10 de agosto, de 2016 | 01:39

Alta temporada no Caparaó

Lugar de rara beleza preserva um santuário para espécies raras da fauna e flora. Além disso, possui histórias memoráveis

Apenas 260 quilômetros separam Ipatinga da cidade Alto Caparaó, que sedia uma das duas entradas do Parque Nacional do Caparaó (Parnacaparaó), administrado pelo Instituto Chico Mendes para a Preservação da Biodiversidade (ICMbio). Com probabilidade menor de chuva, os meses de junho, julho e agosto são considerados a alta temporada na região.

A movimentação de turistas do Brasil inteiro, e até do exterior, reforça a economia local. Hotéis, pousadas, restaurantes, que vão do tradicional mineiro a alta gastronomia, atendem a demanda de gosto variado.

A estimativa é que entre 60 e 80 mil pessoas passem por Alto Caparaó, nesta época do ano. Nem todos vão ao Parnacaparaó e apenas visitam as cidades do entorno, como Alto Jequitibá, Carangola, Espera Feliz, Dores do Rio Preto, entre outras.

O que leva tanta gente ao Circuito Turístico do Caparaó? Belo visual, atendimento agradável da população de uma região que vem se preparando há anos para exploração sustentável da atividade do turismo ecológico e de aventura, estão entre as respostas.

O ponto alto da visita é o ingresso ao Parnacaparaó. A entrada, tanto por ser feita pelo lado mineiro, com a portaria de Alto Caparaó, quanto pelo lado capixaba, com a portaria no distrito de Pedra Menina, no município capixaba de Dores do Rio Preto. Vale lembrar que 80% do PNC estão no lado capixaba. Minas Gerais detém os outros 20%.

Seu negócio é aventura?

Para quem vai subir a serra é preciso saber o que quer. Para quem está hospedado em Alto Caparaó o programa pode ser uma subida de carro por uma tortuosa estrada de serra, para se chegar à Tronqueira, último acesso de veículos.

É bom lembrar que motos e bicicletas são proibidas no local, mas quem não quiser subir no próprio carro, pode embarcar nos jipes e picapes que partem com os turistas a todo instante da cidade de Alto Caparaó.

Neste ponto é possível admirar a paisagem nos mirantes (são dois na subida e um no estacionamento) ou um passeio até o Vale Encantado.

A Tronqueira possui um acampamento, vestiários, um mirante e acesso ao Vale Encantando, uma extensa área com cachoeiras e piscinas naturais, atrativos perfeitos para o verão.

Por falar em cachoeiras no verão, as quedas do rio Caparaó, no Vale Verde, são outro grande atrativo do Paranacaparaó, no verão. Lá existe uma área com mais de cinco quilômetros de extensão com cachoeiras e piscinas naturais em meio a Mata Atlântica. Fica a apenas 1,5 quilômetro da portaria no lado mineiro.

Para subir ao topo

Da Tronqueira, para quem gosta mesmo de aventura, pode-se colocar a mochila cargueira nas costas e rumar para o Terreirão, em uma trilha, com 3,7 quilômetros de extensão.

No Terreirão, o acampamento base, os atrativos vão desde o visual do pôr do sol, à confraternização com pessoas de todo canto do país, à lendária casa de pedra e até o descanso e ambientação com a serra para o ataque a um dos cinco picos localizados dentro do Parnacaparaó. O Bandeira está a 4 quilômetros do Terreirão, com acesso por uma trilha por trechos bastante íngremes.

Antes de embarcar, prepare a viagem, o condicionamento físico, e agende sua entrada no Parnacaparaó pelo site www.icmbio.gov.br/parnacaparao/. Na alta temporada a entrada tem número limitado de turistas. Principalmente nos fins de semana, lota a capacidade das áreas dos camping Tronqueira e Terreirão (no lado mineiro) e Macieira e Casa Queimada (lado capixaba).

Colabore

No acampamento-base conhecido como Terreirão não existem mais lixeiras. Recentemente, a gerência do parque mudou a política de destinação de resíduos gerados pelos visitantes da unidade de conservação. Agora, quem sobe tem que trazer seu lixo de volta à portaria. Além das placas com alertas por todos os lados, os fiscais do parque também mantêm a observação do cumprimento das regras.

Também acabou o serviço de tropas de mulas para o transporte de cargas de campistas da Tronqueira para o Terreirão. Agora, o aventureiro precisa levar sua própria carga. "Menos bagagem, menos lixo", observa um dos fiscais.

No Terreirão, a propósito, não existe eletricidade, os chuveiros são frios e a água abundante. Os banhos precisam ser rápidos, principalmente no período de temperaturas mais baixas. O risco de hipotermia é iminente e, quem se arrisca sob a água gelada sofre as consequências.

Na madrugada de 25/6 a temperatura no Terreirão caiu a -5,6 graus centígrados. Toda a água que estava lá congelou.

