02 de novembro, de 2020 | 15:00

As nossas reais alucinações

Marli Gonçalves *

"Eles não têm programas, objetivos, não são sérios. Nasceram de redes sociais pantanosas, onde se alimentam"

A pandemia de coronavírus afeta tão seriamente as pessoas, todas, não importa idade, sexo, raça, religião, e de uma forma tão grave, que fica difícil, quase impossível, vislumbrar a volta, se é que um dia haverá essa volta, a um mínimo de normalidade. Parece – e é – um pesadelo. Cheio de alucinações, bem reais.

Quase um ano de terror, diário. Nessa loteria macabra onde ninguém quer ser sorteado por ser impossível saber como aquela bolinha cheia de coroas - invisível, imprevisível, traiçoeira, desconhecida e mutante - vai se comportar se entrar em seu corpo, cheio de frestas que podem lhe dar passagem. Um ano com tantas perdas de pessoas queridas, importantes, famílias inteiras destroçadas, e já praticamente 160 mil mortes desde março quando começaram a ser contadas oficialmente aqui no país.

Chegamos ao Dia de Finados. Acredite. Já é novembro de 2020, o ano marcado a ferro e fogo, morte, vergonha, atraso. E na passagem, o tal Halloween, o mais sinistro de todos os tempos. Imaginem se vai ter graça ver bruxas, bruxos, esqueletos, casas mal-assombradas, brincadeiras de qualquer sorte na segunda noite de Lua Cheia do mês de outubro. O terror veste toga, camiseta falsa de time, usa cabelo acaju ou cor de laranja, blasfema e acena com a Bíblia em uma mão e armas na outra, envenena, mata e persegue o que é diferente. Uma encruzilhada, e o despacho anda difícil de ser arriado no alguidar gigante para livrar a Terra.

Parece que tudo conspira para ser pior a cada minuto: nosso dinheiro virando água desvalorizado diante de todas moedas, ou dinheiro aparecendo saído de buracos negros; atentados terroristas, explosões, degolamentos, ameaças, incêndios, tempestades; e não faltou nem um terremoto com poder de causar tsunami agora atingindo a Turquia e a Grécia. Ondas fortes de contaminação, a segunda pela Europa, essa primeira que não passa aqui no Brasil, com pulinhos em suas curvas, números alarmantes em todo o mundo obrigando a novos fechamentos, a isolamentos ainda maiores.

E eleições no país “mais mais” no mundo, louco para encrencar severa e perigosamente com o outro, ou outros, China e Rússia, fora outras rusgas de caráter religioso. E eleições aqui, onde vivemos um pesadelo particular com um grupo de seres abjetos que parecem apenas conspirar dia e noite para aumentar ainda mais os nossos pesadelos com suas falas, promessas, mentiras. E você quer ter sonhos bonitos quando adormece?

Falar desses seres abjetos, pior, atrai outros desses seres abjetos comuns que se desenvolvem como vírus, prontos a tentar defendê-los como se o que fazem pudesse ter alguma explicação. Acreditem que essa semana recebi ataques me acusando de ser parte de uma nova “Ordem Mundial” (?); que achou que me jogava praga ao dizer que não vou reencarnar “nesse plano”. Fui ver quem era o cidadão e é ele próprio quem se define: se diz “um espírito muito antigo, banido do sistema Capela, como milhares de outros, também de outros sistemas solares, praticando, como todos o fazem, a difícil jornada da evolução”. Daí pra frente, seja lá o que for isso. Vocês não têm noção o que nós, jornalistas, andamos aguentando, escutando, sob ameaças.

Está todo mundo louco e não é “Ôba!”. É perigoso demais. Infelizmente não tem qualquer graça num momento tão difícil ficar assistindo as molecagens que fazem, passando boiadas, brincando de dar apelidos uns aos outros, virando “boiolas” sorvendo refrigerantes, dando dois passos para a frente, quatro para trás, numa direção que não é nem centro, nem esquerda, muito menos direita, que nem ela quando verdadeira aceita tanta ignorância. Não são travessuras e nem gostosuras. São ameaças reais que levaremos muito tempo para corrigir quando nos livrarmos deles, somadas às que ainda tentávamos já corrigir e que se tornaram piores quando eles aportaram, vindos de um infernal baixo clero.

Eles não têm programas, objetivos, não são sérios. Nasceram de redes sociais pantanosas, onde se alimentam. O presidente zumbi, gaiato, faz o único que sabe fazer. O zumbi zomba. De nossa inteligência, de nossas aflições, das necessidades cada vez mais prementes, de tudo o que efetivamente precisamos para acordar desse pesadelo o quanto antes.

Zomba de todos nós. Mas ainda temos força para ao menos pedir:

- Respeite nossos mortos!

Ou eles virão, logo, furtivos, puxar bastante o pé de vocês quando estiverem em suas camas. Ameaça por ameaça, esta pelo menos combina com esses dias.

* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo. [email protected] / [email protected]
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Comentários

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Tião Aranha

02 de novembro, 2020 | 18:18

“Precisa se aprofundar mais na sociologia do povo brasileiro. Vida de escritor político não é fácil. Da tríade: trabalho, renda e consumo. Gosto brasileiro é isso aí: só vive de aparência no que chamam de "fulano é a bola da vez" (lembrei-me do Romário).
Se estiver (fazendo tudo certinho, então está merecendo todas as honrarias do povo).
Se o indivíduo fez pra merecer, aí, sim, ele será colocado automaticamente e definitivamente lá nas nuvens.
É o que pensam.
Pouco importa se a palavra seja mistura de sim e não de verdade, e de mentira, de certeza e confusão.
Quem der mais leva: este é o bom, este é o fino!
Julga pela aparência, sem apurar sempre a verdade. E nem sempre hospeda no coração a esperança e a alegria. Esquece-se que todos os planos ocultos ficarão bem descobertos.
Os políticos quando prometem e enganam a confiança do povo. Quando dividem os pequenos num plano traidor tiram das mãos Deste a autenticidade de sua própria história.”

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