14 de janeiro, de 2021 | 15:00

É preciso falar do negacionismo

Jefferson Rocha *

“A resposta é imediata e trágica. Negam hoje e choram a perda de um parente amanh㔓A resposta é imediata e trágica. Negam hoje e choram a perda de um parente amanhã”

Escrevi no ano passado que a pior praga da pandemia é o negacionismo. Continua sendo. Em uma definição, digamos mais científica, podemos dizer que o negacionismo é a “... escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Trata-se da recusa em aceitar uma realidade empiricamente verificável, sendo essencialmente uma ação que não possui validação de um evento ou experiência histórica.” isso de acordo com a obra

“Uma Cruz Pesada” de Eugenio Pacelli, o Papa Pio XII. Recentemente li um artigo publicado pela Psicóloga Sonia Pittigliani que dizia que “A teoria negacionista é uma estratégia antiga e bem sucedida de ‘minar’ conceitos científicos...” Curioso, não?

O artigo ainda completa que “... A ideia foi aplicada pela primeira vez nos EUA, em 1950, quando a indústria de tabaco desenvolveu um manual de relações públicas para reagir às evidências científicas das pesquisas clínicas, que ligavam o fumo ao câncer. O objetivo, ao constatar essas evidências e contrapô-las ao consenso científico, era o de criar a ‘dúvida’”.

Fica claro que a questão negacionista fomenta o “mercado da dúvida”... e esses mercadores estão sempre ancorados em questões que vão do comercial ao ideológico.

Vejamos as questões do aquecimento global... negacionistas pregam que ele não existe. Procuram por meio de um discurso paralelo ao científico gerar essa dúvida na cabeça do senso comum e com isso influenciam diretamente governos e pessoas que já estão propensos à questão anticiência. O que a gente vê de empresas petrolíferas se valendo desse discurso e disseminando essa corrente para benefício próprio não tá no gibi.

E por aí o negacionista vai com suas “ideias” da terra plana, holocausto não existiu, grupos antivacinas, ditadura foi uma lenda, nazismo de esquerda, entre outras sandices, mesmo com evidencias cientificas que mostram o contrário.
Todos esses negacionistas não poderão comprovar seus erros porque as questões que eles negam... impactam diretamente outras gerações. Mas isso em se tratando do negacionista tradicional, aquele que sempre foi negacionista há mais tempo.

Mas com o negacionista contemporâneo, o que nega a pandemia de covid-19 e subestima a capacidade de contágio e morte causados pelo coronavirus, a resposta é imediata e trágica.

Negam hoje e choram a perda de um parente amanhã. Negam hoje e amanhã tem um aparelho no lugar do pulmão, negam hoje e não tem nem o direito de sepultar alguém amanhã. Ou são sepultados.

Sabe por que? Porque a doença não está nem aí para sua classe, cor, credo e posicionamento político. Ela mata a todos sem distinção.

Por uma questão político-ideológica, alegam que a imprensa implanta o terror nas pessoas porque não divulgam o número de recuperados, só fala de mortes e não exaltam as altas hospitalares, pasmem.

Querem a inversão da ordem natural dos fatos é o mesmo que, na operação ano novo, a PRF divulgar os carros que conseguiram chegar ilesos aos destinos de seus motoristas e suprimir quem perdeu a vida nas estradas. Será que não enxergaram que estão retirando água de um navio afundando usando um dedal de costura?. E de quebra fazem propaganda para que as pessoas relaxem e assim não se cuidem mais. Não é hora de comemorar nada. Quem passa o tempo comemorando vitória em batalha, esquece-se de vencer a guerra.

Não se pode comemorar nada quando temos quase uma Ipatinga inteira de cadáveres pela doença no Brasil. E quase uma Belo Horizonte de mortos no mundo todo em virtude da pandemia.

Deixar de falar dos mortos não vai fazer diminuir o número de óbitos, só diminui a transparência e consequentemente o alerta para quem precisa se cuidar. Até porque é impossível se calar diante de 203.580 cadáveres!

* Jornalista, radialista, coordenador de jornalismo da 97, FM - Itatiaia Vale do Aço e apresenta o É Notícia e o Chamada Geral na emissora
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Comentários

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William Caldas Trevizani

18 de janeiro, 2021 | 12:15

“Excelente texto. Sempre lúcido, Jeferson, chamando a atenção para quem insiste em enfiar a cabeça dentro da areia.
a guerra está mesmo longe de ser vencida. Continuemos na luta: contra negacionistas, contra extremistas, contra o covid-19, contra a ignorância em geral.”

Maria Elisabeth Machado

15 de janeiro, 2021 | 08:46

“Parabéns!!! Excelente artigo.”

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