22 de junho, de 2020 | 16:00

Meio século

Fernando Rocha

Divulgação
Fernando RochaFernando Rocha
Muita gente no Brasil comemorou no último domingo (21) o cinquentenário do tricampeonato mundial de futebol, conquistado no México, em 1970, pela nossa seleção canarinho.

E quem, por obra e graça de Deus, teve o privilégio de viver naquela época - no meu caso, eu tinha 10 anos de idade -, teve no domingo um momento muito especial, ao lembrar a conquista épica do time que tinha uma constelação de craques, a começar pelo ‘Rei’ Pelé, seguido por Tostão, Jairzinho, Gerson, Rivelino, o capitão Carlos Alberto, alguns reservas de luxo, como Paulo César Caju, alguns medianos e outros menos votados.

Como o ex-craque Tostão escreveu em sua coluna de domingo na ‘Folha’, a seleção de 70 “foi um grande time, mas não era perfeito. A perfeição só existe em nossa imaginação”.

Concordo com Tostão, sobretudo pelas deficiências na parte defensiva, mas aquele time conseguiu alcançar um equilíbrio tático de tal forma que permitiu aflorar as qualidades individuais de seus craques, fundamental para chegarmos ao título.

Por isso, nada mais justo do que lembrar e enaltecer o feito conquistado há 50 anos, no México, sobretudo para melhorar nossa autoestima, pelo momento terrível que atravessamos e com mais de 50 mil mortes registradas por Covid-19.

Mais um passo
Mais um passo importante foi dado pela CBF no sentido de retornar com o futebol no país, apesar da disseminação do vírus da Covid-19 ser cada vez maior. A entidade conseguiu um sinal verde do Ministério da Saúde para o seu “guia médico”, ou protocolo de medidas a serem adotadas por clubes e federações, inicialmente visando o retorno dos jogos nos campeonatos estaduais, para depois ser aplicado nas competições nacionais.

Mas, como não tem poder de tomar decisões que impactam diretamente na estratégia de combate ao coronavírus nos estados e municípios, o governo federal deu aval ao protocolo condicionando a marcação de datas e prazos à liberação por parte de prefeitos e governadores.

Com algumas adaptações à realidade brasileira, o protocolo é uma cópia do que já está sendo feito nos países da Europa, onde o esporte já voltou a ser praticado, mas não diz nada sobre quem vai bancar os custos dos clubes pequenos, que não dispõem de recursos financeiros para garantir a sua adoção.

FIM DE PAPO
• Rever a Seleção de 1970 e os lances mágicos de Pelé, Tostão, Jairzinho, Gérson, Rivelino e companhia, foi como voltar no tempo até a minha cidade natal, Tarumirim, que, como todo o país, de norte a sul, enfeitou ruas e praças com o verde e amarelo da bandeira nacional para torcer pela Seleção. Após os jogos havia grandes carreatas, com muitos foguetes para comemorar as vitórias.

• Meu velho pai comprara uma TV em preto e branco, da marca “Colorado RQ”, especialmente para assistir a Copa de 1970, que foi a primeira a ser transmitida “ao vivo” para todo o Brasil. Foi também a primeira Copa do Mundo com transmissão colorida, mas os aparelhos eram muito caros e, por isso, também raros. Na minha cidade, apenas uma residência era dotada de TV à cores, e o proprietário, no dia da grande final contra a Itália, cedeu aos apelos e colocou o aparelho na varanda, permitindo que centenas de pessoas assistissem a conquista épica da nossa Seleção, ao vivo e à cores, uma grande novidade, mesmo com muitos chuviscos na imagem.

• Como não existia agência de banco ou lotérica na cidade, e telefone e internet eram coisas impensáveis, todo início de mês meu pai pegava um ônibus pela manhã e se deslocava cerca de 90 km até Caratinga para pagar o carnê de prestação na loja onde havia comprado a TV. Ele almoçava na casa da minha irmã, que reside lá até hoje, e voltava a Tarumirim no mesmo ônibus que o havia levado, chegando no início da noite em casa, cansado, mas feliz, pois se tinha algo que ele fazia questão era de pagar as suas contas em dia.

• Vamos ficar por aqui, com as boas lembranças da conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970, época sombria no panorama político do país, anos de chumbo, ditadura militar, repressão, censura, enfim, experiências vividas e sofridas na pele por milhares de brasileiros, que desejamos que não volte nunca mais. “A democracia não pretende fazer santos, mas criar justiça”. Paulo Freire. (Fecha o pano)
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Comentários

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Tião Aranha

22 de junho, 2020 | 22:42

“Já havia ouvido pelo rádio, hoje de manhã, o seu comentário, com sotaque característico de radialista. Lá em casa tb tinha uma TV Colorado RQ. Era só preto e branco mesmo. Tb li na Folha a enquete do Tostão sobre a seleção de 70. Diante deste quadro da pandemia, parece que a fichinha ainda não caiu, mesmo para os dirigentes dos grandes clubes. Em qualquer situação, os fatos sociais só mudam mesmo com outros fatos sociais. A diferença é que hoje a corrupção virou um fato social com força de razão histórica, cabendo ao Estado repensar, sem impor normas, para o bem de sua eficácia administrativa, sem cair no ridículo da dominação.”

Ghander Borges

22 de junho, 2020 | 17:41

“O mais importante de toda reportagem, foi a lembrança e respeito de vc para com seu pai. Isto e' que move o ser humano. O resto são detalhe.Vc sempre lembra dele. Abraços”

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