05 de novembro, de 2016 | 08:03

Candonga: a próxima tragédia anunciada

Represa de hidretlética que reteve 10 milhões de metros cúbicos de lama da mineração corre o risco de se romper a qualquer momento

Leandro Taques
A represa da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves é mais conhecida como usina de Candonga  entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata de Minas GeraisA represa da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves é mais conhecida como usina de Candonga entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata de Minas Gerais


A Marcha “1 Ano de Lama e Luta”, formada por um grupo de pessoas que saiu da foz do rio Doce em Regência (ES) em direção a Mariana, passou esta semana pela Usina Hidrelétrica de Candonga.

Um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens, Thiago Alves, explica que Candonga é uma barragem que gerou a expulsão de comunidades, destruição ambiental em grande escala e ainda mantêm um passivo social com a população local.

O militante do MAB relata que o empreendimento é responsável por um histórico de violação de direitos humanos e de violência contra a população que vivia na região, alagada para a construção da barragem, utilizando inclusive o aparato policial.

Desde sua construção, a barragem apresenta problemas. Caetano dos Santos, um dos moradores da região alagada, desapareceu durante as obras. O reassentamento foi feito de forma displicente, e muitas pessoas, como garimpeiros do município de Rio Doce, não receberam nenhum tipo de indenização. Até hoje, 12 anos após o licenciamento que autorizou o funcionamento da hidrelétrica, muitos ainda lutam pelos seus direitos.

Risco iminente

“A barragem agora apresenta novo risco de rompimento, e está vazia”, afirma Thiago. A Vale adquiriu um terreno de 150 hectares ao lado do paredão da hidrelétrica, não se sabe ainda se para a criação de nova barragem ou com a intenção de outros projetos. Candonga segurou 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos na ocasião do rompimento que faz 1 ano e que motiva a Marcha.

Nesta parada, os atingidos ficaram especialmente impressionados com a dimensão da barragem, ou melhor, chocados com um espaço que, segundo todos eles, será um novo desastre como o que lhes tirou de seus cotidianos e os levou à Marcha. O pescador Gilmar Belém de Jesus, 46, um dos atingidos do Espírito Santo que não foi reconhecido pela Samarco e não recebe nenhum auxílio da empresa, diz que “vai ser mais um crime, o ser humano só sabe destruir”.

A pescadora Eliane Valque, 47, conta suas impressões sobre a hidrelétrica de Candonga. “Para mim ela é muito famosa. Eu tenho medo dela. Eu tenho medo de ser atingida novamente lá na minha região (Espírito Santo)”.

Weste de Souza Martins, 23, que após ser atingido pela barragem do Fundão em sua região de Cachoeira Escura (MG), conta que é muito emocionante ver o Rio Doce e a barragem. “A água mesmo parece que evaporou. É só lama, só rejeito. É tudo uma vida que foi pra lama, que a Samarco criou. Eu estou na luta e não vou parar até a Vale, a Samarco e BHP tomarem as devidas providências.”

Os atingidos pela barragem de rejeitos que destruiu a bacia do rio Doce se mostraram indignados em ver o rio, e especialmente com a hidrelétrica de Candonga, pois trouxe o sentimento de medo de uma nova tragédia. Com o período de chuvas se aproximando, a própria empresa se preocupa com as consequências de um possível rompimento.

Estes novos militantes do MAB se emocionaram com a visão de algo similar ao que passaram há 1 ano. Foram ouvidas histórias, relatos e muita preocupação com o futuro do rio Doce e do mar. Os atingidos têm medo de sofrer novamente com a negligência da empresa caso esta barragem não comporte a água esperada neste período.

Para os pescadores, como Eliane, não há mais peixe, e para jovens, como Wesle, somente um futuro cor de morte, igual as margens do Rio Doce. A Vale e BHP agem, via Samarco, de forma a destruir mais ecossistemas de Minas Gerais, destruindo e inundando cidades para criação de barragens e espaços que comportem a extração de minério de ferro, produto que é exportado quase completamente.

A hidrelétrica de Candonga representa um risco para os já atingidos e para a população que mora perto da área, pois seu futuro, se depender da Vale, é ingressar as fileiras do MAB em suas marchas. As mineradoras não se importaram com vidas há um ano e dificilmente se importarão caso novo rompimento ocorra.

Mais:
Atividades marcam um ano da catástrofe ambiental da mineração
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Comentários

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Delcio Goncalves Vasconcelos

23 de novembro, 2016 | 09:37

“Bom dia a todos, diante dessa matéria, muito me preocupa pois tenho mãe e irmãos que mora em ponte nova gostaria de saber informações reais do que realmente é possível acontecer caso ocorra rompimento se alguém tiver informações me avise desde já obrigado que a paz de Cristo esteja com todos...”

José Carlos Oliveira

08 de novembro, 2016 | 07:05

“O anônimo do comentário, além de ser um pelego facilmente reconhecido, é covarde. Esconde-se no anonimato da internet para falar asneiras e defender essa empresa assassina. Coloque sua cara para nós te conhecermos, cidadão. E outra coisa, agora a culpa da lama é da mídia? A mídia tem a obrigação de denunciar e mostrar e essa lambança. E tem feito pouco, diga-se. Ademais, por traz da desculpa dos empregos gerados está a destruição da natureza de nosso estado e o acúmulo de capitais do “primeiro mundo”. Estou contigo, Aline, pau no “anônimo”.”

Antonio

07 de novembro, 2016 | 14:08

“Aline,

Veja bem, esse espaço é democrático e apenas coloquei minha opinião, o mundo está tomado de pessoas como vc, mergulhada no ódio e desprezo da sociedade que por hora talvez a reduza a pó devido a sua tamanha falta de caráter em ameaçar um PRF via notinhas de site de notícias, mas te adianto, seja mais adulta e exponha suas opiniões de forma mais respeitosa, afinal vc pode um dia precisar de um emprego da Samarco, ou quem sabe até um filho seu. Se vc leu bem aquilo que disse, minha crítica foi para mídia que cria espetáculos para que leitores como vc ligue a metralhadora e fuzile qualquer chance do outro se defender, ai te aconselho denovo, um dia vc mesma também precise de ter direito a defender-se. No mais, fique bem, supere sua TPM e que Deus esteja com você.

Obs: Se quiser marcar pra tentar ''quebrar'' minha cara, só dizer ... mas já adianto, leve muita gente .. rsrs td de bom!”

Aline

06 de novembro, 2016 | 19:47

“Larga a mão de ser filho de uma porca, anônimo. Uma empresa provoca a maior catástrofe ambiental do Brasil, assassina 19 pessoas, mata um rio inteiro, provoca uma destruição e prejuízo para milhares de pessoas e você vem defender a Samarco?. Se eu te pego pela frente, quebro sua cara, filho de uma égua (com o perdão do animal).”

Antonio Anonimo

06 de novembro, 2016 | 11:58

“Triste é ver a empresa tentando restaurar tudo aquilo que foi destruído e não conseguir devido a uma mídia manipuladora e ultrapassada feito a nossa, multas aplicadas, licenças cassadas e operação parada para uma empresa de 4000 funcionários, um ano de custos milionários e ainda assim a Samarco tenta sobreviver no meio a lama criada por ela e a mídia brasileira. Torço pra que um dia ela realmente se recupere e volte a operar de forma segura e sustentável e que essa mesma mídia exploradora a reconheça por isso.”

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