09 de março, de 2021 | 13:51

Por que a pandemia ainda vai piorar?

William Passos *

No sábado (6), o Brasil completou a semana mais letal da pandemia, com mais de 10 mil mortos pela doença nos sete dias anteriores. Também no último sábado o país bateu, pelo oitavo dia consecutivo, o recorde da média móvel de mortos (1.455), valor 40% superior ao das duas semanas anteriores. Os números são das secretarias estaduais de saúde tabulados pelo consórcio de imprensa, que reúne alguns dos principais jornais do país.

Mesmo tentando esconder os números, o Ministério da Saúde avalia que o Brasil viverá, nas próximas duas semanas, o pior momento da pandemia, com as mortes pela doença ultrapassando os 3 mil por dia. A informação é da própria cúpula do Ministério da Saúde, formada pelos auxiliares mais próximos ao ministro Eduardo Pazuello, e foi divulgada em primeira mão pelo jornal "Valor Econômico".

As preocupações da pasta estariam direcionadas principalmente à região Sul, onde os três estados estão à beira do colapso. No Rio Grande do Sul a ocupação de leitos de UTI atingiu 100% na semana passada. Santa Catarina está transferido pacientes com covid-19 para o Espírito Santo.

Também há preocupação com a falta de leitos na região Norte, apesar do número menor de casos, e ainda com a situação de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e São Paulo, ainda que este último tenha conseguido evitar o pior por ser favorecido pela maior rede hospitalar do país.

No entanto, apesar de todo este caos, o governo federal limitará sua ação à construção de novos hospitais de campanha e ao incentivo à reabertura dos hospitais de campanha fechados pelos estados. Isso porque, segundo o "Valor Econômico", o Ministério da Saúde avalia que não há muito o que fazer.

Enquanto os países que têm avançado com a vacinação têm observado queda significativa das contaminações, internações e mortes diárias, sendo Israel o principal exemplo e Portugal o último caso bem-sucedido, o Brasil, graças ao ritmo de lesma, vem registrando recordes diários de óbitos mesmo com a vacinação, ou seja, a vacinação é tão lenta que é como se ninguém tivesse sido vacinado. Nesse momento, menos de 4% da população do país recebeu a sua dose.

Naturalmente, como era esperado, que a queda do isolamento social e as aglomerações de fim de ano e do carnaval de uma população já cansada contribuíram para a piora do quadro pandêmico, mas o surgimento de novas cepas e o colapso hospitalar em diversos estados foram permitidos pela péssima gestão do governo federal e do Ministério da Saúde, que são os responsáveis, segundo a Constituição, pela coordenação da política nacional de saúde. Além disso, quem tem dinheiro, e muito dinheiro, para distribuir para o país inteiro nessas situações é o governo federal, que controla o Orçamento Geral da União, cerca de R$ 3,6 trilhões.

Até maio, o presidente eleito pelo voto Joe Biden pretende vacinar todos os estadunidenses. Até julho, o primeiro-ministro também eleito pelo voto, Boris Johnson, pretende vacinar todos os britânicos. Por permanecer na atual situação, os outros países manterão fechadas as fronteiras para brasileiros, que já são motivo de piada no mundo todo por ganharem cinco copas do mundo, mas não saberem votar para presidente. Isso porque muitos não sabem que há brasileiro que acredita [até hoje] que ivermectina trata covid, um remédio que, qualquer mãe sabe, é, na verdade, para matar piolhos.

*Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]