25 de agosto, de 2021 | 13:33

Não colocar Deus à prova

Osvaldo Luiz Silva *

No relato de Lucas (4,1-13) da tentação de Jesus Cristo, após duas investidas frustradas, o Demônio atrevidamente usa da própria Palavra de Deus para fazer uma “pegadinha”, porque Jesus tinha prevalecido nas duas primeiras tentativas justamente citando as escrituras. E não foi com uma passagem qualquer (se é que há uma qualquer), mas com o Salmo 90 (91), 11 e 12: “Pois ele dará ordens aos seus anjos para te guardarem em todos os teus passos. Em suas mãos te levarão para que teu pé não tropece em nenhuma pedra”. O tentador disse: Pula! Tudo isso em pleno templo de Jerusalém, na sua parte mais alta.

Jesus se mantém lúcido e responde: “Não tenteis o Senhor vosso Deus” (Dt 6,16). Uma passagem puxando outra: “Chamou o lugar de Massa… porque ali os israelitas… puseram à prova o Senhor, dizendo: ‘O Senhor está no meio de nós, ou não?” (Ex 17,7). O povo no deserto estava desesperado sem água e, no sofrimento, rapidamente se esqueceu de tudo que tinha acontecido (e não era pouco): as 10 pragas no Egito, travessia a pé pelo meio do mar, pássaros e maná para matar a fome…

Deus cuida tanto da gente, que corremos o risco de ficar mal acostumados e passar a pensar que Deus é nosso empregado, como se fosse obrigação dele fazer tudo. A natureza humana não é fácil. Quantas vezes não vemos isso acontecer? Alguém que recebe tanto dos outros, que já não valoriza o ofertado, desperdiça, ou pior: na primeira vez que a doação não vem, se volta contra quem o ajuda, "cospe no prato que comeu”.

"Colocamos Deus à prova,
também, quando podendo evitar,
abusadamente nos expomos a diversas
situações de risco desnecessárias,
acreditando ser obrigação dele nos proteger"


Voltando ao Salmo 90 – que tantos mantêm aberto em suas bíblias –, precisamos ter, sim, a confiança e a paz de que Deus está no meio de nós. Mas essa fé deve estar dentro da liberdade e da corresponsabilidade. Nada de querer fazer espetáculo, ou ainda, querer exigir de Deus o que pode ser alcançado pelos próprios braços ou o que nem se tem necessidade.

Colocamos Deus à prova, também, quando podendo evitar, abusadamente nos expomos a diversas situações de risco desnecessárias, acreditando ser obrigação dele nos proteger.

Lembro da catequese de um padre, quando ainda era adolescente, dizendo ser pecado essa exposição da nossa vida – inclusive em aventuras perigosas demais... É um erro achar que Deus irá nos socorrer se agirmos displicentemente, nos arriscando e pondo à prova também a vida do outro. Não queira ouvir como o demônio: “Não porás à prova o Senhor, teu Deus” (Lc 4,12).

* Jornalista, autor dos livros “Ternura de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, e membro da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em Cachoeira Paulista (SP)

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Comentários

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Tião Aranha

25 de agosto, 2021 | 15:45

“Neste terreno pantanoso tem que procurar equilibrar-se sobre pedras na esperança de se alcançar o solo verdejante presente nos 200 sermões do padre Antônio Vieira. Isso faz lembrar dos colonizadores das terras tupiniquins, quando aqui chegaram. De lá pra cá nem sei se houve alguma revolução, mas em qualquer discurso, sempre vence a boa argumentação. Risos.”

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