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11 de agosto, de 2016 | 17:00

O que esperar de um Espírito Olímpico?

Beto Oliveira

Existem algumas experiências que operam certos “milagres” em nós. Alguns se transformam pelo Estudo, outros pela Arte, outros ainda pelo Amor. Evidentemente, por conta das Olimpíadas no Rio de Janeiro, a pauta principal desses dias é o Esporte.

E assim, mesmo aqueles que são pouco tocados pela prática desportiva, ou os que apresentaram severas críticas (a maioria delas justas) a alguns abusos da organização do evento, acabam descobrindo, redescobrindo ou reconhecendo o valor que as disputas esportivas possuem. Influenciados também por apelos midiáticos, muitas pessoas (atletas ou não, fãs de uma modalidade ou apenas expectadores mais passivos) estão sentindo a potência que o Esporte representa na transformação humana, na formação de um espírito de coletividade, na disciplina, na disposição à superação, no orgulho nacional, no humanismo ou, em alguns casos, no caráter pessoal.

Muitas histórias, com diferentes destinos, são recuperadas pelas propagandas, por repórteres ou por atletas e ex-atletas. O maratonista que teve sua corrida interrompida, as atletas de Coreias distintas que tiraram uma foto unidas, a maratonista que superou dores musculares com o objetivo fixo de cruzar a linha de chegada, os atletas negros que venceram a maioria das provas em um torneio organizado pela Alemanha nazista, ou ainda a judoca negra que no último evento foi insultada e hoje ressurge com a medalha de ouro nas mãos.

Histórias felizes e tristes, dos jogos atuais ou de outros jogos, que carregam ensinamentos, lições, exemplos e inspirações, tudo temperado com a emoção da expectativa, da torcida e, com certa variabilidade, do triunfo ou da decepção.

Talvez seja isso que tenha levado Nelson Rodrigues a comparar o futebol (e é justo estender a frase a muitos outros esportes) a uma arena de teatro. De certo é essa gama de histórias emocionantes que fazem com que vários comentaristas bradem por algo chamado “O Espírito Olímpico”.

Por mais abstrato que seja o tal Espírito Olímpico, e não tenho pretensões aqui de delimitar uma definição, penso que podemos destacar dois elementos interessantes no conjunto dessas histórias que nos ajudam a pensá-lo.

O primeiro é a capacidade que o Esporte tem de trabalhar características bem diversas que ultrapassam o desempenho físico. O segundo é a vocação do Esporte, a exemplo de uma narrativa, em transmitir ensinamentos também de ordem mais ampla do que o uso do corpo.

Temos aí alguma dica do que poderíamos esperar de um Espírito Olímpico e que muito diz respeito à própria origem do evento. Afinal, sabemos que os jogos foram criados como culto a Zeus e pretendia mostrar ao Deus do Olimpo o que os homens tinham de melhor.

Por isso os jogos também serviam para fomentar a paz e a harmonia entre as cidades. Assim, embora haja uma grande preocupação em saber quem tem o melhor desempenho físico, os jogos podem também servir para expor a Zeus, ou ao mundo, o que a humanidade tem de melhor, seja no âmbito do corpo ou da alma. E se os gregos apostavam na desenvoltura do corpo para isso, talvez seja porque eles não haviam ainda separado tanto o corpo da mente como estamos, infelizmente, habituados.

Logicamente, muitos abusos e facetas nefastas da humanidade também são encontrados nos jogos, estejamos em Berlim de 1936 ou no Rio de 2016. Como exemplo desse lado nefasto temos a remoção de famílias, o racismo, o cerceamento da liberdade, a homofobia e o machismo, mas reservemos a expressão Espírito Olímpico àqueles que apresentam o que a humanidade tem de melhor, tenham eles alcançado ou não o pódio. E aproveitemos o momento para questionar: afinal, o que temos de melhor?

Beto Oliveira. Psicólogo. Mestre em Estudos Psicanalíticos pela UFMG. Coordenador do CEPP (Centro de Estudos e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço). Autor do romance “O dia em que conheci Sophia” e da peça teatral “A família de Arthur”.
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