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24 de maio, de 2021 | 14:29

''Né possive''

Neto Medeiros *

Não sei quando quis ser jornalista. Sério. Desde a tenra idade me concentro nas artes. Aprendi a desenhar sozinho. Do nada me alfabetizei. Na verdade, conseguia decodificar aquelas letras feito um ouvido absoluto musical. Gostava também da sonoridade das palavras. A imagem também me fascinava, claro, assim como os sons. Fazia caça palavras antes de aprender a ler.

Gostava de desenhar quadrinhos e mais tarde os utilizei na graduação e no mestrado. Faço Jornalismo em quadrinhos e já anuncio aqui que um dia irei colaborar com este jornal em alguma produção do tipo. Oxalá...

Hoje estou aqui para mais uma vez explicar o óbvio. Ou tentar, afinal, esse tem sido nosso ofício ultimamente. Um dia ouvi de um empregador, gerente de uma rádio, já falecido: "Cê acha que porque você ralou a bunda na cadeira de uma faculdade você é jornalista?" Depois a gente percebe que as críticas atuais são na verdade a revolta dos medianos. Porque nós, jornalistas, reportamos o óbvio. Os fatos. E se a gente se posiciona a favor de vacinas, VACINAS, somos comunistas...“Né possive”, uma coisa dessas!.

Como chegamos em uma época em que temos de defender o óbvio? Como deixamos voltar a tona questões superadas na idade média? Como dar espaço a terraplanistas, "antivacinistas" e "cloroquinistas"?

Não consigo entender nosso presente anacrônico onde as pessoas protestam a favor de um governo (???), onde a realidade distópica exarceba o crescimento da violência, da fome, do desemprego, da morte, dos insumos e etc, e ainda assim, uma parcela da população acha que tudo tá bom? Que realidade paralela é essa? Seria a fakenews da fakenews?

O paradoxo da comunicação "democrática" estabeceu-se essa pandemia. A pandemia do vírus da fakenews. Na Índia, terra tão arrasada quanto a nossa, o povo tá tomando banho de bosta de vaca à toa, achando ser a “nossa cloroquina”. Essa é a pandemia do "eu acredito no que eu quiser". Salve-se quem puder.

Correntes de estudiosos avaliam como nociva essa abertura do processo comunicacional, remetendo à condicionante da não apuração da "verdade", sobretudo tecnicamente, como o principal fator negativo da comunicação contemporânea, dita horizontal, que tenta alçar youtubers alienados à condição de aptos a entrevistarem um candidato a Presidência da República, como pateticamente o tal do "flowpodcast" tentou fazer.

A falsa sensação de "verdade" apresentada com ar de informalidade nos podcasts do YouTube abre um precedente tão nocivo quanto a não obrigatoriedade do diploma para atuação de um jornalista. Nossa profissão segue cada vez mais avacalhada e descartável, num país que cultua cada vez mais a ignorância e a desinformação.

O estrago está feito. A pós verdade estabelece uma atualidade em que acreditamos no mais cômodo. E procuramos bolhas socio virtuais para reafirmação de nossa inexorável verdade.

Queria saber onde isso vai parar. Mas não pretendo desvendar algo tão complexo em um texto.
Tudo está muito novo. Inclusive, essa atual valorização da ignorância, também acadêmica, propagada por influenciadores também digitais.

Usando um jargão gasto das novelas globais, esperemos cenas dos próximos capítulos. Também é gasto afirmar que figuras nefastas e movimentos fascistas e retrógrados sempre serão lançados ao lixo da história (alguém aí lembra-se do Trump?). É esperar pra ver. Ou sobreviver.

* Jornalista, mestre em comunicação e repórter da 97FM
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