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10 de março, de 2021 | 13:20

A retomada da Usiminas

Antônio Nahas Júnior *

“Sem uma base industrial sólida, o país nunca conseguirá manter seu ritmo de crescimento, distribuir renda e promover Justiça social”

“A reindustrialização do Brasil é uma meta a ser perseguida por todos que querem um país mais rico e menos desigual”

A Usiminas apresentou seus resultados para o ano de 2020, que lançam otimismo para os investidores, sócios, fornecedores, colaboradores e, sobretudo, para as cidades que recebem a empresa. O resultado de 2020 mostra um faturamento do conglomerado de mais de 16 bilhões de reais, contra 15 bilhões em 2019. A Usiminas conseguiu o milagre de elevar sua receita, mesmo no ano da covid-19.

Um indicador pelo qual o investidor tem um enorme apreço, chamado Ebitda (margem antes do pagamento de juros; impostos; depreciação e administração), teve um desempenho espetacular, pulando para perto de quatro bilhões de reais. Para efeito de comparação, basta dizer que em 2019 o Ebitda foi metade deste valor.

Certamente, o que permitiu a Usiminas ter este resultado, foi ser um conglomerado empresarial cujas atividades perpassam todo o ciclo produtivo do aço. A empresa possui hoje sua própria mina; exporta a maior parte deste minério e reserva o restante da sua produção à sua própria siderúrgica. Nas suas plantas industriais é produzido aço de alta qualidade, que é destinado, sobretudo ao mercado interno.

Parte da produção é transformada em bens de capital e em outros produtos que aumentam as vendas e dão capilaridade à empresa. A capacidade de adaptação ao mercado demonstrada pela Usiminas é impressionante: consegue atender mercados tão diversificados quanto como construção civil; energia eólica; óleo e gás; linha branca; mercado automotivo e máquinas e equipamentos.

Todavia, olhando os dados mais de perto, notamos que a alma do negócio – siderurgia – trabalha com uma capacidade ociosa superior a 50%. O grupo possui capacidade de produzir 9,5 toneladas/ano, mas sua produção no ano passado chegou apenas a 3,7 milhões de toneladas.

Ao mesmo tempo, a produção de minério de ferro vem se expandindo firmemente ao longo dos anos, alcançando no ano passado 8,6 milhões de toneladas. Para termos uma ideia de sua evolução, basta ver que a produção de minério em 2016 foi pouco superior a 3,2 milhões de toneladas.

Como resultado deste duplo movimento, o balanço mostra que dois terços da margem bruta da Usiminas (Ebitda) vieram da mineração.

Dito em outros termos: a mineração faturou 3,8 bilhões e contribuiu para a margem bruta do conglomerado com 2,2 bilhões, enquanto a siderurgia faturou 12,4 bilhões, contribuindo com 1,03 para a mesma margem.

Ressalte-se ainda que a margem da siderúrgica foi influenciada por fatores não operacionais como venda de imóveis e outros ajustes contábeis.

Os investimentos previstos - O mais importante desta retomada é a previsão de investimentos da empresa na siderurgia, que devem totalizar 1,5 bilhões no ano de 2021. Sobretudo, a reforma do Alto forno três, aquele de maior capacidade – 2,7 milhões de toneladas/ano - e que carece de manutenção permanente, até mesmo para evitar acidentes. Tais investimentos são a garantia do fortalecimento e da continuidade da atividade siderúrgica na nossa região, num momento delicado da economia brasileira, que passa por um processo continuo e prolongado de desindustrialização, que foi muito intensificado na última década.

O Brasil fez um grande esforço para construção de uma base industrial sólida e sofisticada, sobretudo após a 2ª guerra mundial, sendo uma das economias emergentes que mais evoluiu no período. Chegamos a ser a oitava economia do mundo e possuir um dos maiores e mais modernos parques siderúrgicos do mundo.

Porém, a partir dos anos 80, a indústria brasileira passou a regredir e hoje representa pouco mais de 11% do valor total do Produto Interno Bruto (PIB). Nossa pauta de produtos exportados é hoje dominada por matérias primas e produtos semiprocessados, os quais, para nossa sorte, alcançam ótimos preços no mercado mundial.

A China tornou-se a fábrica do mundo e a indústria brasileira vem encolhendo a cada ano. Basta ver os mapas que a Usiminas coloca em seu balanço: mais da metade da produção mundial de aço está concentrada naquele país.
Sem uma base industrial sólida, o país nunca conseguirá manter seu ritmo de crescimento, distribuir renda e promover Justiça social. Continuaremos a ser um país periférico, destinado a servir as economias mais desenvolvidas.

A reindustrialização do Brasil é uma meta a ser perseguida por todos que querem um país mais rico e menos desigual. Como afirma o professor Mauro Borges, ex-ministro do Desenvolvimento Econômico, “Uma economia brasileira primário-exportadora, especializada competitivamente pelo agronegócio e mineração, não é capaz de viabilizar um “Brasil desenvolvido”. Para a população brasileira não será possível participar como consumidores da sociedade digital da quarta revolução industrial sem ingressar nesse novo paradigma como partícipes de sua produção. Sem a reindustrialização não teremos um Brasil desenvolvido e digital, simples como isto. O limite de nosso desenvolvimento estaria dado.”

Com seus investimentos na planta industrial, a Usiminas sinaliza sua sincronia com o desejo dos brasileiros de construir um país desenvolvido. Iniciativas empresariais como esta são decisivas para lançar otimismo no país, assolado pela recessão e desemprego. Deveriam ser incentivadas por políticas governamentais que espelhassem a necessidade de reconstrução da economia brasileira.

* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria
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Comentários

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Moysés Maltta

11 de março, 2021 | 08:20

“? bom ouvir boas notícias sobre a Usiminas num momento tão pessimista para o país.”

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