11 de agosto, de 2016 | 17:03

Os jovens inventaram um novo amor

Matheus Henrique

A XX jornada da Escola Brasileira de Psicanálise deste ano tem trabalhado sob a perspectiva de conseguir dar conta de compreender o que se pode dizer dos chamados “jovens.com”.

Uma das grandes preocupações tem sido as maneiras de laços que podem estar a se desenvolver entre eles. Os jovens falam com o corpo, com a língua, com o ser, com a rede, com a pele, com o falasser. Lalingua dos jovens, esta é a discussão deste tempo. Uma das preocupações parece estar frente a, como as redes sociais podem estabelecer possíveis vínculos.

Todavia, pode ser importante pensar em como se tem estabelecido o amor neste contexto. Os jovens amam? Eles estão dispostos ao amor?

O amor não é algo fácil. É trilha difícil de se percorrer, porque nela encontra implicações monstruosas a se ter que lidar com a inscrição do outro e sobretudo a inscrição de si no desejo do outro. É clara esta passagem na musica do compositor brasileiro Djavan. Em uma canção chamada Faltando um Pedaço, ele diz “o amor é como um laço, um passo pra uma armadilha. Um lobo correndo em ciclo para alimentar a matilha. (...) tanto engorda quanto mata, feito desgosto de filha”.

Não há o que se completar no amor. O que há, é se saber lidar com o não-completar-se do amor. Não há relação sexual, e amar é dar o que não se tem a quem não o quer; dois aforismas lacanianos para representar respectivamente a dificuldade de se inscrever no corpo do outro, e a dificuldade de ter que dar o que não se tem para poder amar, como uma maneira de ter que inventar e reinventar-se constantemente ao outro.

Sim, os jovens amam. Mas eles amam através de um curto-circuito interessante da virtualidade. Parece que o amor dos jovens tem sido cada vez mais coisificado. A descrença no grande outro tem sido cada vez mais marcante tanto quanto o imaginário tem se inflado.

O abraço, o beijo, a foto, o “eu te amo”, enviado virtualmente parecem não ter as mesmas funções da experiência fora da simbolização do Real. Ama-se, mas um novo amor, aliás, uma nova forma de se fazer amor. Os jovens inventaram uma nova forma de se amar. Um amor que se faz falado pela linguagem própria dos circuitos curtos.

É como uma droga, acessa rapidamente o gozo, mas gera uma forma inócua de lidar com o prazer, o que dura. Talvez o que se quer marcar aqui, é uma desproporcionalidade entre laços e amores. Quanto mais laços são estabelecidos, menos amores são condescendidos.

Eis a frase lacaniana de que “solo ele amor face condescender el goce al deseo” (somente o amor faz o gozo condescender ao desejo). Ou seja, é somente quando existe o amor, que se consegue experimentar um encontro com o desejo, indiferentemente ao gozo.

“A linguagem é o corpo, e frente ao império das imagens o corpo se torna semblante de uma possibilidade de amores virtuais”. É bom sentir-se jovem e amar como eles, talvez o difícil seja aprender a lidar com um amor recebido tão rapidamente. Um novo amor. Mas, não há de se preocupar com isto, alias, nunca se teve garantias de que outras maneiras de amar seriam valiosas e dariam certo. O amor sempre fica “faltando um pedaço”.

Matheus Henrique. Psicólogo. Especialista em Clínica Psicanalítica na Atualidade: considerações de Freud e Lacan – PUC MG. Mestrando em Psicologia (teoria psicanalítica), pela UFMG.

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Comentários

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Maria de Fátima Pereira de Brito

15 de agosto, 2016 | 13:39

“Muito bom!Assinado por Mateus Henrique não podia ser diferente!
Adorei.”

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