23 de agosto, de 2016 | 13:45

Comarca de Guanhães desenvolve trabalho com agressores

Os Grupos reflexivos visam combater a violência contra a mulher, por meio da conscientização dos homens agressores.

TJMG
Comarca de Guanhães promove grupos reflexivos com homens envolvidos em violência domésticaComarca de Guanhães promove grupos reflexivos com homens envolvidos em violência doméstica
Uma denúncia de violência contra a mulher é feita a cada 7 minutos no Brasil. O dado foi levantado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, que utilizou balanços relativos a 2015 do Ligue 180, número da Central de Atendimento à Mulher.

O artigo 35, inciso V, da Lei 11.340/2006, popularmente conhecida como Maria da Penha, prevê a instalação de Centros de Educação e Reabilitação de Agressores para combater a violência doméstica e familiar. Na Comarca de Guanhães, o Grupo Reflexivo de Autores de Situação de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher cumpre essa proposta, atuando para diminuir o número de ocorrências dessa natureza por meio da educação e de medidas preventivas.

Alarmados com o volume de processos sobre agressões físicas e psicológicas contra a mulher na Comarca de Guanhães, no Vale do Rio Doce, o juiz Leonardo Guimarães Moreira e o promotor de justiça Guilherme Heringer de Carvalho Rocha idealizaram o grupo reflexivo em 2015. Para o juiz da 1ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais de Guanhães, “a motivação foi, também, dar exemplo de atitudes de prevenção às mulheres, para que elas denunciem assim que sofrerem a violência doméstica”. Os agressores são encaminhados aos grupos reflexivos por determinação judicial, como medida protetiva. Segundo o juiz Leonardo Guimarães, “promotores têm pedido a prisão por descumprimento da medida para quem não comparece às reuniões do projeto”.

Alcançando a sua sexta edição, os grupos reflexivos são realizados um por vez, com duração de seis encontros quinzenais. Os participantes têm a oportunidade de desconstruir a conduta violenta contra a mulher, conscientizar-se das consequências da violência, tanto para o agressor quanto para a vítima, e desestimular a cultura patriarcal, em que o homem é dominante. Ou seja, o entendimento que se busca transmitir é que não basta punir o agressor, é preciso criar condições para que o ciclo de violência se rompa por meio de instrução e reflexão.

O apoio voluntário de magistrados, servidores, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros, pedagogos e líderes religiosos, além de representantes do Ministério Público (MP), é imprescindível para a manutenção da iniciativa. Embora o projeto não tenha cunho religioso, pastores e padres colaboram com o desenvolvimento espiritual dos participantes, que, ao absorver e discutir conteúdos sobre perdão, evolução e Deus, adquirem mais sensibilidade para algumas questões e são estimulados a experimentar o desejo de mudança.

De acordo com a assistente social judicial e coordenadora do projeto, Lidiane Anício, os temas abordados em cada encontro variam conforme a demanda e a característica daquele grupo. “Se a grande maioria é usuária de bebidas alcoólicas, convidamos uma enfermeira para falar sobre os efeitos do álcool no organismo e na vida da pessoa”, afirma. Já houve turma composta por muitos pais. Em função disso, um pedagogo falou sobre o poder do exemplo e da importância da presença na criação dos filhos, relata Lidiane.

O plantio árduo e solidário já oferece colheita gratificante. De acordo com a juíza da 2ª Vara de Guanhães, Patrícia Napoleão, “ao longo do primeiro ano de projeto, apenas dois dos participantes figuraram em novos processos de violência doméstica”, afirmou. A magistrada celebra os resultados expressivos da intervenção. “Mulheres vítimas de violência doméstica comumente procuram o setor de serviço social do fórum para contar das mudanças positivas no comportamento do companheiro, do marido ou dos filhos após a participação no grupo”, ressaltou.

Os grupos reflexivos servem – como o próprio nome sugere – para refletir. Mas, como se depreende da informação dos envolvidos, trata-se de uma reflexão direcionada tanto aos agressores quanto ao coletivo, porque a violência de gênero tem origem nos estereótipos construídos e seguidos pela sociedade, que estabelece uma diferença entre mulheres e homens e suas funções. O projeto vai ao encontro da formulação de uma recente campanha da agência ONU Mulheres: “Quando uma mulher é agredida, toda sociedade é agredida também”.
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