26 de novembro, de 2016 | 23:06

Críticas e homenagens com a morte de Fidel Castro

De exemplo a ser seguido a tirano implacável, líder da revolução cubana é o assunto do fim de semana

Fidel Castro morreu no sábado, aos 90 anosFidel Castro morreu no sábado, aos 90 anos

A reação à morte de Fidel Castro foi de contrastes. Se por um lado líderes mundiais e esquerdistas lamentaram a perda de um “exemplo a ser seguido” e de um herói antimpério, autoridades ressaltaram o extremismo e cubanos que moram nos Estados Unidos comemoraram.

A morte de Fidel foi anunciada neste sábado pelo seu irmão, o atual presidente de Cuba Raúl Castro, em um pronunciamento transmitido pela televisão estatal do país. O ex-ditador morreu à 1h29 (horário de Brasília), aos 90 anos, na capital Havana.

A deputada estadunidense Ileana Ros-Lehtinen, uma cubano-americana e republicana de Miami, disse em comunicado: "um tirano está morto e um novo começo pode amanhecer sobre o último bastião comunista restante do hemisfério ocidental."

Em Miami, na área circundante do restaurante Versailles, onde vivem muitos exilados que fugiram da revolução cubana, as pessoas tomaram as ruas nas primeiras horas deste sábado e passaram longas horas reunidas para celebrar a morte de Fidel Castro."Este é o dia mais feliz da minha vida, os cubanos estão finalmente livres", disse Orlidia Montells, uma mulher de 84 anos.
Gaston De Cardenas
Cubanos comemoram notícia da morte de Fidel Castro no distrito de Little Havana (Pequena Havana, em tradução livre), em Miami Cubanos comemoram notícia da morte de Fidel Castro no distrito de Little Havana (Pequena Havana, em tradução livre), em Miami


Embargo
Em retaliação ao regime castrista desde 1960 vigorou "el bloqueo" ou embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. A justificativa foi a expropriação das propriedades de cidadãos e companhias estadunidenses em solo cubano, pelos revolucionários. A Lei Helms-Burton proibiu cidadãos e companhias dos EUA de realizar negócios dentro da ilha ou com o governo cubano.

Depois de 54 anos, em julho de 2015, Estados Unidos e Cuba iniciaram uma reaproximação para o fim do embargo, mas o desfecho desse processo depende do Congresso dos EUA, dominado pelos republicanos, que sempre se manifestaram contra o rompimento do bloqueio. O primeiro passo foi dado, pelo presidente Barack Obama, que reatou as relações com Cuba. Mas o presidente eleito, Donald Trump, com a franqueza habitual, em vez de se associar a manifestações de condolências pela morte de Fidel Castro, proferiu duras críticas para destacar o comportamento ditatorial do longevo líder da revolução cubana. Nesse cenário, o futuro presidente dificilmente se ocupará de uma reaproximação com o governo cubano, ainda sob o controle do clã Castro.

Futuro incerto
Com a morte de Fidel, Cuba chega à era “pós-castrismo” em um cenário no qual o mandato de seu irmão Raúl tem data de validade. Fidel afastado do poder em 2006, em função da velhice e da doença. O irmão, Raúl Castro, herdou o cargo e continuou o único regime comunista do Ocidente. Deve deixar o posto em 2018, se cumprir o que anunciou. Mas a forma como se dará o processo sucessório é desconhecida.

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Tributo 
Líderes mundiais próximos ao ícone revolucionário fizeram tributos. Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, disse que Castro deixou uma marca duradoura em seu país e na história mundial."Fidel manteve seu território e fortaleceu seu país na época do mais severo bloqueio norte-americano, no momento da pressão maciça sobre ele", disse Gorbachev, segundo a agência de notícias Interfax.

"No entanto, ele levou seu país do bloqueio para o caminho do desenvolvimento auto-sustentado e independente."Num telegrama de condolências aRaúl Castro, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou o falecido líder cubano de "um exemplo inspirador para muitos países".

Na Venezuela, aliado de longa data de Cuba e firme opositor da postura política dos Estados Unidos, o presidente Nicolás Maduro disse que Castro inspirou e continuará a inspirar seu país."Continuaremos vencendo e continuaremos lutando, Fidel Castro é um exemplo da luta para todos os povos do mundo. Iremos adiante com seu legado", disse Maduro à televisão Telesur por telefone.

Na Bolívia, onde Ernesto "Che" Guevara morreu em 1967, em uma tentativa fracassada de exportar a revolução cubana, o presidente Evo Morales disse, em declaração: "Fidel Castro nos deixou um legado de ter lutado pela integração dos povos do mundo ... A partida do Comandante Fidel Castro realmente dói."

O presidente equatoriano, Rafael Correa, disse: "Um grande deixou-nos, Fidel morreu, viva Cuba, viva a América Latina!"

No Brasil, o presidenteMichel Temer afirmou em comunicado que "Fidel Castro foi um líder de convicções. Marcou a segunda metade do século 20 com a defesa firme das ideias em que acreditava."

Os ex-presidentes petistas Lula e Dilma Rousseff enalteceram o líder revolucionário. Dilma ressaltou o clima de tristeza com a notícia para todos aqueles que lutam pela redução da desigualdade social. Já Lula, o considerou "o maior de todos os latino-americanos".
Ramon Espinosa
Pessoas deixam flores e imagens de Fidel Castro em um memorial um dia após sua morte em Havana, CubaPessoas deixam flores e imagens de Fidel Castro em um memorial um dia após sua morte em Havana, Cuba


papa Francisco afirmou que a morte de Fidel é uma notícia triste e que vai rezar por ele em suas orações. "Expresso meus sentimentos de pesar a vossa excelência (Raúl Castro) e aos demais familiares, assim como ao governo e ao povo desta amada nação", disse Francisco em comunicado transmitido em espanhol. 

África 
O presidente sul-africano, Jacob Zuma, agradeceu o líder cubano por sua ajuda e apoio na luta para derrubar o apartheid."O presidente Castro se identificou com nossa luta contra o apartheid. Ele inspirou o povo cubano a se juntar a nós em nossa luta contra o apartheid", declarou Zuma em comunicado.

O presidente francês, François Hollande, lamentou a perda de uma figura importante no cenário mundial e celebrou a aproximação entre Havana e Washington, embora salientando as preocupações com os direitos humanos sob o regime de Castro.

"Fidel Castro era uma figura imponente do século XX. Ele encarnou a revolução cubana, em suas esperanças e desilusões subsequentes", disse Hollande em comunicado." A França, que condenou os abusos de direitos humanos em Cuba, igualmente desafiou o embargo norte-americano a Cuba, e a França ficou satisfeita de ver os dois países restabelecerem o diálogo e retomarem os laços entre si,", acrescentou o líder do Partido Socialista francês.
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