Altitude

O Parque Nacional do Caparaó tem inúmeros atrativos. O mais famoso deles, entretanto, é o Pico da Bandeira, o mais visitado em uma área que chega a 31,8 mil hectares.

Com a imponência de seus 2.891,32 metros de altitude, o Bandeira ainda é considerado o mais alto ponto inteiramente localizado em território nacional, visto que os picos da Neblina e 31 de Março possuem alguns metros a mais, entretanto, localizam-se na divisa do Brasil com a Venezuela, na Amazônia.

No Parque Nacional do Caparaó estão cinco dos dez mais altos pontos do Brasil. Depois do Bandeira estão na vizinhança, o Pico do Cruzeiro, com 2.852 metros; Pico do Calçado (2.849 metros); Pico do Calçado Mirim (2.818 metros); e Pico do Cristal. Este, com 2.769,05 metros, é o único localizado exclusivamente em Minas Gerais.

O Cristal é o ponto culminante dos mineiros. Tem esse nome por causa da grande quantidade de formações cristalinas de quartzo em sua base e no topo.

O Parnacaparaó possui ainda outros pontos culminantes, todos em solo Capixaba: Morro da Cruz do Negro (2.658 metros), Pico da Pedra Roxa (2.649 metros), Pico dos Cabritos ou do Tesouro (2.620 metros), Pico do Tesourinho (2.584 metros) e a Pedra Menina (2.037 metros).

Contam os nativos, que o Morro da Cruz do Negro tem esse nome porque, antes de 1961, quando a área foi transformada em parque nacional, um negro subiu para tocar o gado criado por fazendeiros no local. Houve uma frente polar repentina, com queda abrupta da temperatura e o homem morreu congelado.

Santuário ecológico

Além de ser um importante atrativo natural de turistas, o Paranacaparaó tem outra importância, talvez até mais relevante. É um santuário de várias espécies da fauna e flora, tanto na Mata Atlântica, que reina nas partes mais altas, quanto outras espécies localizadas nas encostas e campos de altitude, como a popular bengala (espécie de capim, que mais parece um bambu), endêmica na serra, quanto a amarílis, planta bulbosa, com folhas que se assemelham a flores.

Entre a população de animais, podem ser encontrados exemplares ameaçados de extinção, como a onça-pintada, a jaguatirica, o gato-mourisco, a jacutinga, o gavião-real, anta, macuco, mono-carvoeiro (maior primata nas américas), lobo-guará, veado-campeiro, cachorros-do-mato, o macaco-prego, mão-pelada (guaxinim) e quatis.

Um lugar com muitas histórias

Consta na história oficial que o pico mais alto da Serra do Caparaó foi considerado o mais alto do Brasil e, em 1859, o imperador D. Pedro II mandou hastear no topo da elevação a bandeira brasileira. Por isso o nome, Pico da Bandeira.

Muitos anos mais tarde, com instrumentação mais precisa, técnicos descobriram que o Bandeira não era o ponto culminante do Brasil, mas sim o Pico da Neblina, com 2.995,30. Já o Pico 31 de Março, com 2.974,18 metros e apenas um quilômetro do Neblina, é o segundo. Na nova medição do Bandeira tem 2.891,32 metros.

Já sobre a origem do nome Caparaó, é controversa. Alguns a atribuem a uma origem indígena que significa "águas que rolam das pedras". Outros afirma que se trata de uma referência à "casa do rio torto" ou "casa de capara", edificação feita com esteiras, comum em lugares altos e frios.

Por fim, existe a lenda segundo a qual havia nos campos de altitude um bovino muito bravo, chamado de Ó“. Agressivo e arredio, foi alvo de um mutirão de boiadeiros e o capturaram depois de longa luta e o castraram. A história "“ verdadeira ou não teria se espalhado com a seguinte afirmação: "caparam o Ó".

Guerrilha

Mas, o Caparaó tem histórias verídicas e intrigantes. Em 1967, o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) decidiu pegar em armas para lutar contra o regime militar.

A ação foi idealizada por Leonel Brizola e patrocinada pelo estadista cubano Fidel Castro. O sonho dos jovens era iniciar um foco de resistência com base na história cubana de Sierra Maestra, de onde os jovens armados desceram para tomar o poder em Cuba.

Na Serra do Caparaó, o grupo pouco articulado e preparado para enfrentar o frio durante vários meses, foram acometidos pela fome e pelas doenças. Tiveram que descer com frequência da cada vez maior à cidade e acabaram denunciados por um dono de farmácia.

Em frangalhos, com muitas baixas por desistência, eles foram cercados e presos pela Polícia Militar do Batalhão de Manhuaçu, cidade polo mais próxima. Os doze últimos integrantes da guerrilha foram entrevistados no documento "A Guerrilha do Caparaó", documentário de Flávio Frederico, vencedor do Festival é Tudo Verdade, de 2006.