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01 de dezembro, de 2016 | 17:39

Uma nova fênix

Manifestações de solidariedade à Chapecoense realizam sonho de uma grande união defendido pelo cacique Vitorino Condá

Ricardo Moraes/ Reuters
Torcedores da Chapecoense esperam por chegada dos corposTorcedores da Chapecoense esperam por chegada dos corpos
Depois de bater gigantes do futebol sul-americano, a Chapecoense voou para Medellín, na Colômbia, para fazer história. Com o encaixe de todos os fatores que consagram um campeão, é provável que o Atlético Nacional também quedasse vencido.

A tragédia impediu a materialização desse feito inédito para o futebol catarinense.
Parafraseando o imortal Millôr Fernandes, “sic transit gloria mundi”, toda glória do mundo é transitória, passageira. A provável conquista colocaria a Chapecoense no hall da fama mundial, mas a galeria dos campeões se renova a cada temporada.

Já o destino decidiu incluir a Chape na História de maneira indelével, com um impacto ainda mais forte como foi o despencar da aeronave contra o solo. Na mitologia, após viver 300 anos, a fênix renasce das próprias cinzas.

Ainda em meio ao clima de dor e a ansiedade pela identificação dos corpos das 71 vítimas, a Chapecoense atingiu o mesmo patamar dos grandes do cenário mundial. É raro ver uma reação tão uníssona por centenas de clubes, logo incorporada por autoridades, artistas e ícones da cena mundial.

Essas manifestações traduzem a união preconizada pelo Índio Condá, a mascote do Verdão do Oeste. O cacique Vitorino Condá, reza a lenda, lutou, junto ao governo brasileiro, para defender o direito do povo Kaingang à terra. Com essa tenacidade, conseguiu conter a ganância de grileiros que ocupavam vastas áreas e depois obtinham a titulação da propriedade.

Barriga verde de Siderópolis, Deonísio da Silva lembra que um colega da Academia Catarinense de Letras, Lucas Boiteux, assegurava que a etimologia de Chapecó, na língua caingangue, quer dizer “Lugar de onde se vê o caminho da roça”.

E como a solidariedade dessa vez ultrapassa o campo das costumeiras palavras bonitas e gestos vazios, a Chape, passado esse baque que jamais será esquecido, vai se reerguer e chegar ao topo nos gramados. Com a humildade e a persistência de quem labuta na roça, o clube catarinense terá o seu espaço na vitrine do futebol mundial, sem necessitar de três séculos para tal. Vamos ficar todos nessa torcida, como homenagem póstuma aos jogadores, dirigentes, membros da comissão técnica, e dos 21 profissionais de imprensa a bordo do fatídico voo LMI2933.

“Me poupe, ignorantes”
Em meio à consternação geral, o noticiário esportivo foi dominado por declarações de dirigentes e atletas argumentando que não viam mais sentido na realização da última rodada do Campeonato Brasileiro. No entanto, rezado o Pai Nosso, o couro comia grosso e as atividades continuavam no ritmo normal.

Coube a Marinho, conhecido pela frase “Sabia não, que merda, hein”, ao ser informado do terceiro cartão amarelo que o excluiria da próxima partida do Ceará, passar um pito geral na ansiedade como alguns teimam em esperar os jogos adiados deste domingo (4) para o próximo dia 11.

O atacante do Vitória postou em seu Twitter: “E tem gente ainda que falou de campeonato? Me poupe, ignorantes”. Marinho não é o primeiro e não será o último jogador que será zoado pelo português ruim. O anacronismo é que essa cobrança seja feita num país ultimamente na rabeira dos rankings de avaliação mundial do ensino.

Marinho, por sinal, fez um golaço contra o Coritiba, na noite de segunda-feira, mas horas depois a tragédia envolvendo seus colegas de profissão dominou o noticiário. Deveriam reprisar o lance várias vezes, especialmente na Toca da Raposa, onde alguns cabeças de bagre não honram a camisa mundialmente consagrada pela geração de Tostão, Dirceu Lopes & cia.

Depois da sonolenta pelada diante do Inter, “devido à falta de interesse no campeonato”, o gol de Marinho foi um castigo para quem tinha como favas contadas a queda do time baiano. Se jogo houver contra o Corinthians, a torcida deveria deixar o Mineirão entregue às moscas.

A origem de tudo
Quem acompanhou a homenagem prestada pelo Atlético Nacional e autoridades da Colômbia às vítimas da tragédia se emocionou com todos os capítulos do evento. Muitos, perplexos, se perguntavam como Medellín estava à altura de se equiparar a metrópoles de países conhecidos pela excelência da educação.

É que muitos ainda se lembram da cidade onde Pablo Escobar reinou absoluto até o início da década de 1990. Em menos de duas décadas, com investimentos pesados na educação e seriedade na administração pública, Medellín é destaque mundial por transformar radicalmente a vida da população.

Há muito precisamos realizar uma transformação a partir de uma educação de qualidade para todos. No entanto, jamais avançaremos nessa direção se persistir essa idolatria em torno de quadrilheiros infiltrados na vida política, dificultando a ação da Justiça articulada por Sérgio Moro.

Editoria de Esporte
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