22 de agosto, de 2021 | 10:00

Com alta de preços, motoristas de aplicativo apontam dificuldades para manter a atividade

Tiago Araújo - Repórter do Diário do Aço

Para atender a uma demanda de clientes no mercado, que estão cada vez mais tecnológicos, foram criados os aplicativos de transporte de passageiros. Com isso, atraídos por uma possibilidade de renda financeira, motoristas comuns começaram a se habilitar para fazer corridas transportando passageiros com viagens agendadas pelos aplicativos, utilizando o próprio veículo. No entanto, ao longo dos anos, a história mudou. Vários fatores deixam cada vez mais difícil obter um rendimento satisfatório por meio dessa atividade que os economistas chamam de “uberização” e que, além do transporte de passageiros também envolve a entrega de encomendas.

Tiago Araújo
Marlene Costa já fez mais de nove mil corridas por aplicativo de transporte  Marlene Costa já fez mais de nove mil corridas por aplicativo de transporte
Em entrevista ao Diário do Aço, motoristas de aplicativo de transporte relataram as dificuldades encontradas para trabalharem com esse tipo de serviço. A ipatinguense Marlene Costa, de 54 anos, que atua como motorista de aplicativo há mais de um ano e já fez mais de nove mil corridas, conta que passou a atuar nessa atividade depois de trabalhar 30 anos no Centro de Ipatinga vendendo sobremesas. “Chegou um momento em que os produtos estavam ficando muito caros. Era muito trabalhoso e eu ficava praticamente sozinha nessa tarefa de vender. Aí surgiu a oportunidade de trabalhar como motorista de aplicativo. Como eu já tinha a minha carteira de habilitação há mais de 30 anos e dirijo bem, resolvi tentar essa profissão”, relatou.

Conforme Marlene, com o rendimento que recebe trabalhando como motorista de aplicativo, é possível pagar suas contas e fazer compras para sua casa, porém, ela alega que está ficando cada vez mais difícil obter um lucro com essa profissão. “Preço do combustível alto, manutenção de carro cara, mão de obra cara. Está tudo com um valor muito alto. Com isso, procuramos ir superando esses desafios, mas está ficando quase impossível. Estamos praticamente trabalhando para comer, porém, antes não era assim. Alguns anos antes, o motorista de aplicativo conseguia fazer uma reserva financeira, agora já não é mais possível”, afirmou.

Corridas canceladas

Com as dificuldades financeiras, Marlene Costa explica que os motoristas de aplicativo estão precisando selecionar mais as corridas que apresentam uma maior rentabilidade, o que tem levado ao aumento do número de cancelamento de corridas ultimamente, motivo de reclamação de muitos passageiros. “Estamos precisando cancelar porque estamos precisando escolher bem as corridas. Muitas vezes a gente acaba aceitando na hora da pressa e do desespero, por causa do curto tempo para aceitar e também para que a nossa taxa de rejeição de corrida não suba muito, mas quando vai analisar, percebe que não compensa e, infelizmente, tem que cancelar ou surge uma mais lucrativa. Com isso, os passageiros ficam em uma posição difícil, se sentindo mais insatisfeitos e inseguros, porque eles nunca sabem se o motorista vai chegar ou não”, explicou.

“Motorista não tem culpa”

Apesar do aumento do número de cancelamento de corridas, Marlene Costa salienta que a culpa não é do motorista de aplicativo. “Nós queremos prestar o melhor serviço para os passageiros. No entanto, pagar para fazer corrida fica impossível, porque temos gastos com pneus, pastilha de freios, óleo, combustível, dentre outros. Além disso, temos família e precisamos fazer nossas compras para dentro de casa. Portanto, isso não é culpa do motorista, e sim do sistema de cobrança dos aplicativos de corridas, que não está sendo favorável para nós. Eu mesma estou tendo que trabalhar, em média, de 12 ou 15 horas por dia para ter um rendimento satisfatório”, apontou.

Tiago Araújo
Solimar Souza atua como motorista de aplicativo há cerca de três anos Solimar Souza atua como motorista de aplicativo há cerca de três anos
Alternativa

Para o ipatinguense Solimar Souza, de 53 anos, que trabalha como motorista de aplicativo há três anos e acumula mais de 15 mil corridas, essa profissão foi uma alternativa encontrada para não ficar desempregado. “Estava muito difícil achar trabalho e os que eu encontrava era para fora da cidade. Como não tinha intenção de sair de Ipatinga, para poder ficar perto da família, aproveitei essa oportunidade de trabalhar como motorista de aplicativo, que desempenho há cerca de três anos”, contou.

Abusos

Solimar Souza destaca que as condições de trabalho não estão favoráveis em relação ao período em que iniciou nessa profissão. “Atualmente, nós somos meio que explorados. Tanto pelos clientes quanto pelo aplicativo. Por exemplo, o usuário paga o valor da corrida para uma pessoa, mas dificilmente transportamos apenas uma. Geralmente são duas, três ou até mesmo quatro pessoas. Além disso, o cliente compra a passagem para se locomover, não para transportar cargas, como compras, caixas, latas de tinta, saco de cimento ou gás de cozinha. Esses são abusos que acontecem no cotidiano”, citou.

Baixo rendimento

Em relação às taxas e rendimentos dos aplicativos de transporte, Solimar Souza defende que atualmente não estão com um valor justo. “Hoje é cobrada uma tarifa base de R$ 1,50 e recebemos, em média, de R$ 0,90 por km. O ideal era, no mínimo, R$ 2 por km. Dessa forma, o que recebemos do aplicativo temos que arcar com o combustível, manutenção, limpeza do veículo, seguro e outros gastos. No meu ponto de vista, a taxa hoje para se locomover é muito baixa para nós. É preciso fazer muitas horas para compensar. No meu cálculo, é preciso fazer 35 corridas por dia”, criticou.

Adequações são necessárias para compensar o deslocamento


Diante dessas dificuldades, Solimar destaca que é preciso adequação no modelo de trabalho. “Os aplicativos precisam começar a cobrar a passagem por passageiro. Ou seja, se vamos buscar uma pessoa, será um valor. Se vamos buscar duas ou três, são outros valores. Porque a nossa responsabilidade com uma pessoa dentro do carro é uma, e com quatro passageiros é maior ainda. Além disso, os gastos com o carro também aumentam, porque o veículo fica mais pesado e gasta mais combustível. Dessa forma, isso é algo que o aplicativo precisa se adequar para que possamos continuar trabalhando, caso contrário, haverá uma maior seletividade de corridas e um menor número de motoristas disponíveis”, concluiu.
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Comentários

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Anti Mico

22 de agosto, 2021 | 10:56

“O governo quer isto mesmo,pois eles não trazem dinheiro para o cofres públicos!! Agora já os taxistas já são diferentes!!! Mais é só fazer armiinha que o preço cai!!!”

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