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05 de novembro, de 2020 | 10:00

Cinco anos após rompimento da barragem de Mariana, comissão de atingidos promove protesto

Crime ambiental aconteceu em 5 de novembro de 2015 e ainda causa prejuízos

Antônio Cruz / Agência Brasil
Estragos causados pelo rompimento da barragem de Fundão atingiram uma grande extensão Estragos causados pelo rompimento da barragem de Fundão atingiram uma grande extensão

No dia em que o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, completa cinco anos, integrantes da comissão de atingidos promovem um protesto em Ipaba de Paraíso, no município de Santana do Paraíso. Conforme adiantou a coordenadora, Neuza Batista, o ato será realizado nesta quinta-feira (5), a partir das 14h15, com concentração próxima à estação de trem, de onde partirão sentido ao rio Doce, que ainda guarda rejeitos da tragédia ambiental e que causou prejuízo a diversas famílias que sobreviviam da pesca e agricultura.

Cinco anos depois, nenhuma das ações reparatórias esperadas foi concluída, de acordo com procuradores integrantes da Força-Tarefa Rio Doce do Ministério Público Federal (MPF). Mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos atingiram o rio Gualaxo do Norte, em Mariana, desaguaram no rio Doce e seguiram até a foz, no mar de Regência, no litoral capixaba. A lama causou a morte de 19 pessoas e uma série de impactos ambientais, sociais e econômicos, atingindo 39 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo. 

Neuza Batista explica que o manifesto desta quinta-feira tem o objetivo de lembrar o crime da barragem de Fundão, as 19 vítimas e também o estrago causado ao rio Doce. “Não podemos deixar a data passar em branco. Precisamos reivindicar nossos direitos. Na comunidade de Ipaba de Paraíso existem várias pessoas que foram atingidas pelo rompimento e que não receberam nenhum tipo de reparação”, frisa.

A coordenadora recorda que os moradores tiveram suas vidas prejudicadas diretamente, pois sobreviviam da atividade pesqueira e agrícola. “Fizemos vários manifestos e nada foi resolvido. Esse protesto será em busca de justiça, que ela seja feita, que alcance a todos os atingidos, cujos direitos não foram respeitados. Temos aqui 1.274 moradores e a nossa comissão fez uma pesquisa: apenas cento e poucos foram indenizados, o restante aguarda. Sem falar do meio ambiente, extremamente prejudicado, mas não vemos a empresa traçar nenhum projeto para reparar esse crime”, avalia.

Fundação

Para reparar os danos causados, a União e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo celebraram um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) com as empresas Samarco, BHP e Vale, responsáveis pela barragem. Além de criar a Fundação Renova, organização que deve pôr em prática as compensações, o TTAC estabelece 42 programas que devem ser cumpridos nos 670 quilômetros de área impactada ao longo do rio Doce e afluentes. 

Proximidade ao rio Doce
A comunidade de Ipaba de Paraíso vive bem próxima ao rio Doce, alguns, a 300 metros e tem convivido com mau cheiro e insetos. “Isso porque ainda há rejeito de minério no fundo do rio, e também nos terrenos, somos uma comunidade ribeirinha. Quando chove essa sujeira que está no rio é revirada e levanta o mau cheiro. Quando os insetos aparecem não conseguimos nem comer direito. São peixes mortos, que inclusive antes serviriam para nossa alimentação e para venda. Hoje quem come esses peixes são as aves”, lamenta.

Ela relata que, mesmo diante de um cenário difícil, não é fácil sair do local, pois os imóveis são desvalorizados em razão das condições. “Todos sabem dos rejeitos e produtos químicos. Alguns saíram, mas o restante de nós é obrigado a viver aqui, convivendo com chumbo, alumínio e sem ter o que fazer em relação a isso. O manifesto será realizado por causa dos cinco anos, para que seja feita justiça, que é o que temos buscado, a reparação pelo crime causado”, conclui.

Renova
Procurada, a Fundação Renova informou, por meio de sua assessoria, que o Termo de Cooperação Técnica e Financeiro assinado com o município de Santana do Paraíso vai apoiar a execução do Plano Municipal de Reparação em Proteção Social.

Segundo a Fundação, o objetivo é fortalecer as ações de assistência social e atender 218 famílias vulneráveis em 11 comunidades atingidas de Santana do Paraíso, pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015. “O município colocará à disposição serviços de assistência social e psicólogas para ampliar o atendimento à população, além de fazer a compra de materiais e equipamentos para a realização das atividades do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)”, assegurou.

Também serão disponibilizados veículos com combustível, que possibilitarão os técnicos realizarem acompanhamento e oficinas para o fortalecimento de vínculos familiares em comunidades rurais e mais distantes dos equipamentos públicos.

Indenização em Santana do Paraíso
A Fundação Renova acrescentou ainda que, em Santana do Paraíso, até 31 de agosto de 2020, foram pagos quase R$ 19 milhões em indenizações e auxílios financeiros emergenciais (AFE). O AFE foi pago a 165 titulares, totalizando R$ 16,3 milhões. Foram indenizadas 169 famílias, correspondendo ao valor total de R$ 2,66 milhões.

Já publicado

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