13 de abril, de 2021 | 09:00

''Estamos todos esgotados emocionalmente'', aponta presidente do Sindicato dos Médicos

Alta demanda tem exigido mais profissionais, que estão em falta no mercado

(Bruna Lage - Repórter do Diário do Aço)
A pandemia da covid-19 tem gerado incontáveis prejuízos humanos e materiais. Há mais de um ano, cidadãos em todo o mundo tiveram que mudar sua rotina, enterrar familiares e ver sua locomoção reduzida em razão do vírus. Para dar conta de atender a esta nova demanda, médicos em todo o mundo tiveram de reorganizar sua rotina de plantões, num esforço conjunto para que a assistência fosse prestada. Presidente do Sindicato dos Médicos do Vale do Aço, a pediatra Stella Nunes Rocha Bizarro avalia o momento como frustrante, pede forças a Deus e avalia: “estamos todos esgotados emocionalmente”.

Stella explica que o chamado de mais atendimentos no Vale do Aço levou os hospitais maiores a convocarem especialistas que há muito tempo não davam plantões na porta. Como a demanda tem sido grande e o número de profissionais que lá estavam até então era insuficiente, outros foram chamados. “Do ponto de vista emocional, todos estão esgotados, não só a classe médica, mas recepcionistas, serviço social, todos que trabalham no hospital estão assim. As unidades hospitalares têm trabalhado acima de sua capacidade, ficamos frustrados com uma doença, que apesar de usar todos os recursos, tem levado a um alto índice de morbidade e mortalidade”, aponta.

Faltam profissionais
Em entrevista concedida à imprensa há algumas semanas, o secretário de estado de Saúde, Fábio Baccheretti, informou que houve aumento da remuneração no estado, mesmo assim o governo enfrenta dificuldades na contratação de profissionais. “Muitos trabalham em outros dois, três hospitais, e não tem mais disponibilidade. Temos tentado aumentar equipes com médicos experientes e outros menos, mas mesmo assim ainda temos essa situação”, revelou.

No dia 7 deste mês, a administração municipal de Ipatinga anunciou que, para compor o quadro de recursos humanos necessários para auxiliar no enfrentamento à pandemia, realizou chamamento público e abriu processos seletivos ampliando a contratação de cerca de 130 profissionais de diversas áreas da saúde como: médicos intensivistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, dentre outros. Em contato com o Conselho Regional de Medicina em Ipatinga, solicitamos, dentre outros dados, quantos médicos compõem o quadro no Vale do Aço, mas não obtivemos retorno.

Alta mortalidade

A médica Stella lamenta o fato de os pacientes que tem entrado na UTI, um número pequeno tem saído com vida, o que classifica como triste e desgastante para todos que estão envolvidos com aquele paciente, desde a entrada, até a saída. “Prestar apoio emocional a essas famílias é difícil. Lidar com o vírus tem sido frustrante”, salienta.

Conforme pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que teve o resultado divulgado em fevereiro deste ano, metade dos pacientes com covid-19 internados em UTIs no Brasil morrem. Além disso, 60% dos pacientes que precisaram utilizar o respirador acabaram morrendo por conta da doença.

Já uma publicação da BBC News Brasil apontou que de 15 de fevereiro até o fim de dezembro do ano passado quase 80% das pessoas com covid-19 que precisaram ser intubadas no país morreram. Ou seja, de dez pessoas intubadas, oito perderam a vida. A média mundial é de cerca de 50%. O estudo, publicado na revista científica Lancet, foi feito pelo pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Medicina Intensiva do Instituto Evandro Chagas.

Para o pesquisador, a diferença de mortos no Brasil e no mundo pode ser explicada pelo longo tempo se discutindo tratamento precoce no país e a falta de um protocolo nacional que unifique as técnicas utilizadas e o uso de pessoal sem treinamento e experiência adequados.

Maior alcance da vacinação

Questionada sobre a solução para a pandemia, a presidente do Sindicato dos Médicos do Vale do Aço vê a vacinação como solução, também para que a saúde não entre em colapso. Em sua opinião, o governo precisa triplicar o número de vacinas. “Falaram em 300 mil vacinas no estado, e querem aumentar para 1 milhão. É preciso que isso ocorra. É o único recurso para esse cenário de guerra que temos vivenciado. Temos uma esperança com a maior produção da CoronaVac”, reitera.

Mas a vacina não é a única salvação. A médica alerta que as pessoas têm de se conscientizar. “Infelizmente muitos estão contaminados, praticamente assintomáticos, e circulam por aí, disseminando o vírus. A população julga os governos por fazer lockdown ou não fazer, mas cada um tem que ter consciência, evitar festas, aglomerações. Temos de entender que é uma decisão difícil para os administradores também, porque fechar o comércio adoece famílias financeiramente e emocionalmente, nunca vivenciamos uma situação dessa por tanto tempo”, classifica.

Valor à vida

No dia em que essa entrevista foi realizada, o Vale do Aço ainda não contava com nenhum hospital de campanha. Ipatinga inaugurou sua estrutura na semana passada, erguida nas dependências do Hospital Municipal Eliane Martins. Para Stella, hospitais como os de campanha não são a solução e avalia que estaremos perto do fim do furacão covid somente com a chegada da vacina, conscientização das pessoas e a benção de Deus.

“Precisamos saber o que tem valor nessa vida: nossa saúde, famílias, e dar valor a Deus, tenho muita fé e creio que Ele está nos mandando uma mensagem, para que a gente se aproxime mais dele, porque ninguém tem domínio sobre esse vírus e sobre sua própria vida. Temos que contar sempre com a guarda de Deus sobre as nossas vidas e de nossas famílias”, pontua.

Mensagem aos colegas

Stella parabeniza os colegas de profissão, que tanto tem se empenhado no combate à doença e atendimento aos pacientes. “Tenho orgulho de todos que saem para trabalhar, mesmo colocando sua família e sua vida em risco. Me sinto orgulhosa de ver tantos profissionais se dedicando com esmero e esforço, fazendo o melhor pela população. O meu desejo é que Deus continue guardando cada um. Todos estão trabalhando em seu máximo, se desdobrando em vários hospitais e plantões, para dar conta de tudo. Que se mantenham firmes, é o que desejo”, concluiu.