “Esse aqui é irmão desse aqui”. Infelizmente, vou imitar o velho Tatão e acreditar desconfiando, pois o acumulado de ódio, violência, desavenças, entre essas torcidas organizadas, não nos permite pensar diferente. Ou então seguirei o conselho do amigo comentarista de “peito aberto”, Flávio Anselmo, e “guardar a boca pra comer a farinha depois”.

A solenidade de sábado na Arena Condá, em Chapecó, correspondeu àquela dos colombianos, no Estádio Anastasio Girardot, tão celebrada no mundo inteiro. Nada foi mais comovente do que ver parentes das vítimas, muitos, muitos, durante todo o tempo da cerimônia acariciando caixões fechados, sem poder ver ou tocar os rostos dos familiares mortos no acidente.

Mas, foi no Rio de Janeiro, na histórica General Severiano, sede do Botafogo que, numa entrevista, alguém disse tudo numa frase concisa, sintetizando toda a dor, sofrimento de parentes, amigos, fãs, diante de uma tragédia sem igual no mundo: “Parece que cada um de nós tinha um parente dentro daquele avião”. Jair Ventura, jovem técnico do Botafogo. (Fecha o pano!).
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