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12 de novembro, de 2016 | 08:43

Música de uma nota só ou uma questão de direito?

Prof. José Amilar da Silveira

Essa é a tecla fundamental do piano. Vale a pena insistir nela. Mais que uma música de uma nota só, é uma questão de direito, questão de reconhecimento das diferenças, questão de vida. Há que se chamar a atenção para o assunto. Vale gritar com garganta solta e pedir aos ventos que levem esse brado aos quatro cantos de nossa terra. O atendimento a crianças e jovens talentosos foi deixado de lado pelo meio educacional. São raras as iniciativas de apoio a essas crianças e jovens.

Esse atendimento não tem feito parte das propostas pedagógicas da grande maioria das escolas. As universidades, faculdades, inclusive as que formam professores, educadores e especialistas na área, são, na maioria das vezes, omissas quanto a esse assunto, e quando muito reservam-lhe um pouco de tempo para breves e imprecisas referências.

Poucas instituições da educação básica e do ensino superior promovem algum tipo de atendimento a esses educandos, e, quando o fazem, fazem-no quase sempre como programas avulsos, descolados da proposta pedagógica institucional ou do seu projeto político pedagógico.

Esse descaso ocorre mesmo onde não poderia acontecer, como nas faculdades de pedagogia, de psicologia, de medicina. Embora não seja doença, a superdotação pressupõe envolvimento multidisciplinar e multiprofissional para o apoio educacional às pessoas com essa característica. E os profissionais formados por esses cursos precisam conhecer a fundo essa ciência.

Nem mesmo em cursos de psiquiatria, de pediatria, áreas que obrigatoriamente deveriam dominar o assunto, ensina-se a lidar com as altas habilidades, a superdotação.

A pediatra Dra. Paula Sakae, mãe de criança superdotada e que cursou medicina na USP, nunca teve nenhum conteúdo relacionado a isso durante o curso. É ela quem chama atenção para o que foi acima colocado. “Só acordei para o assunto, na medicina, porque corri atrás de informações em centros especializados”, diz ela.

Quando se fala em educação especial, muitos pensam logo na área da educação que atende a crianças, jovens ou pessoas com alguma deficiência, deficiência física, intelectual, mental. Isso é sim educação especial, área importantíssima de atendimento específico a pessoas com carências caracterizadas.

Mas, a educação especial tem uma outra área de atuação, que é o atendimento às crianças, jovens, pessoas talentosas, que a legislação define como superdotadas ou com sinais de altas habilidades.

Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação defina muito bem as duas áreas de atuação da educação especial, o assunto referente à superdotação continua sendo descuidado pela sociedade, pelos educadores, pelas escolas, pelos sistemas de ensino e pelos governantes.

Existem barreiras que dificultam a melhor compreensão do assunto, como a desinformação e o preconceito, e elas contribuem fortemente para a falta de mobilização em torno do apoio e do desenvolvimento do talento. Outra barreira é a confusão que se faz entre o superdotado e o gênio. Os gênios são realmente pessoas com altíssimas habilidades, grandemente talentosos e a maioria deles só teve essa genialidade reconhecida bem mais tarde, na vida adulta, já mais velhos ou mesmo, depois de mortos. A expressão de seu talento dependeu de muito suor, de trabalho, de dedicação. Formaram-se trabalhando o seu talento. Os gênios são poucos e raros.

Já as crianças e os jovens talentosos com sinais de superdotação, altas habilidades, na quase totalidade das vezes, não se confundem com o gênio. Quem são eles? São crianças e jovens, pessoas comuns, como quaisquer outras que encontramos andando pelas ruas de nossas cidades. Essas mentes brilhantes não nasceram e não nascem prontas. Vão se desenvolvendo no correr do tempo, com muito esforço.

E não há uma separação absoluta entre tais pessoas e os seres humanos “comuns” como você e eu. Nas escolas, estão misturadas com os demais alunos nas carteiras das salas de aula, andando pelos corredores, brincando nos pátios. Elas existem sim. As estatísticas e estudos de renomados pesquisadores dizem, que, no Brasil, são mais de três milhões, embora o Censo Escolar divulgado pelo MEC não revele isso. O meio educacional não sabe identificar essas crianças e jovens, e o Censo Escolar fica com informações imprecisas, destorcidas.

Quem são eles? Onde estão? Pode ser aquele aluno que tira boas notas em algumas matérias na escola, tem facilidades com asbtrações, compreensão rápida das coisas, facilidade em memorizar – o superdotado acadêmico. Pode ser aquela menina curiosa, imaginativa, que brinca com as ideias, tem respostas bem-humoradas e diferentes do usual, a superdotada criativa.

Pode ser o que gosta de cooperar e que lidera quem está ao seu redor, aquele que é sociável, que prefere estar com os outros e não de ficar sozinho, o superdotado líder. Pode ser o habilidoso em expressar sentimentos, pensamenos e humores através da arte, dança, teatro ou música. Pode ser o talentoso em esportes e atividades que requeiram o uso do corpo ou parte dele. Tem excelente coordenação psicomotora.

O talentoso, o superdotado, com altas habiliades certamente é aquele que se torna totalmente envolvido pela atividade de seu interesse, resiste à interrupção, facilmente se chateia com tarefas de rotina, esforça-se para atingir a perfeição e neccesita de motivação externa, de apoio, de orientação para completar um trabalho percebido como estimulante. Está bem acima da média do grupo. Às vezes, tem comportamento diferente na sala de aula. Há aqueles que ficam escondidos, calados, fechados na sua timidez ou no mundo de seus sonhos e não são notados, não chamam a atenção.

Há aqueles outros que são ativos, inquietos, brincalhões, questionadores, sarcásticos às vezes, sempre levantando a mão e se oferecendo para dar alguma resposta. Têm brilho nos olhos. O professor perspicaz percebe, na convicência da sala de aula, no dia a dia, quem é esse aluno. As crianças e jovens talentosos existem sim e estão aí, bem na nossa frente.

Prof. José Amilar da Silveira. Diretor do Centro de Estudos Profª Zenita Guenther SCHOLA/EDUCAÇÃO Assessoria e Consultoria.
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