18 de abril, de 2021 | 10:00

Alta da gasolina não está relacionada diretamente à pandemia, afirma economista

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Erasmo Lima afirmou em outros países, que também enfrentam a pandemia, não tiveram aumentos exorbitantes em seus combustíveisErasmo Lima afirmou em outros países, que também enfrentam a pandemia, não tiveram aumentos exorbitantes em seus combustíveis
(Tiago Araújo - Repórter do Diário do Aço)
Aquelas pessoas que utilizam diariamente carros ou motocicletas para se locomoverem e estão frequentemente abastecendo seus veículos nos postos de combustíveis, já devem ter sentido um impacto significativo em seu bolso desde janeiro. Em 2021, o preço da gasolina já acumula uma alta de 43,47%, enquanto o valor do diesel já subiu 36,63%.

O último reajuste ocorreu na sexta-feira (16), conforme anunciado pela Petrobras. Com o reajuste de 1,9% o preço médio da gasolina subiu R$ 0,05 e passou para R$ 2,64. Já o aumento de 3,8% no preço do diesel elevou o combustível em R$ 0,10, e o valor passa a R$ 2,76 por litro. Sobre esses valores incidem impostos, custo de frete e lucro das revendedoras.

Em entrevista ao Diário do Aço, o economista e diretor da Cooperativa dos Profissionais de Instituições Bancárias do Vale do Aço (Coopervaço), Erasmo Felizardo Lima, afirmou que essa alta da gasolina não está relacionada diretamente à pandemia de covid-19, como muitos têm culpado. “Não podemos atribuir o preço elevado do combustível à pandemia, tendo em vista que outros países também estão nessa mesma situação sanitária e não tiveram aumentos tão exorbitantes em seus combustíveis”, afirmou.

Composição de preço

Na avaliação do economista, a alta dos combustíveis no Brasil está relacionada às políticas de composição de preços, que precisam ser revistas para que seja possível reduzir os valores aos consumidores. “Tanto a variação cambial, quanto os aumentos influenciados pela política internacional de preço do petróleo, somados à questão da pandemia, firmam um conjunto de fatores que precisam ser avaliados pelo governo federal, o que não vêm ocorrendo, deixando flutuar na livre iniciativa do mercado os preços dos combustíveis”, apontou.

Impacto do dólar

Conforme Erasmo Lima, a gasolina brasileira acompanha sistematicamente as altas de preços dos barris de petróleo no mercado internacional e também o valor do dólar. “Em muitos países do mundo, o dólar sempre vai ter influência nos preços, uma vez que a economia americana é muito forte, porém, embora os preços de muitas mercadorias oscilam de acordo com o dólar, o que ocorre no Brasil, não significa que o governo pode deixar de tomar decisões para atenuar os preços. O livre mercado é importante, mas na gasolina, o governo tem que fazer intervenção, ou seja, criar mecanismo de controlar esse preço, porque quando o valor da gasolina sobe muito, acaba onerando o transporte das mercadorias, fazendo com que o preço de outros produtos suba também”, destacou.

Formação do preço

O economista também explica que a formação do preço da gasolina no mercado não depende exclusivamente da Petrobras, mas do custo de produção, das cargas tributárias, do custo de mistura do etanol e das margens de lucro dos distribuidores e revendedores. “Assim, teremos a fórmula para o cálculo final que vai formar o preço que chega até o consumidor. É óbvio que o governo não tem como interferir na alta de preços internacionais, mas poderia encontrar uma dinâmica para ajustar os preços, já que tem autonomia para negociar, de forma equilibrada, com os Estados e municípios, estimulando a redução de cargas tributárias. A cada redução feita pelos entes federados, poderia atribuir verbas compensatórias em investimentos na infraestrutura, saúde e educação. Com o petróleo em alta, o mercado desacelera e os custos de produção e logística sobem”, salientou.

Selic mais baixa

Uma alternativa apontada pelo economista para baixar o preço do petróleo, e consequentemente o valor da gasolina, seria estimular a queda do dólar aumentando a taxa Selic, que está atualmente em 2,75%. “Quando o governo reduz o índice da Selic ao ano, isso acarreta na alta do dólar. Por exemplo, se hoje a taxa estivesse a 4,5%, os investimentos que foram migrados para o exterior, devido à valorização do dólar, estariam aplicados em investimentos em nosso país, o que estimularia o mercado, consequentemente, faria o dólar cair. Portanto, se o governo aumentasse um pouco a taxa Selic, colaboraria para o câmbio cair, ajustando o preço final da gasolina para o consumidor”, explicou.

Etanol

Em relação ao valor do etanol, o economista explica que a análise é diferente em relação à gasolina. “Temos uma pressão gerada pelo preço do dólar, uma vez que boa parte da cana de açúcar é destinada para fabricação do açúcar, que é exportada para o mercado internacional. Novamente, teríamos que elaborar uma política interna que aumentaria a oferta da cana de açúcar, interferindo no equilíbrio das tributações das importações e exportações, o que seria uma outra solução, enquanto não ocorre a reforma tributária. Portanto, os preços dos combustíveis precisam ser reduzidos, uma vez que a renda financeira da população tem caído drasticamente”, concluiu.
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